O diplomata Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, reiterou nesta terça-feira as críticas ao Ministério das Relações Exteriores durante audiência pública no Senado, a quem acusa de estar contaminado por posições ideológicas.
Em reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Abdenur disse que a política externa brasileira vem agindo de forma equivocada ao impor uma postura de “aversão” aos Estados Unidos.
“Não há lugar para posturas ideológicas de aversão ou distanciamento em relação aos EUA. (…) A minha crítica maior é que há visão muito empobrecida do Brasil, de um país frágil e indefeso, ameaçado de ser engolido pela Alca `Área de Livre Comércio das Américas` ou outras iniciativas que partam de Washington”, afirmou.
Abdenur foi convidado a comparecer à comissão para explicar suas críticas ao Itamaraty, reveladas em entrevista à revista “Veja” no início deste mês. As críticas foram feitas após sua remoção definitiva do cargo de embaixador –do qual se aposentou depois de 44 anos de carreira diplomática.
Segundo o diplomata, o Itamaraty vem doutrinando os jovens aspirantes a embaixadores com leituras direcionadas que prejudicam as relações exteriores brasileiras. “Creio que as chefias do Itamaraty não têm o direito de impor suas preferências aos seus subordinados”, criticou.
Abdenur citou livros adotados na bibliografia do Itamaraty, como “Brasil, Argentina e Estados Unidos: Conflito e Integração na América do Sul” (Da Tríplice Aliança ao Mercosul), de Luiz Alberto Bandeira, que demonstram a doutrinação antiamericana seguida pelo ministério.
“Essas leituras têm `desvios`. Esse livro traz um forte elemento doutrinário, até panfletário, porque atribui aos Estados Unidos os problemas dos países em desenvolvimento, o que é no mínimo um exagero. O livro critica, curiosamente, dois dos esteios da política externa brasileira: o Mercosul e a sua relação com a Argentina”, disse Abdenur.
O diplomata acusou o Ministério das Relações Exteriores de estar prejudicando as exportações brasileiras aos Estados Unidos diante da postura antiamericana adotada em suas negociações. “Infelizmente o Itamaraty deixou de assegurar recursos suficientes para as nossas exportações aos Estados Unidos. O Brasil está há dez anos estagnado na venda de produto aos EUA”, criticou.