Histórico

Comunidade assustada com ‘onda’ de suicídios provocada por depressão

Só nos últimos quatro meses pelo menos seis brasileiros acabaram com a própria vida nos EUA

Solidão, crise financeira, exploração no trabalho, arroxo da imigração. Todos estas situações estão presentes na vida dos imigrantes que vivem na América, mas nos últimos tempos os problemas ganharam contornos ainda mais dramáticos. Pelo menos seis brasileiros acabaram com suas próprias vidas aqui nos Estados Unidos, exatamente porque não conseguiram lidar com uma nova e ingrata realidade. A causa para atitudes tão extremas é a depressão, uma doença séria e que, como tal, deve ser encarada com seriedade e necessita de tratamento.
Os casos mais recentes aconteceram em Massachusetts, na semana passada: o matogrossense Gustavo Rezende, de apenas 19 anos que morava em Marlborough, suicidou-se porque, segundo amigos, estava depressivo. A gota-d’água teria sido uma multa de trânsito grave, que teria lhe tirado o direito de dirigir. Não por acaso, o jovem, descrito por muitos como um talento nas artes gráficas, cometeu seu último próxima à Corte da cidade.

Na mesma região e apenas dois dias depois, o mineiro Edvar Cunha, de 64 anos, colocou um ponto final em sua vida, aparentemente por causa das dívidas. O mesmo motivo foi apontado por amigos para o suicídio do capixaba Adenilton Pereira. Proprietário de um bar em Elizabeth (New Jersey), ele se enforcou com o fio do ventilador e deixou esposa e filhos. Cléberson Ferreira Rodrigues, matogrossense que vivia no Texas, e Lydia Di Dio, que se jogou na frente de um caminhão em Ohio, tiveram o mesmo fim trágico. Aqui na Flórida, o caso mais recente foi a da gaúcha Yolanda Gomes Falk, ao se jogar do 9º andar do prédio em que morava, em Miami Beach.

A psiquiatria já produziu estudos que comprovam a associação entre o número de suicídios e crises econômica. Foi assim durante a Grande Depressão em 1929, por ocasião da quebra da Bolsa de New York, e – para buscar um exemplo bem brasileiro – repetiu-se na época do confisco da poupança no Plano Collor. “Mas no caso dos imigrantes há ainda outros fatores que não podem ser deixados de lado, como a pressão pela falta de documento, de emprego e até de uma identidade maior com o país em que vivem”, acredita a psicóloga aposentada Maria Bulhões, que apesar de não exercer a profissão aqui nos Estados Unidos, está constantemente analisando o corportamento da comunidade brasileira.

Ele ressalta que a depressão que leva ao suicídio pode atingir qualquer pessoa, independente do sexo ou idade, mas não há como negar que as mulheres estão mais sujeitas a este tipo de crise pela fragilidade emocional. Maria, no entanto, acha que a crise econômica tem afetado mais os homens – “especialmente os latinos, que carregam o machismo de não serem sustentados pela mulher e não suportam o fato de não conseguirem mais garantir o sustento da família”.

A psicóloga aconselha a todas as pessoas que conhecem possíveis casos de depressão na família ou no círculo de amizade que busquem ajuda para seus entes queridos, seja através de um profissional ou mesmo de apoio junto às igrejas. “Trata-se de uma doença e, na falta de tratamento, pode acabar em tragédia. Aliás, esta onda de suicídios é sinal de que muitos não estão dando a devida importância ao problema”, alerta Maria, que costuma participar de palestras com pequenos grupos em Miami.

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