da Folha de S.Paulo
Treze dias depois de dar um ultimato ao Senado brasileiro para entrar no Mercosul, o presidente Hugo Chávez culpou ontem os EUA por “tentar distanciar” a Venezuela do Brasil, além de deitar elogios ao colega Luiz Inácio Lula da Silva.
“Ninguém, ninguém me fará brigar com Lula. É um bom companheiro. É um grande amigo”, disse Chávez, em discurso a militares, em Caracas. Chávez citou um episódio envolvendo Simon Bolívar (1783-1830) para acusar os EUA de tentar afastá-lo de Lula.
“Bolívar recebe o embaixador `brasileiro` e lhe diz, numa carta de boas-vindas: ‘O Brasil é uma das maiores garantias que enviou a providência para assegurar o futuro desta nascente República’. O império tenta nos dividir e nos distanciar, como estivemos toda a vida.”
Sem citar sua polêmica com o Senado brasileiro envolvendo o Mercosul, Chávez disse que os EUA utilizam “quintas-colunas aqui na Venezuela, lá no Brasil e em outras partes do mundo” para provocar a discórdia.
O discurso de Chávez ontem ocorreu após amplo esforço de bastidores do Itamaraty para diminuir a crise provocada pelo duro discurso do presidente venezuelano, no início do mês. Na semana passada, o Palácio Miraflores havia sinalizado que baixaria o tom contra o Brasil.
No último dia 3, Chávez disse que esperaria até setembro para que os Congressos do Brasil e do Paraguai aprovassem a entrada no Mercosul, do contrário retiraria a solicitação venezuelana para entrar no bloco.
A crise entre Chávez e o Congresso brasileiro começou no início de junho, quando o Senado aprovou um requerimento exortando o governo venezuelano a rever a decisão de não renovar a concessão do canal oposicionista RCTV.
Irritado, o presidente venezuelano chamou o Senado de “papagaio de Washington”.
Ontem, a emissora voltou a ser transmitida por TV paga, após 49 dias fora do ar. O seu alcance agora está limitado a cerca de 21% da população do país.
