Histórico

Fernanda Meirelles

A dama das tintas

Antonio Tozzi

Pintar sempre foi a paixão da pequena Fernanda Meirelles, envolvida por pincéis e tintas da casa de uma tia querida, misto de pintora e professora de desenho. A paulistana Fernanda ainda se lembra, como se fosse hoje, daquela época em que se emocionava com aquele paraíso multicolorido de sua infância. Além das telas, pintava porcelana com perfeição, confeccionando “autênticas” peças chinesas, inclusive com com a assinatura em chinês.

A tia, sua principal incentivadora, ainda guardou até à morte os rabiscos e os desenhos da menina talentosa que viria a se tornar uma pintora conhecida. Sem dúvida, a tia possuía uma visão crítica e muito carinho pela menina, mas talvez não imaginasse que as obras da sobrinha fossem ornamentar paredes de museus, galerias e residências de todo o mundo.

Mas a menina cresceu e resolveu dedicar-se de corpo e alma à sua paixão. Primeiro, freqüentou o atelier de muitos mestres, desde a pintura acadêmica até a abstrata. Depois, cursou a Escola Panamericana de Artes, em São Paulo, e se profissionalizou. Claro, aprender as técnicas é fundamental, porém, o que determina a criação é a intuição do artista.

Após conhecer as diversas tendências de pintura, Fernanda Meirelles identificou-se com as obras dos nipobrasileiros Manabu Mabe, Tomie Ohtake e Fukushima. “Meu trabalho é abstrato gestual”, qualifica a própria autora. E este abstrato carrega uma forte influência oriental.

Arte pelo mundo – E sua arte viajou pelo mundo. Do Brasil para a a Alemanha, do México para a França, do Uruguai para os Estados Unidos. E foi exatamente neste país, na cidade de Miami, que Fernanda Meirelles montou sua galeria de arte, batizada com seu próprio nome. “Sempre gostei desta cidade, costumava passar as férias aqui, quando era criança. Aí, quando minha filha veio estudar nos Estados Unidos, resolvi ficar. É tão mais tranqüilo, a não ser com os furacões”, responde sorrindo a artista.

Parece mesmo que o clima de Miami fez muito bem à sua arte. Claro que Fernanda Meirelles já era uma artista consagrada, com várias exposições no Brasil, sobretudo em São Paulo, mas sua obra desabrochou com o colorido da cidade, tropical, onde desponta o céu azul e o pôr-do-sol alaranjado que nos faz devanear.

Ela mesma confessa que esse ambiente favorece bastante sua inspiração. “Cercada de mar e céu o tempo todo, não poderia mesmo querer algo mais inspirador. Aí, a tela branca e os tubos de tintas mexem comigo e me deixo levar para compor meus quadros. A escolha das cores é questão do momento…e por aí vai”, confessa a pintora.

Sentimentos passam para os quadros – Os clientes de Fernanda Meirelles, em sua maioria, são americanos, sobretudo os do norte do país, e os canadenses. Eles vêm à Flórida de férias e encantam-se com as pinturas da brasileira. Entretanto, muitos adquirem as obras através da webpage da artista www.fernandameirelles.com. Entre os clientes, vários sul-americanos também possuem obras de Fernanda. Até mesmo o piloto da IRL e bicampeão das 500 Milhas de Indianápolis Hélio Castro Neves figura nesta lista.

Todos os clientes têm um pouco dos sentimentos da artista, transmitidos na hora em Fernanda está criando uma obra de arte. Por isto, ela toma muito cuidado para não pintar quando vive um momento conturbado: “Pinto bastante, mas não procuro fazê-lo quando tenho qualquer sentimento negativo, pois passo todos os meus sentimentos e quero que minha obra seja um presente de amor aos meus clientes”.

Para se dividir entre artista e empresária, Fernanda estabeleceu uma rotina de trabalho, que procura manter à risca. De manhã, ela se dedica à pintura e à tarde vai para a galeria. Muitas vezes, trabalha sob encomenda. O cliente descreve o que deseja e a pintora transpõe estes desejos para a tela. Segundo ela, “geralmente os quadros encomendados são grandes e é preciso comprar telas em tamanhos especiais”. Certa vez, uma cliente gostou muito de uma obra de Fernanda, mas considerou o tamanho pequeno. Pediu, então, para ela “ampliar”’o mesmo quadro, em tamanho maior.

Embora procure cumprir as duas tarefas de maneira profissional, Fernanda admite que sua entrega se dá mesmo durante o ato de pintar: “Criar quadros é uma satisfação incrível. Vivo para isso. Para mim, administrar a galeria é mais difícil, porque não sou boa negociante”, admite a artista.

Sorte de Fernanda. Porque bons negociantes há muitos, já bons pintores são bem poucos…

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