Depois da passagem do furacão Ike, crescem oportunidades de emprego na construção civil
Os Estados Unidos têm, nos últimos anos, se tornado um país pouco amigável em relação aos indocumentados. No entanto, os imigrantes – em situação regular ou não – estão sendo fundamentais na reconstrução das cidades afetadas pelo furacão Ike, especialmente no Texas, estado-natal do presidente George W. Bush. Por isso mesmo, os moradores daquelas localidades repararam um aumento no número de vagas de trabalho na construção civil e, o que é mais surpreendente, uma diminuição no rigor das batidas da polícia de imigração.
“Agora há mais trabalho”, admitiu Teodoro Alvarado, jovem de 20 anos que vive em Pasadena, um subúrbio de Houston. Ele e outros imigrantes latinos que sabem como consertar telhados, cuidar de jardins e limpar terrenos dificilmente ficam um dia sem serem chamados para fazer algum serviço. E isso tem feito com que outros indocumentados tenham se mudado para o Texas, a exemplo do que aconteceu em 2005 em New Orleans, depois do furacão Katrina.
Gerardo Hernández, por exemplo, se dedica normalmente a consertar telhados, mas desde 13 de setembro, dia da passagem do Ike por aquela região, tem feito vários outros trabalhos, entre eles o de limpeza das ruas, que ainda estão cheias de árvores caídas e sujeira. Uma rápida passage pela vizinhança de Kemah dá a exata noção de que Gerardo e outros que atuam neste ramo ainda terão muito trabalho pela frente. Especialmente porque nos próximos dias os residentes receberão o dinheiro do seguro e, com certeza, contratarão ainda mais a mão-de-obra barata dos imigrantes.
Outro lado da moeda
Este, alias, é o outro lado da moeda: a promessa de mais trabalho vem acompanhada do medo de abusos, exploração e intimidação: depois do Katrina, muitos trabalhadores de origem hispânica reclamaram que receberam salários bem abaixo do combinado, exatamente porque não costumam denunciar essas irregularidades.
“Estas pessoas terão mais service, mas também serão mais explorados ainda”, prevê Annica Gorham, diretora do Centro de Justiça para Trabalhadores Interfaith, que ajuda aos que foram ludibriados pelos patrões ou aqueles que sofreram algum acidente de trabalho.
Isso sem falar na possibilidade, sempre presente, de que as autoridades de imigração possam realizar batidas para encontrar indocumentados nestes locais. Em Houston, como na maioria das cidades americanas, os departamentos de polícia informam às autoridades de imigração acerca da presença de imigrantes em situação irregular. As operações dos agentes têm sido, inclusive, anunciadas pelos meios de comunicação, como a realizada recentemente em uma fábrica, que terminou com a prisão de 160 trabalhadores.
