Histórico

Crime contra mineira choca Itália

Marília Rodrigues, de Uberlândia, estava grávida do seu chefe e amante, o italiano Claudio Grigoletto

Marília foi convidada a trabalhar na Alpi Aviation do Brasil e teve um fim trágico
Marília foi convidada a trabalhar na Alpi Aviation do Brasil e teve um fim trágico

DA REDAÇÃO, COM TERRA – A tentativa de esconder a amante e o filho que ela esperava não foi muito longe para o empresário italiano Claudio Grigoletto. Ele foi preso na terça-feira (3) acusado do assassinado da brasileira Marilia Rodrigues Silva Martins, 29 anos, cujo corpo foi encontrado no escritório da companhia na sexta-feira (30). O caso chocou a pequena cidade de Gambara, de apenas 5 mil habitantes no norte da Itália.

Marília, mineira de Urberlândia, morava na Itália há 13 anos. Segundo a polícia de Gambara, Grigoletto confirmou que tinha um relacionamento amoroso com a vítima, que estava grávida de cinco meses, mas se negava a confessar o crime.

Grigoletto, titular da Alpi Aviation do Brasil e responsável por oferecer o emprego à jovem, foi interrogado durante toda a terça-feira (3). Sua prisão foi pedida pelo Ministério Público e ele é investigado por homicídio com agravante, tentativa de ocultação de cadáver e aborto. De acordo com as investigações, Grigoletto chegou a criar uma conta fácil de e-mail para atribuir a uma outra pessoa uma suposta relação com a brasileira.

Os laudos mostram que Marilia foi “estrangulada, mas pode ter morrido por respirar gás”. O que levantou a suspeita da polícia foi a série de contradições no interrogatório de Grigoletto. Na segunda-feira (2), a autópsia no corpo da jovem comprovou que ela foi vítima de homicídio e as suspeitas contra seu chefe aumentaram.

A porta do escritório da empresa, onde foi encontrado o corpo da brasileira, estava fechada por dentro, e no local se sentia um forte cheiro de gás vindo de uma caldeira, o que nas primeiras horas levantou a suspeita de um suicídio ou morte acidental. Porém, ferimentos no rosto e na nuca da jovem brasileira fizeram com que a promotoria abrisse imediatamente investigação sobre o caso.

Os investigadores encontraram em um escritório do italiano uma chave inglesa com resíduos do tubo de caldeira adulterada, que pode ter causado o vazamento de gás verificado no escritório. A polícia italiana também encontrou entre seus pertences uma nota de supermercado que dizia que ele comprou ácido na manhã do dia em que a brasileira teria sido morta. As autoridades acreditam que, para simular um suicídio, ele teria tentado fazer Marília ingerir a substância.

Apesar de Gambara ser uma cidade pequena, os moradores dizem não conhecer a brasileira. Alguns vizinhos da empresa disseram ter visto um carro estacionado em frente ao escritório. Enquanto outros, como um barista de um bar próximo ao local do crime, que preferiu não se identificar, disse que a maioria das pessoas não tinha conhecimento nem mesmo da presença dessa empresa na cidade. O escritório fica em uma rua residencial de Gambara.

Marília Rodrigues morreu poucos dias depois que o governo italiano criou um “pacote” de medidas para combater a violência contra mulher. Entre as medidas que entraram em vigor no último dia 8 de agosto na Itália está a concessão do “permesso di soggiorno”, isto é, o direito de viver legalmente na Itália a mulheres que sejam vítimas de violência por parte dos seus parceiros italianos.

Entre 2000 e 2011 foram registrados 2.061 casos e as vítimas, em sua maioria, têm idade entre 25 e 54 anos. De cada dez casos de violência contra mulher, sete deles acontecem dentro da própria família. Ainda de acordo com o levantamento feito recentemente na Itália sobre o aumento desse tipo de crime, os problemas costumam começar cerca de 90 dias depois de um ponto final de uma relação.
Entidades que trabalham de perto com as vítimas da violência, como é o caso da ONG italiana Zero Violenza Donne, descrevem a complexidade do problema e porque muitas mulheres acabam perdendo a vida.

“O assassinato é em grande parte dos casos somente o último ato do que chamamos de ‘espiral da violência’. Os atos de violência dentro de uma relação começam com as pequenas discussões, muitas vezes com o ciúme por trás, depois o controle de e-mails, de celulares, dos horários que a mulher chega em casa. Até que o homem cria em torno da mulher uma barreira para que ela não se aproxime de mais ninguém. A mulher fica longe dos amigos e familiares. E daí em diante a violência se torna mais frequente. Muitas vezes, o parceiro culpa a mulher por tudo o que está fazendo com frases do tipo: ‘Vê o que você me faz fazer?’. E dessa vida em silêncio, muitos casos chegam a mais um caso de homicídio”, diz um representante da ONG.

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