Felipe Matos vai percorrer 1.500 milhas por cinco estados americanos e chamar a atenção para a necessidade de mudanças na lei. Iniciativa recebeu nome de “Caminho dos Sonhos”
O carioca Felipe Matos, de 23 anos e há nove morando em Miami, se formou no High School com honras e méritos e recebeu convites de várias universidades nos Estados Unidos, mas mesmo assim não está cursando faculdade. Por ser indocumentado, o brasileiro não tem as mesmas oportunidades dos cidadãos americanos, apesar das boas notas e do inglês fluente. Esta é apenas uma das muitas injustiças de uma lei imigratória desatualizada e ingrata com quem veio em busca do sonho americano.
Para chamar a atenção dos congressistas e da população de um modo geral sobre o problema enfrentado por cerca de 12 milhões de imigrantes nos EUA, Felipe e outros três amigos resolveram tomar uma decisão radical, que vai exigir muito sacrifício nos próximos quatro meses: o grupo saiu de Miami no dia 1º de janeiro em direção a Washington DC e vai percorrer as 1.500 milhas até a capital em uma caminhada para pedir pela reforma imigratória. A iniciativa, que recebeu o nome de ‘Trail of Dreams’ (ou ‘Caminho dos Sonhos’), deve terminar no dia 1º de maio, em frente ao Congresso Nacional, como parte das muitas manifestações organizadas pelo Dia do Trabalho.
“Este não é apenas o meu sonho, mas de milhões de pessoas cujas famílias estão sendo separadas em função de uma lei arcaica”, afirmou Felipe, no sexto dia de caminhada, em Boynton Beach. No trajeto, os ativistas – que fazem parte da entidade ‘Students Working for Equal Rights’ – vão conversar com a população e autoridades com o objetivo de mudar o conceito que muitos têm dos indocumentados. “Somos seres humanos, só não temos green card”, disse o brasileiro, que na escola foi presidente do grêmio estudantil e recebeu prêmios pelo desempenho na sala de aula.
Além de Felipe, integram a comitiva do ‘Trail of Dreams’ o colombiano Juan Rodríguez, o venezuelano Carlos Roa e a equatoriana Gabby Pacheco, todos entre 22 e 24 anos de idade. Eles admitiram que ficam assustados quando recebem a notícia de que amigos foram deportados. “E isso está ficando cada vez mais comum em nossas comunidades”, lamentou o carioca. O grupo quer inclusive se encontrar com o presidente Barack Obama, especialmente para pedir que o governo ordene uma pausa na detenção de indocumentados.
A caminhada vai percorrer cinco estados até chegar à capital – Flórida, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte e Virgínia. Serão cerca de 17 milhas por dia, debaixo de sol, chuva e, quem sabe, até neve. As bolhas nos pés já começaram a aparecer e o cansaço já toma conta do corpo, mas não pensam em desistir. Para eles, a dor de uma mãe que é separada de seus filhos por conta de uma deportação é muito maior – e é também por estas pessoas que os quatro estudantes estão se sacrificando.
Na primeira semana, eles já tiveram o gostinho do inverno americano, mesmo no sul da Flórida, com temperaturas perto de zero grau, mas sabem que vão enfrentar ainda muitos outros desafios. Um deles é passar por regiões onde os imigrantes definitivamente não são bem-vindos, como no interior da Carolina do Sul, onde ainda existem simpatizantes do grupo Ku Klux Klan. “Nossas ações não estavam mais dando resultado, por isso decidimos fazer algo realmente impactante, que certamente envolve riscos”, explicou Felipe, que nas pausas da viagem se hospeda em igrejas, associações de direitos humanos e até nas casas de ativistas.
No caminho, o brasileiro vai manter o público informado sobre as ações do grupo até Washington DC em um site (www.trailofdreams.net). Lá é possível encontrar fotos da caminhada, a biografia dos ativistas e até maneiras de ajudar com a causa, que no final das contas e de todos nós, imigrantes. E aqui no AcheiUSA a comunidade brasileira vai acompanhar de perto as informações sobre o ‘Trail of Dreams’, torcendo para que tenhamos boas notícias ao final da iniciativa.