O presidente Mahmoud Ahmadinejad, disse nesta quarta-feira, que perdoou os britânicos e que irá libertar os 15 militares
Agência Estado
Após as idas e vindas de uma crise que elevou as já tensas relações entre os países ocidentais e o Irã, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse nesta quarta-feira, 4, que pretende libertar os 15 militares do Reino Unido detidos em março em águas do Golfo Pérsico.
O anúncio foi feito em uma entrevista coletiva em Teerã, pouco depois de o líder iraniano condecorar os homens da guarda costeira que detiveram os britânicos, e teve reflexo imediato na cotação do preço do petróleo. Após atingir a máxima do ano na semana passada por causa da crise, o valor do barril apresentou tendência de baixa nesta quarta-feira.
Classificando a decisão como um “presente de Páscoa” ao povo britânico, Ahmadinejad disse que “perdoa” o Reino Unido pela suposta invasão de águas territoriais iranianas. Desde o início da crise, em 23 de março, Londres argumenta que seus 15 marinheiros e fuzileiros navais foram presos enquanto realizavam uma operação de rotina em águas territoriais iraquianas.
Segundo a TV iraniana, os britânicos acompanharam a cerimônia, e ficaram extasiados quando um tradutor disse a eles o que o presidente estava falando.
“Por ocasião do nascimento do grande Profeta e por ocasião da passagem de Cristo, eu digo que o governo da República Islâmica e o povo iraniano – com todo o poder e direito de julgar os soldados – perdoa aqueles 15”, disse o presidente, referindo-se ao nascimento de Maomé no último sábado e à Páscoa, no próximo domingo.
Ahmadinejad acrescentou também que o governo britânico “enviou uma carta ao Ministério das Relações Exteriores garantindo que isso (a suposta invasão de águas iranianas) não acontecerá de novo”. Londres não confirmou o envio da carta.
O presidente, entretanto, manteve as críticas ao Reino Unido e enfatizou que o Irã jamais aceitará que suas águas territoriais sejam violadas. “Em nome do grande povo iraniano, eu quero agradecer à Guarda Costeira do Irã que, corajosamente, defendeu e capturou aqueles que violaram nossas águas territoriais”, declarou durante a cerimônia de libertação.
Ainda assim, as primeiras informações sobre o futuro imediato dos militares eram, no mínimo, contraditórias. Segundo Ahmadinejad, os britânicos seriam levados para o aeroporto de Teerã minutos após o encerramento do evento em que concedeu medalhas de honra aos integrantes da Guarda costeira.
De acordo com um diplomata iraniano em Londres, no entanto, os 15 seriam entregues a embaixada britânica em Teerã. Já para a TV estatal iraniana, os marinheiros e fuzileiros navais deixariam o Irã apenas na quinta-feira.
Relações em crise
A detenção dos britânicos por quase 15 dias gerou tensões entre os dois países, e foi condenada pela União Européia, que a considerou uma violação de leis internacionais. O episódio veio à tona num momento em que as tensões entre o Irã e o Ocidente – em especial os Estados Unidos e o Reino Unido – já encontravam-se em alta por causa recusa de Teerã em suspender seu polêmico programa nuclear.
A crise foi marcada por uma engenhosa campanha de propaganda encabeçada pelo governo iraniano, que usou supostas confissões em vídeos, fotos e cartas dos militares britânicos para comprovar a “invasão” das águas iranianas. Num dos momentos mais dramáticos, a única mulher do grupo, a marinheira Faye Turner, apareceu em um vídeo veiculado pela TV estatal dizendo que os britânicos “certamente invadiram” as águas iranianas. Em uma carta ela também afirmava ter sido “sacrificada” pela política de guerra de Londres e Washington.
Ao que tudo indica, entretanto, Teerã manteve sua estratégia de propaganda apesar de anunciar a libertação dos militares. Em imagens do evento veiculadas pela TV estatal, os 15 militares aparecem conversando e cumprimentando Ahmadinejad, vestidos em elegantes ternos.
Em uma das imagens é possível ouvir um dos militares britânicos dizer em inglês: “Estamos agradecidos pelo seu perdão.” Ao que o presidente responde, em Farsi: “Obrigado.”
Petróleo
Na semana passada, a crise desencadeada pela captura dos militares britânicos elevou os preço do barril do petróleo aos níveis mais altos do ano. Com o anúncio desta quarta-feira, entretanto, o valor apresentou tendência de queda.
Às 10h25 da manhã desta quarta-feira (Brasília), o contrato futuro do petróleo para maio em Nova York cedia 0,76%, a US$ 64,15 por barril, após ter chegado a cair a US$ 63,80, momentos após as declarações do presidente iraniano. Em Londres, barril para maio recuava 0,56%, a US$ 67,43 por barril, mas está acima da mínima de US$ 67,11.
O anúncio do Irã também pode provocar a queda do dólar no Brasil, que deve atingir menos de R$2,00 em breve.