Histórico

Lei HB 87 da Geórgia está ‘deportando’ a colheita do estado para outros países

Departamento de Agricultura da Geórgia estuda como montar programa de trabalhador convidado

Embora as cláusulas mais controversas da Lei de Imigração HB 87 da Geórgia tenham sido bloqueadas por um juiz federal, as repercussões no setor agrícola são claras. Muitos imigrantes optaram em mudar-se para estados vizinhos ou não ir pescar na Geórgia e, calcula-se, que há cerca de 11 mil postos de trabalho vagos nos campos que não parecem ter sido preenchidos por ex-presidiários, como havia proposot o governador republicano da Geórgia, Nathan Deal.

As colheitas apodrecem porque não há quem as recolha, ou muitos produtores optaram por colher os produtos com maquinário ou reduzir a quantidade de acres plantados, perdendo milhões de dólares no processo. Há uma escassez de mão de obra entre 30% e 50%. Não há muita margem de manobra. A colheita precisa ser colhida ou apodrece, explicou Charles Hall, diretor da Associação de Cultivadores de Frutas e Vegetais da Geórgia.

A revista Time divulgou que a escassez de trabalhadores pode resultar em perdas de até 9 bilhões de dólares anuais para o setor agrícola na Geórgia. E o mais irônico é que algumas colheitas serão deportadas de fato para o México, onde agricultores americanos estão optando por semear, por exemplo, as alfaces que depois os Estados Unidos importam.

Bryan Tolar, do Conselho Agropecuário da Geórgia, declarou que perderemos as fazendas que se mudarão para outros países. Tolar afirmou que a etiqueta de colhido na Geórgia ou nos EUA pode desaparecer, se o governo federal não assumir a responsabilidade de reformar as leis imigratórias, incluindo a regularização da mão de obra agrícola.

Há anos, a senadora democrata da Califórnia, Dianne Feinstein, promotora do projeto de legalização dos trabalhadores agrícolas, AgJOBS, vem advertindo sobre os perigos da escassez de mão de obra agrícola e o efeito cascata que pode ter para os setores relacionados e para o bolso do consumidor. Entre os anos de 2007 e 2008, um total de 1,56 milhão de acres nos Estados Unidos pararam de ser usados para colheitas.

O programa federal H2A, que traz trabalhadores agrícolas convidados, não é suficiente para a Califórnia, onde são produzidas a metade das frutas, vegetais e nozes consumidas nos Estados Unidos e um quarto dos laticínios. E isto se repete nos outros estados.

Na Geórgia, por exemplo, tem havido problemas na colheita de pêssegos e cebolas, assim como nas granjas avícolas. Tudo isto traduz-se em uma alta nos custos de produção e, portanto, em aumento de preços ao consumidor.

Con uma taxa de desemprego de 10% e 11 mil vagas disponíveis nos campos agrícolas, pergunta-se por que os trabalhadores autorizados não querem fazer este trabalho. Prevê-se que mais de 60% dos 2,5 milhões de trabalhadores agrícolas nos EUA são indocumentados.

A resposta é simples, segundo Tolar: Os trabalhos existem e são divulgados, mas as pessoas não querem trabalhar arduamente longas horas sob um clima inclemente e insetos de todos os tipos. E nem pagam tão mal, com um trabalhador podendo ganhar entre 100 e 200 dólares por dia, mas nem isto cativa os cidadãos e os residentes legais a ocupar estas vagas.

Frank Sharry, diretor executivo do America’s Voice, apontou que, utilizando a lógica de (o deputado republicano do Texas e autor do projeto E-Verify) Lamar Smith, milhares de americanos desempregados estariam na fila para preencher as vagas nos campos agrícolas da Geórgia. Mas, a realidade é outra. Com colheitas perdidas e altos preços, a Geórgia está aprendendo que as leis míopes têm consequências, que os trabalhadores não são intercambiáveis e que os trabalhadores imigrantes formam a espinha dorsal do setor agrícola, concluiu Sharry.

Geórgia apelará da decisão judicial

O estado da Geórgia anunciou que apelará da decisão de uma corte federal que suspendeu temporariamente partes da polêmica lei imigratória HB 87, que entrou em vigor em 1º de julho.

O setor jurídico do estado divulgou esta semana ter entregue um pedido de apelação para desbloquear medidas que, entre outras recomendações, concedem poderes extraordinários aos policiais para deter indivíduos se suspeitarem tratar-se de indocumentados, e criminaliza a estadia indocumentada. A porta-voz Lauren Kane comunicou que o pedido foi entregue na Corte Federal do Distrito de Atlanta.

Em 27 de junho, três dias antes de a lei entrar em vigor, o juiz federal Thomas Thrash bloqueou partes da medida que castiga as pessoas que transportem ou deem abrigo a imigrantes indocumentados, e os poderes extraordinários concedidos aos agentes da polícia local (estadual e municipal) para verificar a situação imigratória de indivíduos que não possam apresentar uma identificação e demonstrem ter permissão legal no país.

Thrash escreveu que, sob partes da legislação, o estado está aplicando leis de imigração que correspondem ao governo federal. Na demanda contra a lei da Geórgia, encabeçada pela União Americana de Liberdades Civis (ACLU), os advogados solicitaram à corte que declarasse inconstitucional a HB 87 e que fosse bloqueada em sua totalidade até a conclusão do caso.

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