Histórico

Greve de professores em São Paulo já dura mais de um mês

Paralisação já teve protesto com mais de 20 mil pessoas reivindicando melhores salários para a categoria; pais e estudantes relatam transtorno e desânimo com a situação

Professores pedem reajuste de mais de 75% em salários
Professores pedem reajuste de mais de 75% em salários

DA REDAÇÃO (com Folha de S.Paulo) – Em greve há mais de um mês (a paralisação foi iniciada em 13 de março) e com adesão de 75% da categoria, profissionais do ensino público do Estado de São Paulo seguiam protestando por melhores salários até a tarde da quarta-feira (15). Os professores cobram um reajuste salarial de 75,33%.

Segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado (Apeoesp), o percentual visa a equiparação com as demais categorias com formação de nível superior – o piso dos professores estaduais é de R$ 2.415,89.

Na sexta-feira (10), um protesto realizado pela categoria reuniu 20 mil pessoas, de acordo com números da Polícia Militar de São Paulo. Na passeata, manifestantes foram até o Palácio dos Bandeirantes, na zona oeste capital paulista, na tentativa de serem recebidos pelo governo, o que não ocorreu. Depois, caminharam até a ponte Octavio Frias de Oliveira (zona sul).

Ao passarem em frente à sede da Rede Globo, criticaram a cobertura da emissora sobre a paralisação. Os professores também expressaram críticas ao governador do Estado, o tucano Geraldo Alckmin. “Aqui não tem arrego, vou tirar o seu sossego”, gritavam durante todo o ato.

Em nota divulgada pela Folha de S.Paulo, a Secretaria da Educação afirmou que “rechaça as inverdades” do sindicato e que, ao longo de quatro anos, a categoria teve reajuste de 45%. SP tem cerca de 5.300 colégios, 230 mil professores e 4 milhões de alunos.
Transtorno e desânimo

Para pais e alunos que dependem do ensino público, a paralisação causa, obviamente, muito transtorno.

Alunos no colégio Caetano de Campos, no centro de SP, relatam desânimo. Nas últimas semanas, os estudantes afirmam que em vez das seis aulas diárias, têm tido três, quatro, às vezes nenhuma. Nas aulas vagas, são dispensados ou recebem exercícios sem explicações prévias. Na quarta (8), por exemplo, o momento acabou sendo produtivo no terceiro ano do ensino médio. A sala começou a debater o conteúdo de química por conta própria. “Até achei bonito”, comenta J., 17, à repórter Thais Bilenky. Segundo ele, apenas três dos 34 alunos da sala levantaram a mão quando uma professora questionou quem prestaria vestibular.

O jovem tem planos acadêmicos: J. quer estudar psicologia. O aluno conta que passou a estudar por conta própria para tentar repor o conteúdo perdido. Mas, tanto J. quanto outros estudantes afirmam andar meio sem vontade. “Acordei com sono. Sou sempre um dos primeiros a chegar na escola, hoje fui um dos últimos”, disse J.. “Só vim por causa da aula de arte”, afirmou E., 16.

Escola na cracolândia
Na estadual João Kopke, em Campos Elíseos (centro), alunos do ensino fundamental não são autorizados a deixar a escola quando há aulas vagas –o que tem acontecido quase diariamente. Localizada nas proximidades da cracolândia, a escola libera só os alunos na presença dos responsáveis. Para evitar mais um dia sem aulas dentro da escola, Larissa, 11, ficou em casa na quarta. Sua mãe precisou sair do trabalho mais cedo. “O pessoal `empregadores` libera, mas fica meio chateado”, conta o pai, Alex Pierote, 38. “Prejudica, né?” Todo dia, ele leva Larissa para a escola e espera cinco minutos no portão. Quando não há aula, leva a filha de volta pra casa. Para a auxiliar de limpeza Antônia Gomes, 72, não é possível deixar o trabalho mais cedo para buscar a neta na escola. “Às vezes falo para ela não ir. Não vai ter aula ou chamada, não vão contar falta”.

Procurado pela Folha, o governo diz que essas unidades devem acionar professores cadastrados para substituição e que não há orientação para dispensa de alunos ou motivo para que os estudantes fiquem com aulas vagas.

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