Histórico

Lucila Filizola

A arquiteta que virou artista plástica

A paulistana Lucia Filizola desde pequena caminhava por entre galerias e exposições de artes plásticas. Levada pelas mãos de uma tia, Maria Otila, que adorava artes plásticas, Lucila, aos seis anos de idade, já freqüentava as Bienais de São Paulo, com suas instalações e sua arte vanguardista, feita por artistas brasileiros e estrangeiros.
A interatividade com as artes plásticas continuou fazendo parte da vida de Lucila. Tanto que aos 16 anos de idade ela começou freqüentar o atelier de dois artistas – a italiana Giuliana Pedrazza e o argentino Carlos Arias -, a fim de aprender as técnicas de pintura.

Para aprimorar sua técnica, ela começou a fazer um curso de Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). No entanto, ela não concluiu o curso e transferiu-se para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). Antes, havia estudado letras na Universidade de São Paulo (USP). “Aí, resolvi terminar a Faculdade de Arquitetura para ter pelo menos um diploma universitário”, disse Lucila, sorrindo.

“Régua e compasso” – A FAU, por sinal, forneceu ferramentas importantes para o desenvolvimento de seu trabalho. Parafraseando o ministro Gilberto Gil, a FAU deu para Lucila “régua e compasso”. Através do curso, ela entrou em contato com várias tendências e opções técnicas e artísticas, como desenho industrial, gráfico e escultura. Este cabedal de informações foi sendo processado na cabeça da artista e serviu de subsídio para sua criação artística.
Admiradora da arte contemporânea do final do século 19 e início do século 20 e da maioria dos mestres italianos, Lucila também se encanta com o trabalho de Rothko, que faz uma pintura abstrata moderna monocromática.

O abstrato, aliás, é a corrente artística com que Lucila mais se identificou. Tendo Kandinsky como referência, vários outros artistas seguiram seus passos, compondo quadros com formas irregulares e linhas, em harmonia com todas as nuances de cores. Pintores como Malevitch Kupka, Albers e Matta e também Lucila Filizola.

Essa, pelo menos, foi a análise de Ivo Zanini, famoso crítico brasileiro de Artes Plásticas. Segundo Ivo, “ela usa sua habilidade com linhas retas, retângulos e ângulos de maneira bem diferente, não sujeitando a tela aos rigores da linha, tornado a pintura facilmente compreensível. Porque seu cromatismo e o formato evolui com disciplina e firmeza”.

Liana Rivas, curadora da mostra que reuniu cinco pintoras brasileiras que estão expondo na galeria instalada no sexto andar da Main Library de Broward em Fort Lauderdale, também enfatiza a pintura abstrata de Lucila Filizola, “que sabe combinar perfeitamente materiais como areia e pigmentos para captar a essência do abstrato”.

Casamento com americano – Entre 1985 e 1997, Lucila Filizola participou de diversas exposições – todas na capital paulista e no interior do estado de São Paulo. Em 1989, ganhou a Medalha de Ouro por seu trabalho em papel na Arjomari do Brasil Fine Art Prize.
Entre exposições e pinturas, Lucila fez uma viagem de turismo às Bahamas. Além de se encantar com a beleza do lugar, conheceu Jeremy Chancey, um americano da Flórida que também estava a passeio. A paixão fulminante levou os dois a se casar. Passaram a morar no Brasil, mais exatamente na cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, local onde se concentram vários artistas e que se tornou sinônimo de arte para os paulistanos.

Após cinco anos morando no Brasil, o casal decidiu mudar-se para a Flórida, por questões profissionais. Desde 1998, eles estão vivendo em Fort Lauderdale (com a filha Julia, de quatro anos de idade). Assim, Lucila passou a integrar o time de artistas do sul da Flórida, realizando exposições em São Paulo e em várias cidades da região: West Palm Beach, Miami e Fort Lauderdale.
Antonio Tozzi

Lucila admite ser o mercado do sul da Flórida mais difícil: “Este é um mercado nascente, sobretudo em Fort Lauderdale. Em Miami, o mercado é mais ativo, principalmente depois da vinda da Arte Basel”. E ela está gostando deste papel de ser uma das desbravadoras desta nova área cultural, no sul da Flórida.

Inauguração de galeria – No último mês de setembro, ela expôs seus trabalhos na Art Fifteen Gallery, em Wilton Manors, na região de Fort Lauderdale. A mostra reuniu três artistas latino-americanos, com trabalhos sugestivos. Além dos quadros abstratos de Lucila Filizola, pintados em acrílico sobre tela, também foram apresentados o realismo fantástico do cubano Leonel Matheu e os compostos em vidros da venezuelana Linda Behar, que explora os aspectos místicos dos desejos e dos sentimentos humanos.

Lucila ficou feliz por ter sido uma das três artistas escolhidas para inaugurar a Art Fifteen Gallery, em Wilton Manors. Sem dúvida, foi uma demonstração de prestígio para a jovem artista.

Agora, sua próxima exposição será em São Paulo. A data ainda não está marcada, mas ela já está preparando outros quadros para esta amostra. “Estou sempre produzindo. Procuro manter minha disciplina, até porque trabalho num escritório de consultoria durante o horário comercial. À noite, me dedico a pintar, sem esquecer, é claro, de cuidar da minha filha, do meu marido e da casa”, sorri Lucila.

Os quadros de Lucila, cujos preços variam entre US$ 1.000 e US$ 4.000, sempre obedecem a uma organização espacial, às vezes formando figuras que se complementam. Estas obras agradam a uma determinada faixa de público, que se identifica com o abstrato geométrico. Algo bem diferente, por exemplo, das pinturas de Romero Britto, colorido e festivo. “Gosto muito dos quadros de Romero e também do trabalho beneficente feito por ele em sua galeria”, afirmou a pintora.

Os fãs de arte moderna que quiserem conhecer um pouco da obra de Lucila Filizola podem conferir a coletiva com as cinco pintoras brasileiras na Main Library (100 South Andrews Avenue, em Fort Lauderdale), que vai até o dia 16 de outubro.

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