Histórico

Casal de brasileiros organiza ONG para ajudar pessoas carentes no Haiti

Guiga e Léo Vieira visitam o país a cada dois meses levando remédios e outra coisa bem valiosa: esperança

Joselina Reis

As crianças são as mais necessitadas
O atendimento aos necessitados é feito em locais improvisados

Em meio à vida agitada e indiferença de muita gente, um casal de brasileiros faz o que parece anormal: ajudar os outros em tempo integral sem ganhar nada por isso. A assistente social Guiga Vieira e o seu marido, o médico Léo Vieira, viajam a cada dois meses para uma das regiões mais pobres do mundo, o Haiti, para ajudar a população local levando remédios, brinquedos e, principalmente, esperanças de que é possível sobreviver no que restou de um país assolado por corrupção, desastres naturais, guerra civil e pobreza.

“Não existe coisa melhor na vida do que ajudar os outros”, afirma Guiga que não pára de enumerar tudo o que o povo haitiano precisa. “Uma coisinha que para você não é nada, lá, vale muito. Pode ser a felicidade de uma vida inteira”, argumenta Guiga que passa cinco dias com o grupo de voluntários ajudando quem precisa.

O grupo se hospeda em um orfanato onde conseguiram alugar uma sala para depósito. A maioria dos equipamentos médicos e as sobras de remédios ficam no Haiti a espera do próximo grupo. Essa vai ser a primeira vez que o People For Haiti vai levar um cirurgião para o Haiti. Muitas pessoas mutiladas ainda lidam com as sequelas deixadas pela guerra civil.

Desde que soube do terremoto que devastou a pequena ilha em 12 de janeiro de 2010, a brasileira, que já havia participado em outras missões de socorro em diversos países pelo mundo, resolveu ajudar. Primeiro, o marido foi convidado para integrar uma equipe de ajuda humanitária, logo a informação foi para seu blog e de repente toda a cidade de Trinity (perto de Tampa, onde o casal mora) estava sabendo de cada detalhe do trabalho da equipe de resgate e das necessidades do povo haitiano.

“As pessoas vinham até minha porta oferecendo dinheiro para compra de remédios”, lembra a brasileira ainda emocionada com a velocidade que a ajuda chegou e como ela e o marido fundaram a ONG People For Haiti (PFH). A entidade que surgiu de um blog, hoje tem banca de diretores, e leva, a cada dois meses, cerca de 15 pessoas voluntárias para ajudar crianças e adultos na ilha caribenha.

Cada pessoa desembolsa cerca de $1500 na viagem. Isso inclui alojamento, alimentação, passagem, tradutores, motoristas e seguranças.
Como a entidade é uma organização sem fins lucrativos, o valor investido pode ser abatido no imposto de renda nos Estados Unidos.

No dia 15 de maio, Guiga e o marido estarão chefiando uma equipe de 15 pessoas que embarcam para o Haiti ” esse é o 21º grupo desde o terremoto de 2010. Na bagagem, 26 malas gigantes, muitos remédios (eles levam os 30 tipos mais pedidos pelos médicos), óculos de sol (devido ao sol forte e sem condições de comprar um óculos de sol muitos desenvolvem cataratas), óculos de grau (muitas pessoas conseguiram ver pela primeira vez graças as doações de óculos adquiridos pela entidade nas farmácias da Flórida) e principalmente, muita esperança.”Eles pulam de alegria quando nos veem”, lembra a brasileira.

Todo o trabalho da ONG People Fort Haiti pode ser acompanhado diariamente no facebook de Guiga (Guigapfh) ou no website da entidade (www.peopleforhaiti.com). Os detalhes de como ajudar o grupo também estão no website. O 22° grupo está programado para embarcar em setembro de 2013.

Cada vez que o PFH chega à capital haitiana, Porto Príncipe, cerca de 1500 pessoas são beneficiadas – dessas 35% são crianças órfãs. Alguns ainda são vítimas do terremoto que matou seus pais e familiares, outras crianças foram abandonadas pelas mães que não têm condições de criar os filhos.

Nesses três anos de trabalho voluntário, Guiga colecionou histórias de ajuda humanitária nos Estados Unidos, vindos de total desconhecidos, e histórias de pessoas cujas vidas foram totalmente transformadas pelo trabalho do PFH. “Eu lembro que dois de nossos tradutores no Haiti, devido ao trabalho com o nosso grupo, conseguiram ir para faculdade e os outros continuaram na escola; eu lembro que sete crianças órfãs estão sendo adotadas por nossos casais voluntários e eu lembro ainda de um americano, que viu a reportagem sobre nosso trabalho e agora quer doar um ônibus. Eu tenho histórias para contar por uma vida inteira”, enumera a brasileira Guiga Vieira.

Primeira vez

A brasileira Claudia Chen vai participar pela primeira vez em uma missão do People For Haiti. Ela conta que a expectativa é grande. “Sempre quis ir, mas nunca surgiu a oportunidade. Dessa vez eu vou”, conta entusiasmada com a possibilidade de ajudar o povo haitiano.
Claudia vem acompanhando o trabalho do PFH desde o início e percebeu o quanto o grupo cresceu nos últimos anos e como o trabalho dos voluntários tem ajuda quem precisa. Ela cita o caso das jovens mães no Haiti, que de tão pobre abandonam seus filhos e o trabalho constante do grupo em orientá-las e oferecer assistência médica às crianças. “Quando acontece uma tragédia tem aquela comoção, todos ajudam, mas depois as pessoas pensam que as coisas voltaram ao normal. Não é o caso do Haiti. As pessoas lá continuam sem ter onde morar, sem comida, esses anos todos”, disse a brasileira que tem três filhas adolescentes e quer mostrar a elas a importância do voluntariado.

E é sobre a importância de doar um pouco de seu tempo aos outros que Claudia faz questão de ressaltar o lado positivo que isso podre trazer ao voluntário. “Quando a gente trabalha, às vezes nem sempre no que gosta, faz por dinheiro. Quando se é um voluntário se faz por amor. Todos deveriam fazer algum tipo de trabalho voluntário, até os que necessitam de ajuda”, orienta.

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