Mídia tradicional americana está mudando de mãos
DA REDAÇÃO COM AFP — A divisão de imprensa do conglomerado de mídia The Washington Post, que inclui o prestigioso jornal, será vendida ao fundador e presidente da Amazon, Jeff Bezos, marcando a virada do negócio para a internet e o final de uma dinastia à frente da publicação.
Bezos compra o título pessoalmente – sem envolver a Amazon- por 250 milhões de dólares a divisão de imprensa do grupo The Washington Post, que inclui além do jornal do mesmo nome as publicações The Express e El Tiempo Latino, entre outros produtos.
Decidimos vender depois de, após gerenciarmos durante anos as dificuldades do setor, nos darmos conta de que poderia haver outro dono que fosse melhor para o Post”, disse Donald Graham, presidente e diretor da The Washington Post Company, e neto de Eugene Meyer, que comprou o jornal durante a Grande Depressão de 1933.
A notícia surpreendeu o setor, pois Graham não havia dado indícios de que o jornal – famoso por revelar o caso Watergate que causou a demissão do presidente Richard Nixon em 1974 – seria vendido, apesar dos lucros e das assinaturas em queda.
“A conhecida tecnologia de Jeff Bezos e seu talento para os negócios, sua visão a longo prazo e sua integridade pessoal convertem-no na pessoa indicada para ser dona do ‘Post’”, acrescentou Graham.
Bezos disse que manterá Weymouth, sobrinha de Donald Graham e neta da lendária editora do Post Katherine Graham, como presidente executiva e editora do jornal. “Este é um dia que minha família e eu nunca esperamos que chegaria”, disse Weymouth em um comunicado aos leitores. A decisão de vender foi tomada com tristeza, mas “com a absoluta convicção de que Bezos representa uma oportunidade única e extraordinária para The Washington Post”, acrescentou.
Jeff Bezos, de 49 anos, com uma fortuna estimada en 25.2 bilhões de dólares, é o 19º mais rico do mundo na lista de milionários elaborada pela Forbes.
Seu sucesso provém em grande parte da criação da Amazon, companhia da qual continua sendo chefe. Bezos envolveu o grupo em todos tipos de atividades, com investimentos nos setores que considera promissores a longo prazo, normalmente em detrimento dos lucros do grupo.
“Entendo o papel crucial desempenhado pelo jornal em Washington e em nosso país, e os valores do Post não vão mudar”, prometeu Bezos. “A Internet está transformando quase todos os elementos do negócio das notícias: encurtando os ciclos das notícias, erodindo as fontes de recursos nas quais se confiou longamente e permitindo novas formas de concorrência”, destacou. “Não há mapa e traçar o caminho para frente não será fácil. Precisaremos inventar, o que significa que precisaremos experimentar”.
A venda expõe o desespero do setor para obter novos apoios econômicos que lhe permitam sobreviver à rápida transição do negócio do papel para internet, onde o acesso a grandes quantidades de notícias continua sendo grátis.
O anúncio foi feito dias depois de o The New York Times anunciar que aceitou vender o diário The Boston Globe por 70 milhões de dólares para um investidor americano e proprietário do clubel Liverpool da Inglaterra e do Boston Red Sox.
The Washington Post é um dos jornais de referência nos Estados Unidos. Recentemente revelou, junto com o britânico The Guardian, os programas de espionagem levados adiante por parte de órgãos de inteligência americanos.