Doze milhões de indocumentados temerosos com as audiências que estão sendo realizadas nas cidades que ficam na fronteira entre Estados Unidos e México.
Entre convocatórias para o Senado e para a Câmara de Deputados, críticas por parte de organizações hispânicas e a inquietude de milhões de indocumentados começou nesta quarta-feira(6) a primeira rodada de discussões públicas sobre a reforma imigratória, um mecanismo implementado a pedido do líder do Congresso, Dennis Hastert (republicano de Illinois) como condição para convocar o Comitê de Conferência.
Na Califórnia, na cidade de San Diego, na fronteira entre Estados Unidos e México, houve a primeira consulta popular sobre imigração, na qual também se falou sobre terrorismo e segurança fronteiriça.
Ao término da discussão, os participantes – entre os quais havia parlamentares locais e federais – concluíram que se deve penalizar os empregadores de indocumentados, mas não se estabeleceu um mecanismo para executar a decisão, nem tampouco se estabeleceu se o acordo será incluído na versão final da reforma imigratória pendente no Congresso.
Os hispânicos presentes ao debate, bem como outros que não foram convidados ou não puderam entrar no recinto, rechaçaram a medida e a qualificaram de “propaganda” republicana para aproximar-se nas mesas redondas dos eleitores hispânicos, e também como uma estratégia para dilatar a decisão em Washington para que o Congresso aprove uma reforma imigratória ampla e humana.
Acusações de xenofobia – “Está claro que o Partido Republicano está mais interessado em atiçar as paixões xenófobas”, indicou num comunicado a Organização Irmandade Mexicana e a Coalizão 25 de Março, ambas bastante influentes na Califórnia, onde mais de um terço da população de 36 milhões de habitantes é de origem hispânica.
Reportagens da imprensa não souberam informar o número se participantes na tarde desta quarta-feira, mas alguns parlamentares republicanos, como foi o caso de J.D. Hayworth (Arizona), pediram aos “companheiros democratas que dêem seu apoio quando for aprovada uma proposta que castigue os empregadores de ilegais”.
Protestas e convocações – Nas cercanias do recinto, líderes religiosos e ativistas pelos direitos humanos protestaram e levaram suas próprias pesquisas feitas com transeuntes de San Diego, que enfatizaram a necessidade de o Congresso aprovar uma reforma justa, além de instalar cruzes de madeira em plena fronteira entre os dois países para recordar, disseram, os mortos na intenção de cruzar o deserto em busca do sonho americano.
O objetivo dos republicanos com estas discussões públicas é levar o tema imigratório a seus distritos eleitorais durante os meses de julho e agosto, como parte de uma estratégia eleitoral com vistas aos comícios do próximo mês de novembro.
Debate na Filadélfia – Longe da fronteira, na Filadélfia, o prefeito da cidade de New York, Michael Bloomberg, durante audiência pública presidida pelo presidente do Comitê Judiciário do Senado, Arlen Specter (republicano da Pensilvânia), afirmou que a economia da cidade que comanda “e de todo Estados Unidos poderá entrar em colapso se os imigrantes ilegais forem deportados em massa”.
Bloomberg disse que a cidade de New York abriga pelo menos três milhões de imigrantes, e cerca de meio milhão chegou ao país de maneira ilegal. “Embora tenham violado a lei ao cruzar ilegalmente nossas fronteiras, a economia de nossa cidade sofreria se fossem deportados”, observou. “O mesmo vale para a nação”, acrescentou.
A postura republicana – Mas nem todos pensam como Bloomberg. Durante a audiência, o presidente da subcomissão sobre terrorismo internacional da Câmara de Deputados, Ed Royce (republicano da Califórnia), disse que as audiências públicas “impulsionam o tema da imigração através da posição dos republicanos, de protegermos primeiro a fronteira e demonstrar que podemos deter as ameaças à nossa segurança nacional”.
O deputado Brad Sherman, democrata de mais alto nível na audiência, retrucou que a sessão demonstrou que “os republicanos têm o controle total de Washington, mas nenhum da fronteira”.
Esta audiência também será realizada nesta sexta-feira(7) na cidade fronteiriça de Laredo, Texas, como parte da agenda sugerida por Hastert na terceira semana de junho.
Bush não quer deportações – No mesmo día que em começaram as audiências públicas, o presidente George W. Bush visitou um fast food na Virginia para reiterar seu “forte apoio” à reforma imigratória ampla e clamou ao Congresso para que aprove uma lei que inclua a cidadania e um projeto de trabalhadores temporários.
Com relação à proposta de criminalizar a estadia indocumentada, contida na versão da reforma aprovada em 16 de dezembro pela Câmara de Deputados, e acelerar a deportação de indocumentados, o mandatário voltou a rechaçar a iniciativa. “Não podemos deportar as pessoas que estão aqui, trabalhando duro e criando suas famílias”, afirmou Bush. “Assim, quero trabalhar com o Congresso para encontrar uma forma de outorgar a cidadania racionalmente e que nos permita avançar”.
Democratas refutam audiências – O senador Edward Kennedy (Massachussets) e o rdeputado Luis Gutiérrez (Illinois), ambos democratas, defenderam nesta quarta-feira a “necessidade urgente” de aprovar uma reforma imigratória ampla e de o Congresso se reunir o quanto antes para abordá-la.
Kennedy, autor de um projeto que serviu de base para a versão de reforma do Senado, assegurou que a reforma proposta pela Câmara de Deputados, muito mais restritiva do que a do Senado, não é uma boa solução e que é preciso uma análise integral diante do problema da imigração.
“A Câmara de Deputados pretende criminalizar os imigrantes indocumentados e aqueles que os ajudam, incluídos os membros de igrejas e os bons samaritanos, e isto, diretamente, não vai funcionar”, manifestou. “Uma reforma que não seja integral e abarque todos os aspectos é inaceitável e inservível. No entanto, é preciso reconhecer que algumas partes da reforma demorarão mais tempo para serem implementadas do que outras”, decretou o senador.
Detenham as audiências – O congressista Gutiérrez pediu que o comitê que deve harmonizar os projetos sobre imigração das duas câmaras “siga adiante” e se mostrou crítico com as audiências convocadas pelos republicanos em todo o país.
“Não sei qual é o verdadeiro propósito das audiências, além de servir para atrasar a aprovação da reforma. Não adiantará nada para eles esta tentativa de escapar deste assunto”, disse. O deputado também cobrou “uma maior consistência” nas mensagens da Casa Branca sobre imigração.