Histórico

Café Brasil: uma década de boa música no Sul da Flórida

Há 10 anos na rádio FM, programa comandado por Gene de Souza é referência da MPB

Por: Carlos Wesley

Desde Carmen Miranda, passando por Tom Jobim e chegando hoje a Michel Teló, artistas brasileiros fazem sucesso no mundo seja pela sua qualidade artística, seja fruto das suas melodias comerciais. A verdade é que existe um público cativo e apaixonado pela música do nosso país. Pensando nisso, o produtor carioca Gene de Souza lançou, em 2002, o programa ‘Café Brasil’ na rádio WDNA (FM 88.9 no dial), levando para os ouvintes, todos os domingos, entre 6pm e 8pm, o melhor da MPB, bossa nova, rock nacional, samba e qualquer outro estilo essencialmente brasileiro. Os 10 anos do programa merecem ser comemorados, até porque a data consolida a posição de Gene de Souza como um dos grandes embaixadores da música brasileira “senão o maior nos Estados Unidos.

“Minha missão, desde o início, foi divulgar os artistas brasileiros, especialmente aqueles que não tiveram sua arte lançada no exterior e, por isso, são desconhecidos da maioria de americanos e latinos daqui. É gratificante perceber que o objetivo vem sendo alcançado, pois o número de pessoas comparecendo aos shows de música brasileira tem aumentado”, afirma Gene, em entrevista ao AcheiUSA pelo telefone. A resposta ao programa é fantástica, tanto que o Café Brasil é líder de audiência da WDNA aos domingos e tem o segundo maior número de ouvintes da rádio nos fins de semana. E estamos falando de uma emissora que mantém cerca de 100 mil ouvintes por mês e um alcance que se estende de Miami-Dade a Broward.

E tudo começou quase por acaso: Gene trabalhava numa empresa de seguros e, fã de jazz, estava sempre ligado na WDNA, uma rádio pública. “Ouvi no ar que eles precisavam de voluntários e, na mesma hora, me ofereci para ajudar, recorda o produtor, que já tinha uma experiência anterior como radialista na emissora universitária em Richmond, na Virgínia, onde estudou Relações Internacionais. Como apresentador de um programa de jazz latino, ele começou a inserir no seu playlist, em meio a hits de Tito Puente e Arturo Sandoval, algumas músicas brasileiras, principalmente instrumentais, de sua própria discoteca (ou cdteca). A reação do público foi tão favorável que a criação de um programa só com os ritmos do nosso país era uma questão de tempo e de convencer a diretora da rádio que o segmento merecia um horário próprio.

Além de música de qualidade, as duas horas em que Gene de Souza está no ar são dedicadas também a entrevistas com músicos que, eventualmente, estão visitando o sul da Flórida para shows e eventos. Ele lembra, por exemplo, da presença no estúdio de Milton Nascimento e dos integrantes do Jobim Trio, que, entre uma canção e outra, lembraram um dos momentos mágicos da música brasileira: o início da bossa nova. “Foi legal porque os ouvintes puderam conhecer um pouco da história, a partir do depoimento de pessoas que viveram essa história”, ressalta o produtor. Gene também destaca o dia em que recebeu Jorge Benjor: “Fomos percorrendo sua carreira através dos CDs e ele ia contando experiências das gravações ou de como compôs determinadas letras”, disse. Enfim, um programa leve, gostoso e intimista, como o rádio deve ser.

Mas nem só de grandes estrelas brasileiras que fazem sucesso internacional vive o Café Brasil. Gene é conhecido também pela força que dá aos músicos locais, que sempre têm lugar cativo no programa. Contribui para isso o que ele próprio chama de”processo de profissionalização” cada vez maior dos músicos brasileiros aqui nos Estados Unidos. “Existem artistas como Rose Max, Ramatis Moraes, Mônica da Silva, Diogo Oliveira, Clube do Choro de Miami e muitos outros, que levam sua arte a um público mais amplo, além da nossa comunidade”, descreve o produtor, sem desmerecer o valor daqueles que fazem da música apenas um apenso da vida, pois precisam trabalhar em outras áreas para sobreviver. E esse apoio ficou claro na comemoração do 10º aniversário do Café Brasil, onde os músicos locais são as grandes atrações dos shows. “Só aqui no sul da Flórida temos representantes de praticamente todos os estilos musicais brasileiros. Por isso, essa celebração é tão eclética quanto a música brasileira”, afirmou.

A diversidade, aliás, é uma das marcas do programa. A cada semana ele tenta apresentar novidades aos ouvintes, mas desde que tenham as características autênticas da música brasileira. Ou seja, não há espaço para canções cantadas em português, mas com roupagens estrangeiras. “Tocamos MPB, bossa nova, pop rock, regionalistas… Enfim, vários estilos, sem preconceito”, garantiu Gene. “E Michel Teló?”, provoquei. O apresentador do Café Brasil não fugiu da polêmica sobre o paranaense que estouras nas paradas de sucesso: “Não toquei ainda, mas não teria problema de incluir no repertório da rádio, pois acho que o hit ‘Ai se eu te pego’ tem uma pegada do sul do Brasil, com sanfona gaúcha. É bom ver artistas de fora do eixo Rio de Janeiro/São Paulo/Bahia/Brasília fazendo sucesso no mundo”, decretou Gene, um fã confesso também de jazz, heavy metal e rock dos anos 70.

E assim o Café Brasil vai conquistando novos ouvintes, numa trajetória que merece aplausos. Em relação ao futuro, Gene pretende firmar novas parcerias, em especial em outros estados, que já acompanham a programação da rádio pela internet ou através da página no Facebook.”E também receber cada vez mais os músicos aqui em nosso estúdio, ainda mais agora que há um novo espaço para pequenos shows”, conta.

Para finalizar, vale utilizar uma frase do baixista Diogo Oliveira na matéria sobre os dez anos do programa, publicada no jornal Miami Herald, quando perguntado sobre a importância do Café Brasil: “Não há melhor lugar para aprender sobre música brasileira e nosso país”, disse o músico. Assino embaixo.

PROGRAMAÇÃO:

Shows em comemoração ao 10º aniversário do Café Brasil
21 de abril – 1pm
Clube do Choro de Miami
Boteco (916 NE 79th Street, Miami)

26 de abril – 8pm
Rose Max & Ramatis
Pax (337 SW 8th Street, Miami)

Obs: Antonio Adolfo, Monica da Silva e o Batuke Samba Funk já se apresentaram dentro da celebração dos 10 anos

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