Histórico

Hospitais ‘deportam’ imigrantes nos EUA

Indocumentados são mandados de volta para seus países por não possuírem planos de saúd

Uma denúncia do jornal The New York Times mostrou que hospitais americanos têm, sistematicamente, mandado os pacientes estrangeiros e sem planos de saúde de volta aos seus países de origem. A deportação destes indocumentados acontece sem qualquer participação das agências de imigração, mas simplesmente porque os hospitais não encontram centros de reabilitação dispostos a receber enfermos sem seguro. Na maioria dos casos, a remoção é feita a contragosto da família do paciente.

O caso do guatemalteco Luis Alberto Jiménez é emblemático: há alguns anos ele trabalhava como jardineiro em Stuart (Flórida) e sofreu um grave acidente, provocado por um motorista americano que estava bêbado. Jimenéz foi atendido no Martin Memorial, naquela região, onde recebeu o tratamento emergencial que salvou sua vida. No entanto, após alguns meses à procura de uma clínica de fisioterapia para casos de traumatismos, o hospital decidiu mandá-lo de volta para a Guatemala, garantindo antes na Justiça uma declaração de que o paciente, com lesões no cérebro, necessitava de outro tipo de tratamento. “Os custos de aproximadamente 30 mil dólares referentes ao aluguel de uma ambulância aérea ficaram por nossa conta”, relembrou um dos administradores do Martin Memorial.

Na Guatemala, as condições de saúde de Jimenéz inspiram cada vez mais cuidados. Inválido e preso a uma cadeira de rodas, ele precisa da ajuda da mãe para cumprir as atividades mais simples e o único medicamento que toma é um comprimido para dor, já que não tem dinheiro para acompanhamento médico – o que certamente é insuficiente para tratar o problema, que vem provocando longos períodos de perda de consciência. “Toda vez que ele desmaia, acaba perdendo mais um pouco dele mesmo”, lamenta a mãe, Petrona Gaspar, de 72 anos.

Por mais absurdo que possa parecer, o caso de Jimenéz não é o único e, segundo o The New York Times, esta tem sido a tendência dos hospitais na América. De acordo com as estatísticas destas instituições, o número é até considerável: no St. Joseph’s (Phoenix, Arizona), a média anual de imigrantes repatriados chega a 96; da mesma forma, em San Diego (Califórnia), dos 87 casos médicos envolvendo mexicanos, a maioria cabou voltando com o auxílio do consulado do México naquele local; até mesmo aqui na Flórida, os dados mostram que pelo menos seis indocumentados são ‘deportados’ todos os anos do Broward Hospital, em Pompano Beach. “A repatriação, em muitos casos, pode significar sentença de morte”, admitiu o médico Steven Larson, do hospital da Universidade da Pensilvânia.

Os hospitais se defendem dizendo que o Medicaid, o sistema de saúde nos Estados Unidos, não cobre os custos de pacientes indocumentados que permanecem por longo tempo em tratamento. Muitos administradores preferem culpar a imigração desenfreada e os combalidos programas no setor médico pelos problemas, já que a permanência dos estrangeiros em situação irregular nos hospitais prejudica o atendimento aos cidadãos americanos. “Um leito ocupado é sempre um leito ocupado”, afirmou Alan Kelly, vice-presidente do Scottsdale Healthcare, em Arizona.

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