Histórico

Mais do que uma primeira-dama

Ruth Cardoso deu novo sentido ao papel de mulher de presidente

No mundo atual, onde a primeira-dama da França, Carla Bruni Sarkozy, consegue elevar os índices de popularidade do marido graças à sua graça e beleza, falar sobre o papel de Ruth Cardoso no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e para o país em geral pode parecer ingênuo. Mas a morte da antropóloga paulista, aos 77 anos de idade, vítima de infarto fulminante, no dia 24 de junho, acabou unindo os brasileiros na lembrança de uma mulher de personalidade forte e que deu um novo sentido ao papel de cônjuge de um líder da nação. “Ela era uma intelectual determinada e tinha convicções firmes”, frisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o velório de Ruth.

As palavras de Lula foram endossadas por outros políticos, tanto os Tucanos (do PSDB, partido de Fernando Henrique) quanto antigos aliados e até oposicionistas do ex-presidente. “Além de ser uma pessoa de grande capacidade e de grande produção intelectual, ela foi sempre comprometida com a luta pela democracia e teve papel relevante na história do País”, anfatizou o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini.

Mestrado e doutorado

Ruth Corrêa Leite Cardoso nasceu em 1930 em Araraquara, interior de São Paulo, filha de um contador e de uma bióloga. Lá viveu até 1945 e foi para a capital, determinada a cursar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Conheceu Fernando Henrique Cardoso em 1951, e dois anos depois, em 1953, casaram-se. Tiveram três filhos. Se formou em 1952, recebeu seu mestrado e doutorado em antropologia também pela USP em 1959 e 1972, respectivamente. Cursou seu pós-doutorado na Universidade de Columbia.
Depois do golpe, enfrentou o exílio ao lado do marido: primeiro, no Chile, onde FHC trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e ela deu aula na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), que recebia alunos de muitos países. Depois foram para a França. Era professora aposentada da USP e diretora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Escreveu algumas obras, a principal delas ‘Sociedade e poder: representações dos favelados em São Paulo’.

Em 1995 fundou a ONG Comunidade Solidária, hoje conhecida como Comunitas, em que atuou até sua morte. A iniciativa é considerada embrião de diversas iniciativas sociais, das mais bem sucedidas. Feminista declarada, a favor do aborto, apaixonada pela cozinha e, a princípio, contra a carreira política de FHC, Ruth Cardoso defendia firmemente seu direto à privacidade.

Foi enterrada em São Paulo, no cemitério da Consolação, no centro da cidade.

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