Histórico

Lembrando José Wilker

Amigos e fãs contam as memórias da convivência com o ator falecido na semana passada

José Wilker
Tonia Elizabeth

José Wilker nos deixou de forma surpreendente no último dia 5 de abril. Até na hora de morrer foi irreverente e polêmico… A cara do Wilker! Mencionar aqui os inúmeros trabalhos em teatro, cinema e televisão, me parece redundante… Acho que mais do que se viu nas telas e nos palcos, do diretor e autor ao apresentador, comentarista e crítico, gostaria de passar um pouco do lado humano do Zé colega, companheiro, pessoa… Não era bonito, mas era um homem muito atraente e inteligente. Brincalhão, desafiador, simples e complexo ao mesmo tempo. Um grande defensor das artes dramáticas em todos os seus veículos.

Num almoço na casa dos meus pais, junto a outros artistas como Sonia Braga e Suzana Vieira, durante um intervalo entre as gravações de um filme na Usina, no Rio de Janeiro, meu padastro fez o seguinte comentário infeliz: “Nossa, em pessoa ele parece mais homem”. Eu entendi o que ele queria dizer: que o Wilker nao parecia tão menino, como a imagem que tinha de moleque irreverente. Mas o Zé não perdeu a oportunidade e mandou: “Tás querendo me chamar de veado?” Eu, menina, nunca me esqueci.

O ator Thony Carlos conta ao AcheiUSA: “Trabalhei com o Wilker e aprendi a sorrir em cena, sem medo de levar bronca do diretor… Ele me garantia isso… Quando alguém vinha me chamar a atenção, ele dizia: ‘Opa, sou eu que tô fazendo o cara rir, pô!’ Sempre muito educado, era capaz de rir de alguém levando uma topada, mas era capaz de largar tudo para ajudar a levantar alguém que levasse um tombo. Era muito humilde e generoso, agradecendo a todo o instante o elenco que o cercava. Não tive como não chorar ao saber da sua prematura partida. Eu fico com a experiência do que adquiri em dois trabalhos com esse verdadeiro monstro sagrado de nossas artes.”

A atriz Angela Rebello foi uma das últimas pessoas a estar com Wilker, que dirigia a peça ‘O Comediante’. Ela publicou: “Foi um choque para todos nós. Ele estava bem. Zé era um colega de muito tempo, muito bem-humorado, culto e educado. Era sagaz e ao mesmo tempo muito gentil.” Segundo ela, naquela noite, ele estava feliz e disse, após o ensaio, com seu sorriso maroto e brilho nos olhos: “Está ficando bom!”

Sonia Braga, seu par mais famoso no cinema (Dona Flor e O Casal), o conheceu em “Hair”, em 1969, e revela: “Eu me apaixonei loucamente por aquela pessoa linda e por toda a minha vida eu continuei o amando intensa e platonicamente.”

A atriz, que acaba de receber o Prêmio de Honra Platino do Cinema Íbero-Americano, no Panamá, fez sua homenagem ao Wilker: “Quero dedicar o prêmio, toda honra e aplausos para esse grande ator latino-americano, meu amigo, meu companheiro em Dona Flor, que esta manhã nos deixou… Para o meu Vadinho querido… muito obrigada.”

A atriz e produtora Denise del Cueto, ainda bastante abalada, nos disse: “O Brasil perdeu um grande artista e eu perdi um amigo muito, muito querido.”

Adriana Dutra, diretora da Inffinito, que produz o Brazilian Film Festival of Miami, nos conta: “ José Wilker foi mais que um profissional inteligente, ator talentoso, crítico apaixonado por cinema, homem charmoso e interessante. José Wilker nunca deixou de ser o amigo Zé. E por meio de sua carismática simplicidade e profunda lealdade, sempre esteve ao lado de nossa jornada de levar o conteúdo audiovisual brasileiro para o mundo. Companheiro nas estratégias e detentor de novas ideias, tivemos a oportunidade de conviver com este gênio. O Circuito Inffinito de Festivais perdeu um amigo, amigo este que nos ajudou a crescer e sermos o que nós nos tornamos. Estamos órfãs, mas muito gratas por tudo o que aprendemos com ele. Obrigada Zé, você fez nossa história mais interessante.”

O Festival de Cinema de Pernambuco, o Cine PE, manterá a homenagem ao artista no dia 2 de maio, para a qual José Wilker havia confirmado presença. A direção do festival informou: “Agora, mais do que nunca, sua homenagem permanece, da forma que planejamos e no dia que combinamos. Não terá a emoção que desejaríamos, pela alegria de estar conosco, mais uma vez. Mas, certamente, será marcante pela dimensão do homem e da sua obra”.

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