Histórico

Carnaval é importante?

Antonio Tozzi

Quem não se lembra do famoso verso da música País Tropical de Jorge Bem, que diz: “Em fevereiro tem Carnaval….”. Pois é, o Brasil é dividido pelo período pré e pós-Carnaval, ou seja, antes da vinda do Reinado de Momo nada de importante é feito no país, e tudo é adiado para o período que abre a Quaresma no calendário religioso.

Mas será que deveria ser assim? O Carnaval é mesmo tão importante? Algumas questões precisam começar a ser respondidas para que o Brasil venha um dia a ser respeitado como um país sério. Claro, que não podemos desconsiderar a data como um importante evento no calendário de festas brasileiras, porém, condicionar as principais decisões ao encerramento da folia me parece um bocado descabido.

Este ano, por exemplo, o Carnaval sequer será comemorado em fevereiro, uma vez que seu início é em 1º de março. E a quem interessa este frenesi carnavalesco a não ser para um punhado de sambistas e carnavalescos, para algumas celebridades (algumas, por sinal, de valor bem discutível), para os marqueteiros de cervejarias, para os cinegrafistas e fotógrafos em busca de poses sensuais e/ou inusitadas, e para a mídia que se concentra em badalações.

A lista pode parecer longa, mas, acredite, envolve muito pouca gente dentro de um universo de 200 milhões de habitantes que compõem o Brasil. Este ano, particularmente, tende a ser peculiar por causa dos eventos programados. Após o Carnaval, vem a Semana Santa (como sempre) e depois o país começará a respirar o clima da Copa do Mundo, que é uma incógnita, menos pelos resultados no campo de jogo e muito mais pelo ambiente de descontentamento de uma parte de brasileiros com o evento. No final do ano, novamente eleições gerais, algo que se prenuncia uma repetição do déjà vu, com as mesmas figuras sendo reeleitas por eleitores com pouca ou nenhuma consciência política.

Apesar de já ter curtido Carnaval e não ser um inimigo da festa popular, algo sempre me intrigou. Por que temos a necessidade de sermos alegres – e alguns até mesmo libertinos – durante o Carnaval? Por acaso as pessoas deixam seus sentimentos de lado por causa de uma data no calendário? Ou então esquecem que a vida continua após os festejos e ficam arrependidas por terem feito coisas que normalmente não fariam?

Isto contrasta com a outra ponta na qual os religiosos abominam a festa ao qualificá-la de pagã e uma ode a Satanás. Por isto, trocam as fantasias, as serpentinas e os confetes pela leitura da Bíblia em um retiro espiritual para mergulhar nas graças de Deus. O Carnaval é, portanto, um anátema aos infieis, na visão dos ultra religiosos cristãos.

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Pouco a pouco muitas pessoas estão trocando a ida às avenidas ou aos clubes por uma viagem de férias. Entretanto, como muitos têm a mesma ideia, as estradas ficam superlotadas e o lazer torna-se um suplício. Aí, é um tal de faltar água, não haver muito espaço na areia para os banhistas e restaurantes com filas de espera. O contratempo pode ainda ser pior se houver algum problema mecânico na estrada ou se o turista for surpreendido pelos amigos do alheio tendo a casa que alugou roubada ou, pior ainda, sendo assaltado a mão arma nos infindáveis engarrafamentos.

Para nós que vivemos nos Estados Unidos a folia resume-se a assistir aos desfiles das escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo e do Rio de Janeiro porque aqui o Carnaval é totalmente irrelevante, exceção feita à New Orleans, que comemora o evento com música ao vivo, fantasias, miçangas e, em muitos casos, com pouca roupa, porque é comum moçoilas nas sacadas dos hotéis da cidade conhecida como Big Easy levantarem as blusas para deixarem os seios à mostra.

Ou seja, aqui não podemos nos fantasiar de Arlequim, Pierrô, Colombina ou Odalisca porque já nos basta a fantasia de imigrante que faz qualquer um vesti-la com dignidade o ano inteiro. Em vez do tamborim, pincel para pintar casas; no lugar do surdo de marcação, serra para cortar mármore; a sandália cor de prata é substituída pela vassoura e o samba enredo é orientar os filhos para evitar más companhias.

Pelo menos nesta era digital, os fãs de Carnaval podem observar pelo Facebook e pela Internet como está sendo a folia nas diferentes cidades brasileiras, sobretudo na cidade natal, onde os amigos e os familiares estão divertindo-se.

Para alguns, o negócio é ficar ligado na folia mesmo a milhares de quilômetros. Já para outros, perder a festa de Carnaval não representa nenhum problema.

Portanto, a pergunta que fica para cada um é a seguinte: valeu a pena trocar tudo que o Brasil me dava por uma oportunidade nos EUA? Se a resposta for positiva, mantenha-se firme. Caso seja negativa, reserve logo uma passagem de volta antes que o saudosismo se torne incurável.

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