Histórico

Não deixem seus filhos atravessarem a fronteira sozinhos

Jeh Johnson*

Foto: Omar Torres/AFP
Omar Torres/AFP

Este ano, um número recorde de crianças vão atravessar a fronteira sudeste dos Estados Unidos ilegamente. Somente no mês de maio, o número de crianças que cruzaram a fronteira desacompanhadas do pai ou da mãe alcançou o patamar de mais de nove mil. Ao todo, só este ano foram mais de 47 mil. A maioria dessas crianças vêmm de Honduras, El Salvador e Guatemala, onde gangues e drogas aterrorizam a comunidade. Para os pais dessas crianças, tenho apenas uma mensagem: enviar suas crianças em uma viagem ilegal até os Estados Unidos não é a solução.

É perigoso enviar uma criança em uma longa jornada da América Central para os Estados Unidos. A rede de traficantes que você paga para entregar seu filho para os Estados Unidos não tem interesse na segurança dele ou dela – para eles, sua criança é um produto que vai ser trocado por um pagamento.

Nas mãos dos coiotes, muitas crianças sofrem e ficam psicologicamente traumatizadas com a viagem, ou pior, apanham, passam fomem, sofrem abuso sexual ou são vendidas como escravas sexuais. Seus filhos estão vulneráveis nas mãos dos traficantes. As tentativas de atravessar a fronteira no verão ficarão ainda piores com as altas temperaturas de julho e agosto.

A viagem não é somente perigosa, não existe ‘permissão’ legal para elas ficarem aqui.

O programa federal Deferred Action for Childhood Arrivals, chamado de DACA, não beneficia crianças que atravessaram a fronteira ilegalmente ontem, hoje ou amanhã. Para ser beneficiado pelo DACA, a criança precisa provar que entrou nos EUA antes de 15 de junho de 2007 – sete anos atrás.

E mais, o projeto de reforma imigratória, que ainda está sendo discutido no Congresso, prevê um caminho para a cidadania somente a pessoas que entraram no país antes de 31 de dezembro de 2011 – dois anos e meio atrás. Quero ser bem claro: não existe nenhum caminho para o DACA, ou cidadania, ou nada em discussão no Congresso, para uma criança que atravessou a fronteira atualmente.

Segundo a lei americana corrente, qualquer pessoa que seja apreendida atravessando a fronteira ilegalmente é prioridade na lista de deportação, independente da idade. Isso significa que se seu filho for pego atravessando a fronteira ilegalmente, ele será processado por violação das leis americanas, e colocado em processo de deportação – uma situação pela qual ninguém quer passar. O documento que ele ou ela recebe quando chega não é uma permissão de residência, mas sim uma notificação judicial para comparecer à corte de imigração diante de um juiz.

Como secretário de Segurança Nacional, eu tenho visto essas crianças pessoalmente nos abrigos no Texas. Como pai, eu olhei para elas e percebi o medo em seus olhos, e a situação vulnerável que elas se encontram.

O desejo de ver seu filho tendo uma vida melhor nos EUA é totalmente compreensível. Mas, o risco de deixar uma crianca atravessar sozinha a fronteira para alcançar esse sonho é muito grande, não existe permissão para ficar aqui.

* Jeh C. Johnson é chefe do Departamento de Homeland Security (Secretary of Homeland Security).

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