Civis saem às ruas com cartazes nas mãos em Cuba
Mobilizações maciças de protesto foram a resposta cubana à decisão de um tribunal dos Estados Unidos de libertar mediante o pagamento de uma fiança o anticastrista Luis Posada Carriles, um ex-agente da CIA acusado de terrorismo por Cuba e Venezuela.
Luis Posada Carriles, de origem cubana e naturalizado venezuelano, foi recebido na noite de quinta-feira, 19, quase como um herói por dezenas de anticastristas em Miami (Flórida). Ele deverá cumprir prisão domiciliar na cidade, aonde chegou depois de deixar uma prisão de El Paso (Texas), pagando uma fiança de US$ 350 mil, na quinta-feira.
Cuba e Venezuela acusam o ex-agente de vários atentados contra hotéis na ilha, além da explosão de um avião da Cubana de Aviación, com 73 mortes, em 1976.
A decisão do tribunal de El Paso não surpreendeu o governo cubano, que denuncia há anos o que considera a proteção a Posada por parte da administração Bush. Para Havana, a política seria uma recompensa pelos serviços prestados à Agência Central de Inteligência (CIA).
O presidente cubano, Fidel Castro, convalescente há quase nove meses e afastado do poder por causa da sua doença, acusou Bush de proteger Posada no seu último artigo publicado pelo jornal oficial Granma, na semana passada.
“O governo dos EUA e as suas instituições mais representativas decidiram de antemão a liberdade do monstro”, afirmou Castro. Ele protestou contra a decisão de uma juíza de El Paso de conceder a liberdade condicional a Posada e permitir a sua saída da prisão.
Após a confirmação da notícia, organizações cubanas não perderam tempo e levaram às ruas milhares de pessoas. Os manifestantes exigiram a condenação de Posada.
Na quinta-feira, Cuba comemorou os 46 anos da vitória do Exército cubano na Baía dos Porcos contra tropas anticastristas, vista pelo Estado cubano como a “primeira derrota do imperialismo na América”. Os festejos, porém, se transformaram em atos de protesto contra a libertação do “inimigo público número 1”.
Milhares de jovens se concentraram na tribuna antiimperialista de Havana, em frente ao Escritório de Interesses dos Estados Unidos. Dezenas de milhares atenderam a uma convocação em Bayamo, no extremo leste do país. Em Playa Girón, a comemoração da vitória cubana serviu para denunciar a estratégia de Bush e exigir a condenação de Posada.
Armadilha
Para o presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento), Ricardo Alarcón, o processo nos EUA “é uma armadilha” e não atende as regras do Direito Internacional.
“Tudo é uma armadilha para não julgar Posada nem deixar que seja julgado, porque o processo iria contra Bush filho e sobretudo seu pai (o ex-presidente George H. Bush), que era o chefe da CIA na época do atentado contra o avião da Cubana e do assassinato do chanceler chileno Orlando Letelier”, disse Alarcón.
“A infâmia foi consumada e o governo Bush libertou o terrorista”, afirmou a televisão estatal cubana, que na quinta-feira dedicou ao tema todo o seu programa “Mesa-redonda”.
As denúncias se repetiram até mesmo durante a transmissão da final do campeonato de beisebol entre as equipes de Havana e Santiago.
Frases como “Exigimos justiça”, “Não queremos vingança, queremos justiça” e “Cuba exige a volta do carrasco à prisão” se alternaram nos intervalos da transmissão esportiva, programa de maior audiência do país. Outras mensagens convocavam uma mobilização em massa no dia 1 de maio para exigir a condenação do anticastrista.
Posada Carriles, de 79 anos, estava detido nos Estados Unidos desde maio de 2005 por entrada ilegal no país. Ele será julgado por mentir em sua solicitação da cidadania americano. As audiências começarão dia 11 de maio, em El Paso.