Histórico

Brasileiros vivem como mendigos nas ruas da Flórida

Contingente dos sem-teto tem aumentado

Por mais absurdo que possa parecer, muitos outros brasileiros vivem o mesmo drama de Reinaldo aqui no país das oportunidades. Gente que, por falta de amor-próprio ou mesmo de uma mão amiga, está excluída da sociedade e sequer tem um teto como abrigo. O também mineiro Ribamar é mais um da nossa comunidade que atravessa momento degradantes e, há pelo menos cinco semanas, vagueia pelas ruas de Fort Myers. “Ele costuma bater à minha porta todo final de tarde para receber um prato de comida”, diz Ana Lúcia Tavares, sócia de um restaurante brasileiro na cidade e que ajuda o rapaz sempre que pode.

Ana conta que, vez ou outra, procura puxar conversa com Ribamar para saber o que desandou na sua história. “Ele normalmente não quer papo, mas confessou certa vez que perdeu a família em um acidente de carro e, desde então, não se recuperou da tragédia. Só disse que nasceu em Governador Valadares e trabalhava como entregador de pizza antes da opção em se tornar um homeless”, lembra a brasileira. Isso mesmo: Ribamar já foi levado a um centro público que atende a mendigos, mas abandonou o local e teria dito que prefere viver nas ruas.

Outro brasileiro, Marcílio Silva, de Itaomi (MG), teve uma trajetória semelhante. Depois de viver nas ruas por algumas semanas, ele foi resgatado por um grupo de ajuda e passou um tempo longe dos vícios. No entanto, pouco depois preferiu voltar aos biscates e, à margem da decência e do bem-estar, caiu em desgraça. “Finalmente consegui reunir forças para procurar ajuda e agora quero reconstruir meu caminho, ter uma família. Estava cansado daquela vida de incertezas”, admite Marcílio, de 29 anos.

“Sei que cheguei àquela situação por traumas que tive na infância e adolescência, mas cada um tem a sua história. O importante é que cada um perceba que há meios de sair do buraco”, afirma Reinaldo, hoje vice-presidente da Casa de Recuperação El-Shaddai (ver box). Além de ter se livrado “definitivamente” das drogas, ele ajuda outros internos da instituição, que tem outros dois brasileiros encontrados nas ruas e agora podem vislumbrar um futuro melhor. Além deles, um americano e um latino também participam das atividades da Casa, cujo programa de ressocialização dura nove meses.

O sociólogo e professor universitário Jaime Velasquez, um mexicano que leciona numa Universidade de São Paulo, mas freqüentemente vem fazer palestras na América, ressalta que muita gente não acredita que os Estados Unidos possua uma legião tão grande dos chamados ‘sem-teto’. “O número de mendigos tem aumentado, especialmente em cidades grandes da Flórida, onde o clima favorece a permanência nas ruas durante o ano todo. A crise deve aumentar esse contingente, especialmente entre os imigrantes, já que muitos deles se recusam a voltar ao país de origem apesar das dificuldades”, afirma.

Para se ter uma idéia, as estatísticas oficiais do condado de Palm Beach, considerado um dos mais ricos do país, mostram que há mais de três mil mendigos vagando pelas ruas. Quem passa pelos cruzamentos do condado já pôde conferir que muitos deles costumam pedir dinheiro e comida nos sinais de trânsito. Não descarte a possibilidade de, ao encontrar alguns desses pedintes, ouvi-lo falando português.

Em Fort Myers, casa de recuperação resgata a dignidade de quatro internos

A Casa El-Shaddai é uma entidade filantrópica e mantém um trabalho de recuperação de moradores de rua, a maioria deles ex-usuários de drogas e ex-alcoólicos. No local – em Fort Myers – estão hoje quatro internos, dois deles brasileiros, que são submetidos a um programa de nove meses, em três fases: desintoxicação, resgate da auto-estima e ressocialização.

O responsável pelas atividades é o brasileiro Jefferson Rosa e sua esposa, Kelin. Eles cederam a própria casa para abrigar os internos e, com a ajuda de verbas da comunidade, empresários e campanhas nas igrejas da região mantêm a esperança para um grupo de pessoas que já havia desistido de viver. “A rotina inclui leitura bíblica, terapia ocupacional, alimentação saudável e a confecção de produtos para venda entre a população”, destaca Jefferson, ele próprio um ex-viciado. Natural de Santa Catarina, ele está na América há 10 anos.

Nas últimas semanas, os internos têm construído estrados de madeira (pallets) e o dinheiro arrecadado com a venda é sempre revertido para a instituição. Mesmo assim, o grupo ainda depende de doações da comunidade, já que as despesas atualmente ultrapassam os quatro mil dólares que normalmente são arrecadados. Os interessados podem colaborar através do telefone (239) 645-6095, em Fort Myers, ou fazendo depósito diretamente na conta da Casa El Shadai, no Bank of America: 898000189890.

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