Histórico

Brasileiro acusado de golpe admite culpa através de carta

Antonio Couto Falcão. Este é o nome do homem acusado de dar desfalque em várias pessoas no sul da Flórida, entre brasileiros e americanos. Em uma carta melodramática (ver trechos a seguir) escrita para sua mulher, Maria José (Zeza) Rosa, ele admite ter vivido num mundo de fantasia – um mundo, aliás, criado por ele, que arrastou dezenas de incautos que viram suas economias se evaporar do dia para a noite.

Pois é, esta é mais uma história de um aventureiro que, com sua lábia, enganou quem se deixou levar por um discurso de que ele seria rico e um emérito investidor. Assim, confiaram a ele o dinheiro, ganho com o próprio suor, para que ele pudesse investir sabiamente e obter rendimentos acima daqueles pagos pelo mercado financeiro americano.

Aí está a chave do sucesso do estelionatário. Ele apostou na ganância daqueles que anteviram a possibilidade de lucrar de maneira rápida com investimentos. Mais uma vez, vale o ditado: se a esmola é demais, o santo desconfia. Hábil, soube conquistar a confiança das pessoas, sobretudo de Wanderley Oliveira, proprietário do Restaurante Oba Oba, que indicou diversas pessoas para Falcão, o qual lhes prometeu remeter dinheiro para o Brasil pagando taxas superiores às empresas de remessas já estabelecidas no mercado.

Vítimas

Ainda atônito com a situação, Oliveira está calculando o tamanho do prejuízo. “Dinheiro meu, ele pegou cerca de US$ 80 mil, só de promissórias e cheques o valor é de US$ 41 mil. Além disto, fiquei com US$ 106 mil, só de remessas”, explica o empresário, que faz questão de esclarecer: “Nunca indiquei ninguém para investimentos. Apenas para remessas”.

Mas como alguém pode acreditar em quem mal conhece? Ele usou sua habilidade para iludir a todos. Dizia ser dono de uma empresa de caminhões, com uma frota de 60 veículos, e atuar no segmento de foreclosure, onde comprava imóveis a preços irrisórios para depois revendê-los a preços de mercado.

E entrou no ramo de remessas de valores simplesmente porque dizia ter dinheiro no Brasil e precisava de dólares para atuar aqui nos EUA. Ou seja, se dizia possuidor de um bom capital em reais, portanto, com as pessoas lhe dando dólares ele os mantinha consigo e cobria a conta dos remetentes no Brasil com os reais que já estavam em sua conta lá mesmo.

E assim foi feito. Por duas vezes, pagou os juros prometidos aos remetentes e todos ficaram felizes. E as taxas que ele prometia eram realmente tentadoras. Segundo papéis em poder de Oliveira, as taxas, em reais, a serem pagas nos dias 3, 6, 13 e 17 de julho eram R$ 2,09, R$ 2,11, R$ 2,13 e R$ 2,14 respectivamente. “Ele oferecia uma oportunidade maior, aí é que fui usado”, lamenta-se o dono do restaurante localizado em Deerfield Beach.

Golpista escolado

Além de ter cumprido com o prometido nas primeiras vezes, as evidências indicavam ser Falcão mesmo um homem de posses. Gastava bastante nos restaurantes e dava gorjetas generosas para os garçons e garçonetes, fazendo com que todos o julgassem um sujeito rico e simpático, além de esbanjador. Claro, esbanjava o dinheiro que não era dele. Dizia, ainda, ser sócio de um americano chamado Chris Kasalla, de quem pegou cerca de US$ 500 mil.

Além de ter lesado Oliveira e alguns funcionários do Oba Oba – Girlenna Dantas, 42 mil dólares, e Fernando Segundo, 7 mil dólares –, Falcão hipotecou a casa da cunhada (irmã de Zeza), que tem câncer e embolsou US$ 200 mil. “Parece coisa de novela”, comenta Oliveira, ainda incrédulo.

Um rapaz que também trabalha num restaurante brasileiro, que preferiu não se identificar, perdeu mais de 15 mil dólares. “No início investi pouco e cheguei a ganhar os rendimentos que ele prometeu. Depois, resolvi colocar todas as minhas economias nessa ‘roubada’ e perdi tudo. Não sei o que vou fazer agora, mas se resolver alguma coisa denunciar este pilantra à Polícia eu vou”, disse o garçom.

O que fica difícil de compreender é como alguém pode acreditar que um sujeito deste possa competir com os grandes bancos e companhias de remessas e oferecer taxas mais compensadoras. “Ele comentava ter apartamentos obtidos com foreclosure e podia fazer este tipo de investimento. O pior é que fazia sentido”, afirmou Oliveira.

No ano passado, sumiu US$ 12 mil do restaurante. Hoje, Oliveria e os funcionários desconfiam ter sido Falcão o autor do furto, porque não houve arrombamento nem fechadura forçada. Ele pode ter se aproveitado da amizade, porque certa vez chegou mesmo a tomar conta do restaurante quando Wanderley Oliveria precisou viajar para o Brasil. Sabe-se agora que ele também já havia dado golpes de estelionato no Brasil e na Argentina.

Polícia

Oliveira foi à polícia do condado de Broward para denunciar Antonio Falcão como estelionatário, mas não conseguiu impedir seu retorno ao Brasil. Sua esperança é a de que a Interpol entre no circuito e as polícias dos dois países possam capturar o autor dos desvios financeiros. Ele se dispõe até mesmo a ir ao Brasil e participar dos programas Cidade Aberta e Linha direta para alertar a população sobre os riscos e divulgar o nome e a cara do estelionatário.

Outra coisa que deixa Oliveira intrigado é o fato de que o cunhado de Falcão, Eduardo Lucas, o levou para o aeroporto, mesmo sabendo o teor da carta em que Falcão admitia não ter como pagar as pessoas e ser um mentiroso. E na noite anterior ainda recolheu US$ 18 mil no próprio restaurante, dinheiro que seria de remessas. “A razão dele ter concordado em levá-lo para o aeroporto é que eu não entendo. Ele me disse também ter sido vítima e perdido US$ 100 mil. Por que, então, não evitou que ele deixasse o país? Isto é que não compreendo”, indaga-se o empresário.

Agora Oliveira está preocupado em levantar um empréstimo para cobrir o débito com as pessoas que confiaram a Falcão seu dinheiro para remessas (mais de US$ 100 mil). “Quero fazer isto para preservar meu nome, porque o advogado me disse que eu nem precisaria arcar com este prejuízo. Mas estou determinado a ressarcir as pessoas, nem que para isto precise hipotecar minha casa ou vender o restaurante”, finalizou.

Trechos da carta

Leia a seguir, alguns trechos da suposta carta deixada por Antonio Falcão para a mulher, Zeza:

“Apesar dos seus avisos, caio nos mesmos erros: mentiras, ilusões, megalomania, maníaco depressivo ou o que você quiser chamar. Desde 2003 tenho vivido uma vida falsa”

“A realidade é que não sou nada, não tenho nada, a não ser uma mente perturbada, vivendo uma mentira que um dia eu sabia que ia chegar ao fim, como já aconteceram outras vezes”

“Muita gente ganhou dinheiro comigo. A maioria vai dizer que não, mas a verdade é que sim. Mas nessa hora, nada disso conta”

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