Histórico

Esquemas como Petrolão ocorriam desde FHC, afirma delator à Polícia Federal

Justiça retoma investigações na Lava a Jato com depoimentos do sócio da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto

Justiça retoma investigações na Lava a Jato com depoimentos do sócio da Toyo Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto

O executivo Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, dono da Setal Engenharia e um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras, afirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná nesta segunda-feira (9) que o “clube” das empreiteiras passou a combinar resultados de licitações desde meados da década de 1990, época em que o país era presidido por Fernando Henrique Cardoso.

A operação Lava Jato, que investiga o esquema, foi deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014. O esquema movimentou R$ 10 bilhões em corrupção – deste valor, enorme parte foi desviada da Petrobras e repassada a políticos e partidos aliados do governo.

Segundo Mendonça Neto, as empresas e a Petrobras instituíram um grupo de trabalho para discutir e melhorar as condições contratuais. O grupo funciona até hoje, explicou o empresário. Ele disse que, a partir dessa aproximação, um grupo de nove empreiteiras passou a combinar com qual delas cada obra ficaria. A combinação não tinha o conhecimento da estatal, segundo Mendonça Neto.

Ele disse ainda que o cartel passou a ter efetividade a partir de 2004, quando as empresas passaram a negociar contratos com os ex-diretores da estatal Paulo Roberto Costa e Renato Duque. A partir daí, segundo o executivo, houve cobrança de propina para que as empresas obtivessem contratos.

“As empresas, com o intuito de se protegerem, fizeram um acordo entre si de não competirem entre elas mesmas. Naquela ocasião eram nove companhias e tinham o compromisso de não competir. Cada uma escolhia uma determinada obra por uma visão de mercado futuro e quando chegasse a vez daquela companhia, as outras companhias se comprometiam a submeter preços superiores”, afirmou em depoimento.

Em nota, o Instituto FHC afirmou que, conforme o próprio depoimento, o cartel só passou a ser efetivo em 2004, ano em que o país já era governado por Luis Inácio Lula da Silva.

Para o empresário, naquela época, a combinação tinha resultado “muito relativo” já que, segundo ele, o número de companhias que prestavam serviços para a Petrobras era bem maior do que as nove empresas integrantes do “clube”.

“Isso `o acerto entre as empreiteiras` passou a ter efetividade, de fato, a partir do ano de 2004, quando este grupo negociou com a diretoria da Petrobras, com os dois diretores, Paulo Roberto `Costa` e Renato Duque, de modo que a lista de convidados fosse restrita às empresas que participassem desse grupo. A partir daí, durante um período, o resultado dessas reuniões, dessas escolhas, passou a ser mais efetivo”, explicou Mendonça Neto.

O executivo explicou ainda que o pagamento de propina para a obtenção de contratos foi negociado com o ex-deputado já falecido José Janene (PP) na diretoria comandada por Costa, e com Duque e o ex-gerente Pedro Barusco, na diretoria de Serviços.

Mendonça Neto afirmou à Justiça que, após a entrada de Costa e Duque nas negociações, as reuniões do grupo de empreiteiras passaram a ser mensais. Ele disse ainda que, a partir de 2006, outras sete empresas passaram a integrar o cartel.

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