Histórico

Cotada para liderar Câmara nos EUA baixa o tom

Quando estudava fotografia na Universidade Stanford, na Califórnia, uma das filhas de Nancy Pelosi escondia o parentesco. Não por vergonha, como acontece com muitos familiares de políticos. Tímida, ela se incomodava com a quantidade de tapinhas nas costas e parabéns que recebia dos colegas estudantes, uma vez descoberta a relação das duas.

É que, concorde-se com suas posições ou não, a deputada ultraliberal (de esquerda, nos EUA) que se casou, teve cinco filhos e fez sua carreira em San Francisco, na Califórnia, para depois assumir a vaga de um congressista morto tem um currículo coerente nos dez mandatos consecutivos que já cumpriu no Congresso: votou sempre contra os republicanos.

Agora, aos 66 anos, a atual líder da minoria democrata no Congresso é o nome mais cotado para assumir a presidência na Câmara, caso os democratas conquistem a maioria da Casa nas eleições do dia 7.

Até o começo do ano, quando a vitória democrata ainda era um sonho distante, a congressista defendia o impeachment do presidente George W. Bush –ou pelo menos a abertura de uma investigação com esse objetivo. A alegação era a de que o republicano levou o país a uma guerra no Iraque baseado em informações falsas ou falhas.

Numa entrevista ao “Washington Post” em maio, Pelosi disse que sua meta não era o impeachment, mas sim investigar as políticas do governo Bush: “Mas você nunca sabe aonde `as investigações` vão levar”. A declaração causou uma reação conservadora que a deputada não esperava.

Abrandamento

Desde então, Pelosi vem amenizando o que fala, num processo de ida ao centro do espectro político parecido com o que levou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, em 2002. Na última sexta, de passagem por sua base na Califórnia, ela voltou a ser indagada pelos repórteres sobre o assunto: “Não vamos pedir o impeachment do presidente, isso simplesmente não acontecerá”.

A versão Pelosi “Light” não convence todo mundo. Ao comentar o “plano de cem dias” que os democratas prometem implementar caso levem o Congresso, James Lileks, um conhecido blogueiro conservador, ironizou: “Agenda do 7º ao 100º dia: começam as audiências de impeachment. Claro, Pelosi disse que ela é contra. Mas ela também prometeu: as crianças vão estar no comando. E você sabe como elas ficam mal-humoradas se não fazem o que querem…”

Para se tornar a primeira mulher da história do Congresso norte-americano a presidir a Câmara dos Representantes, porém, Pelosi precisa ver seu partido ganhar a maioria das vagas –o ocupante do cargo é escolhido pela metade mais um dos congressistas eleitos. Mesmo assim, sua vitória não é garantida. Embora analistas como Charles Cook, do “The Cook Report”, dêem como certa sua escolha, há quem duvide.

É o caso do analista político Michael Barone. A rejeição de Pelosi pela totalidade dos republicanos e pela parte mais conservadora dos liberais pode dificultar a tarefa, crê: “Nas minhas contas, os democratas levam 219 cadeiras, e os republicanos, 216”. Com resultado tão apertado, diz, restará saber se nenhum democrata rechaçará a deputada, como já ocorreu.

Diário de campanha

Faça sua aposta 1

A aparentemente irresistível ascensão do Partido Democrata diminuiu de ritmo. Pelo menos é o que apontam duas bolsas de apostas políticas. Para a norte-americana Iowa Electronics Market, a possibilidade de os democratas controlarem a Câmara é de 67% –a mesma esperada duas semanas atrás. O número é idêntico na irlandesa Intrade, uma queda de dois pontos percentuais.

Faça sua aposta 2

Já em relação ao comando do Senado, a história é diferente. As duas bolsas dão a mesma probabilidade de os republicanos continuarem a dar as cartas na Casa: 75%.

Negócio de risco

Com muitos republicanos procurando se distanciar da Casa Branca –ao menos perante os eleitores-, o presidente Bush tem se aventurado a fazer campanha pelo seu partido em alguns Estados. Estrategistas da Casa Branca escolhem a dedo os locais onde a visita pode fazer uma diferença positiva, mas alguns candidatos educadamente recusam a oferta.

Em nome de Alá

Pelo que indicam as pesquisas, o democrata Keith Ellison deve ser o escolhido pelos eleitores do 5º Distrito Congressional do Estado de Minnesota para uma vaga na Câmara dos Representantes. Se isso acontecer, o afro-americano de 43 anos será também o primeiro muçulmano a ter voz no Capitólio dos EUA.

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