Histórico

Brasileiro comanda curso de jornalismo da FIU

Raul Reis assumiu recentemente a reitoria da Escola de Jornalismo da Florida International University (FIU)

Antonio Tozzi

Um repórter eclético tem muito a ensinar para a nova geração de jornalistas. E ensinar foi a missão escolhida pelo paraense Raul Reis, que trocou o Brasil pelos Estados Unidos, trazendo consigo a paixão pelo jornalismo, que o levou ao cargo mais alto na escola de jornalismo da Florida International University.

Depois de uma carreira bem sucedida em vários órgãos de imprensa brasileiros, Reis veio para os Estados Unidos para aperfeiçoar seus conhecimentos. Aqui, acabou descobrindo uma vocação que desconhecia: a vida acadêmica. Decidiu, então, radicar-se no país e hoje é um dos mais conceituados professores da área no sul da Flórida.

Acompanhe a seguir uma entrevista do AcheiUSA com o novo chefe da Escola de Jornalismo da Florida International University (FIU).

AcheiUSA – Inicialmente, o sr. Poderia fazer um breve resumo de sua carreira, desde o começo no Brasil como repórter?
Raul Reis – Eu sou natural de Belém do Pará, e comecei minha carreira como jornalista em Belém. Trabalhei como repórter no jornal O Liberal, o jornal de maior circulação de Belém na época. Em Belém, trabalhei também na Rádio Cultura do Pará, como produtor e apresentador, e na TV Liberal, afiliada da Rede Globo, como repórter televisivo. Em São Paulo, trabalhei em uma revista mensal especializada em meio ambiente, e depois como editor assistente e repórter especial do jornal Gazeta Mercantil. Como jornalista, trabalhei em editorias bem diversas, como esportes, política, geral, ciência e meio ambiente.

AU – Como veio parar nos EUA e por que motivo decidiu ficar aqui? O sr. Trabalhou em publicações americanas ou atuou somente na área acadêmica aqui?
RR – Vim para os Estados Unidos em 1992, fazer mestrado em Comunicação Social na Kansas State University, onde obtive meu diploma em maio de 1994. Enquanto fazia meu mestrado, trabalhei também como repórter no jornal Manhattan Mercury, o jornal diário de Manhattan, KS. Vim para os EUA com uma bolsa do Rotary International, e depois obtive uma bolsa da própria universidade (KSU). Minha intenção era retornar ao Brasil e continuar trabalhando como repórter, mas gostei muito do meio acadêmico, de ensinar alunos na sala de aula, e de fazer pesquisa acadêmica. Decidi então prosseguir meus estudos de pós-graduação, e fazer meu Ph.D. Na University of Oregon, em Eugene. Em Seattle, trabalhei como copy editor do jornal Seattle Post-Intelligencer.

AU – Na condição de Dean (reitor) na FIU e com experiência em várias universidades do país, como compara a formação profissional dos alunos de jornalismo do Brasil e dos Estados Unidos?

RR – A grande diferença que eu percebo é que os cursos de jornalismo no Brasil tendem a ser mais práticos, com muitos mais cursos obrigatórios focalizados na prática jornalística. Nos EUA, a educação é mais geral e balanceada, com um grande número de cursos voltados às “liberal arts” e outros focalizados na prática jornalística. Acho que a educação americana procura ser mais equilibrada entre uma educação geral e a educação mais prática.

AU – Em termos de atuação profissional, o sr. Considera que há grande diferença entre os jornalistas daqui e do Brasil? Se houver, quais seriam?

RR – Não acho que haja tanta diferença entre jornalistas brasileiros e americanos. Talvez no Brasil se encontre mais jornalistas com diploma de jornalismo do que nos EUA. Aqui a prática do jornalismo por profissionais com diplomas de outras áreas é mais aceita.

AU – Aqui é preciso fazer escola de jornalismo para exercer a profissão ou basta somente ter aptidão para esta atividade e aperfeiçoá-la no trabalho diário?

RR – Não é preciso fazer escola de jornalismo para ser jornalista nos EUA. No Brasil, costumava ser lei trabalhista, mas a lei foi derrubada na Justiça há alguns anos. Agora, não é mais preciso ter diploma de jornalista para trabalhar como jornalista no Brasil.

AU – Por falar nisto, como o sr. Vê a polêmica da queda da exigência do diploma de jornalista para trabalhar em atividades jornalísticas, como veículos de comunicação, assessorias de imprensa, diretorias de comunicação de empresas etc?

RR – Eu concordo com a não-exigência do diploma. O diploma de jornalista não garante a boa prática jornalística. As escolas de jornalismo cumprem um grande papel na preparação de jornalistas éticos e com amplo conhecimento e treinamento na profissão. Contudo, acho que devemos deixar ao mercado de trabalho determinar quem são os jornalistas competentes e capazes de exercer a profissão.

AU – Com o advento da Internet e das redes sociais como Facebook e ferramentas como blogs, Twitter e outras, de que maneira o jornalismo precisa reposicionar-se para não perder a hegemonia da informação ou, pelo menos, da informação fidedigna e correta? De que maneira estas ferramentas prejudicam e ajudam os profissionais de imprensa hoje, em sua opinião?

RR – O jornalismo precisa usar todas a ferramentas tecnológicas disponíveis para fazer com que as mensagens importantes e necessárias cheguem à população. Não podemos descartar todo o aperfeiçoamento profissional pelo qual passou o jornalismo nos últimos 200 ou 300 anos. Contudo, o jornalismo precisa abraçar as novas tecnologias e usá-las da melhor forma possível.

AU – O sr. Está alinhado com a corrente que prevê a extinção dos veículos impressos em algumas décadas ou acredita que ele possa sobreviver? Neste caso, qual seria a função destes órgãos? Posicionar-se mais como veículos de análises e debates?
RR – Acho que o jornalismo impresso vai sobreviver, mas adotará um caráter diferente nas próximas décadas. Sim, as notícias mais imediatas chegarão ao público através da Internet e dos smartphones e tablets, mas uma grande parcela da população ainda vai fazer uso de veículos de comunicação que “provide” informação mais “in-depth” e analítica.

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