Histórico

Caso de americano deportado por engano vai virar livro

Polícia de imigração ignorou documentos e mandou cidadão que não fala espanhol e tem problemas mentais para o México

A história de Mark Lyttle vai para as páginas de um livro. Nascido na Carolina do Norte, ele precisou ser deportado duas vezes e rodar por diferentes países até conseguir provar que , de fato, é cidadão americano. O homem, de 32 anos e com histórico de problemas mentais, foi preso em 2008 pelo ICE, a polícia de imigração americana, e durante seis semanas foi deportado duas vezes e passou por diversos centros de detenção, inclusive em outros países, até ser abandonado em território mexicano sem dinheiro e sem falar uma palavra em espanhol.

A saga de Mark começou em setembro de 2008, quando ele foi detido por agentes do ICE, no estado da Geórgia. Os registros mostram que o americano disse em depoimento que havia nascido no Condado de Rowan (NC), mas – bipolar – também falou que era mexicano. Na época, as autoridades federais admitiram o erro cometido, mas novos documentos relativos àquela ocasião, inclusive o dossiê de 350 páginas preparado pelo Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security), demonstram que os agentes simplesmente ignoraram as evidências que comprovavam a nacionalidade de Mark – no caso, o socias securtity number e o nome dos pais. “Ninguém acreditou em mim”, conta Mark.

Falso testemunho

Os federais disseram que todo o problema foi causado por Mark. “Indivíduos que dão falso testemunho em depoimentos acabam dificultando a própria situação e, é claro, das autoridades”, disse o porta-voz do ICE, Ivan Ortiz-Delgado. Ele, porém, não explicou porque os agentes decidiram não investigar melhor os indícios, seja a certidão de nascimento no Condado de Rowan, seja um contato com familiares. Em um relatório, um dos policiais admite que, realmente, Mark falou que era americano, mas “não havia documentação que sustentasse tal afirmação”. A suposta cidadania mexicana foi estabelecida com base, apenas, no depoimento.

Saga de Mark Lyttle durou nove semanas

A deportação foi definida por uma corte de imigração de Atlanta, onde Mark vive, em audiência realizada no dia 9 de dezembro do ano passado. Menos de dez dias depois, ele embarcou em um avião da ICE Air (a fictícia companhia aérea que leva deportados de volta a seus países de origem) para o México. Antes da virada do ano, em 29 de dezembro daquele ano, o americano foi apanhado na fronteira, “em processo de auto-flagelação e mentalmente instável”. Foi deportado pela segunda vez.

Como não tinha documentos, Mark passou a viver uma odisséia internacional – e, o que é pior, sem tomar os medicamentos prescritos para seus problemas de saúde. As autoridades mexicanas mandaram-no para Honduras, onde ele passou alguns dias na prisão, antes de ser enviado para Guatemala. Somente no final de abril, Mark conseguiu chegar à embaixada americana em Guatemala City, onde finalmente alguém acreditou nas suas palavras e solicitou cópias da certidão de nascimento do americano para emissão de um passaporte. O irmão de Mark, que serve numa das bases do Exército dos EUA, mandou dinheiro para uma passagem de avião até Atlanta, onde mora a mãe adotiva de Mark.

Professora da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Jacqueline Stevens, tomou conhecimento do caso de Mark e começou a publicar o assunto em seu blog. Devido ao interesse do público e aos próprios acontecimentos, ela vai escrever um livro sobre a saga do americano deportado por engano. “Como pode alguém passar pelo que ele passou e só conseguir provar sua cidadania na Guatemala?”, indaga a acadêmica.

A história tornou-se ainda mais interessante depois que a professora descobriu que Mark passou boa parte da sua vida adulta internado em diferentes hospícios do país ou na cadeia, já que foi condenado por mais de 12 crimes. Numa destas detenções, ele disse que foi pressionado a admitir que era mexicano, “apenas porque seria impossível argumentar o contrário”. Naquele ano de 2008, Mark foi um dos 350 mil deportados pelo ICE e é o segundo caso comprovado de erro dos agentes de imigração neste procedimento.

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