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Brasileiras denunciam burocracia e negligência da Justiça americana

As duas perderam os filhos para ex-maridos e afirmam terem sido vítimas de violência doméstica. Elas agora vão recorrer a grupos de direitos humanos

Joselina Reis

Brasileiras denunciam burocracia e negligência da Justiça americana
Patricia Santos                                                 Samara Villar

O que começou como romance acabou na corte e com duas mães brasileiras sem seus filhos. Patrícia Santos, de 44 anos, e Samara Villar, de 32 anos, reclamam da falta de ajuda que a justiça americana tem prestado às duas, assim como da burocracia e negligência por parte de oficiais de justiça, do Departamento de Apoio à Criança e Família (DCF) e até do Consulado Geral do Brasil em Miami.

Patrícia, que casou com o americano Michael Cohen em 2000 e tem uma filha de 12 anos, luta na justiça desde 2008 para conseguir o divórcio. No processo, perdeu a guarda da filha e só teve seu divórcio aceito em agosto de 2013 para poucos dias depois ter o veredito revogado pelo próprio juiz da corte de Fort Lauderdale. “Não entendo como isso é possível, principalmente depois de toda violência doméstica que sofri”.

A mineira, que está nos EUA há 23 anos, afirma que o marido forçou a filha a acusá-la de maus tratos. A falsa denúncia fez com que a justiça limitasse suas visitas à garota e só as permitisse se Patrícia pagasse os serviços de um agente que servia de acompanhante. “Eu quero justiça no meu caso, quero a verdade”, reclama, afirmando que a filha foi coagida e pode até ter sido vítima de abuso sexual por parte do pai.

Patrícia garante que por várias vezes tentou provar em audiência na corte americana que sofreu violência doméstica e que o marido, preso três vezes por isso, não poderia ter a guarda da filha. No entanto, acredita a brasileira, ela tem sido vítima de discriminação por parte da justiça americana e da influência da família do ex-marido. “Não vou parar de exigir meus direitos. Próxima atitude será recorrer às autoridades de direitos humanos”, anunciou.

Na batalha pelo direito de reaver a filha e conseguir o divórcio, Patrícia conheceu outra brasileira em situação semelhante. Samara Villar, de 32 anos, tem as mesmas queixas contra a justiça americana e também contra o Consulado Geral do Brasil em Miami. As duas seguem juntas agora para denunciar os abusos cometidos por advogados, DCF e corte americana.

Samara casou no Brasil com o peruano, naturalizado americano, Bacilio Alexander Villar, em 2010, mas desde que resolveu morar com ele em Miami sua vida mudou radicalmente. Além de agredi-la fisicamente, Samara afirma que o ex-marido tem um comportamento estranho com a filha de quatro anos. “Por várias vezes ele se recusou que eu dormisse no mesmo quarto que ele e a menina ocupavam”, conta, acrescentando ter presenciado a garota reclamar de ferimentos.

A brasileira, que é de São Paulo, reclama ainda que funcionários do DCF não prestaram a devida atenção ao caso e sua advogada abandonou o processo. Depois de passar seis meses em um abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica e várias audiências na corte, ela acabou perdendo a guarda da filha em julho deste ano. A menina agora mora com o pai. “Eu só posso ver minha filha se estiver acompanhada e em um local com câmera”, reclamou.

A paulista enumera uma série de erros em seu processo que levaram a corte a julgar o caso em favor de seu ex-marido. Entre eles, a estranha recusa por parte de Bacilio de que a filha passasse por uma avaliação psicológica, o fato de que ele tem problemas psicológicos por ser ex-veterano e de distribuir material pornográfico pela internet.

Consulado

Procurado pelo jornal AcheiUSA o consulado Consulado-Geral esclareceu que vem prestando toda a assistência consular possível à brasileira Samara Villar, em conformidade com as normas do serviço consular e jurídico brasileiro. “Desde que foi procurado, o Consulado-Geral manteve contato constante com a nacional por meio de telefonemas e de mensagens eletrônicas (há, nos assentamentos desta Repartição, mais de 50 e-mails trocados em atenção ao caso)”, disse a nota.

Ainda de acordo com o email enviado pela assessoria do órgão, o Consulado-Geral esclareceu que há limites para a sua atuação. “Em particular, foi-lhe reiteradamente comunicado que a Repartição não tem meios e não pode interferir e influenciar decisões da justiça norte-americana.”

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