Na vanguarda de seu tempo
Antonio Tozzi
Cidadão do mundo, Newton Rocha fez de seu sonho seu jeito de viver. Nascido e criado em Recife, Newton trocou a carreira de policial militar pela de pintor. Enfrentou até mesmo a reprovação do pai, um major do Exército, que não via nas artes uma maneira segura de ganhar a vida. Ele abandonou a escola de formação de oficiais da Polícia Militar de Pernambuco para seguir sua intuição. Porém, se a PM pernambucana perdeu um tenente, as artes plásticas ganharam um artista vanguardista.
Depois de conseguir reconhecimento em sua cidade natal, onde expôs em diversas galerias e espaços culturais, Newton foi para o Rio de Janeiro. Na Cidade Maravilhosa, deu aulas nos CIEPs, os chamados “Brizolões”, e foi animador cultural no Instituto Padre Severino – local de recuperação de jovens delinqüentes. “Ganhava um adicional no salário por insalubridade, porque era mesmo perigoso trabalhar lá”, relembra o pintor.
Em Recife, teve influência de um irmão mais velho e de Wandeckson Wanderley, um artista local que serviu como preceptor de Newton. “O Wandeck foi para mim um cara que me deu uns toques sobre como pintar, o que deveria ler em termos de arte, sugeriu que eu pintasse de tudo até descobrir minha tendência, e foi aquele que comprou meu primeiro quadro”, comentou o pintor.
Seguindo a orientação de seu guru, Newton começou a pintar de tudo – paisagens, retratos, nus artísticos – em busca da descoberta de sua linha artística. Fez também trabalhos com material reciclado como casca de árvore, prego, areia e plástico. Estes quadros, semelhantes a instalações, integraram o que ele próprio batizou de Reciclarte. Era algo que levava ao tridimensionalismo, numa forma inversa, ou seja, sendo visto saindo da tela e não com a perspectiva de profundidade.
Amadurecimento – A busca incessante por um caminho artístico que levasse a uma arte mais pura, sem apelo aos comercialismo, foi feita concomitantemente. Enquanto testava as diferentes formas de pintura nas telas, lia tudo sobre pintores que exerceram grande influência sobre seu pensamento e sobre sua maneira de interpretar a arte. Newton diz ter tido bastante identificação com o russo Kandinsky e o espanhol Miró, além do também espanhol Salvador Dalí. “Não fiz faculdade de artes, mas como autodidata li muito e pude compreender a essência das tendências artísticas”, destaca o pintor recifense.
O amadurecimento artístico de Newton Rocha o levou a um abstrato-figurativo, observado em suas fases, como a dos Girassóis e a Entrelinhas. Atualmente ele está entusiasmado com seu trabalho pioneiro, batizado de Entrelinhas, na qual utiliza vários tipos de linhas para dar formas a suas obras: “Uso linha de carretel, de crochê, barbante e outras para criar obras instigantes, pois acho que a função do artista é deixar um legado para a posteridade”.
Estados Unidos – Com a mente aberta e a fim de explorar novos horizontes, Rocha embarcou para o Havaí. Antes, porém, ele se concentrou em produzir um bom material ilustrativo que lhe serviria de portfólio. Assim, o pintor confeccionou cerca de 60 telas e se mandou para o estado americano que fica no Pacífico Sul. A escolha do Havaí ocorreu por absoluta conveniência, pois Rocha tinha um de seus irmãos morando lá.
Em pouco tempo, o pintor agitou as artes plásticas daquele local paradisíaco. Através de conversas com representantes da prefeitura de Honolulu e com apoio do Consulado Geral do Brasil no Havaí, Rocha realizou algumas exposições locais. “Fiz um movimento artístico bem interessante por lá”, diz o pintor, que acabou abrindo as portas para que outros artistas brasileiros também pudessem mostrar sua arte. Ele revelou que a comunidade brasileira no Havaí não é pequena e seu agito serviu para integrar ainda mais a comunidade, que se ajuda bastante e é unida.
Apesar de ter morado menos de um ano no Havaí, criou eventos e vendeu 11 obras. O espírito cigano, porém, o levou a outras paragens. Desta vez para lugares mais frios. Foi assim que, a convite de um amigo pernambucano, Newton Rocha desembarcou em Denver, capital do frio estado do Colorado.
Com sua facilidade de enturmar-se logo estava trabalhando como pintor. Na verdade, pintor de paredes, algo que também lhe dá satisfação. O problema era o frio, que rachava sua mão direita, com a qual segurava o pincel, chegando mesmo a sangrar. Depois, passou a pintar com spray, diminuindo a exposição da mão às intempéries, mas tendo de inalar gases tóxicos, mesmo com a proteção da máscara.
Nesse meio tempo, duas agitadoras culturais tentaram atuar como divulgadoras e promover eventos para mostrar os quadros de Newton Rocha. Apesar das boas intenções das americanas, ele não sentiu profissionalismo e resolveu se mudar mais uma vez. Colocou, então, seus quadros numa van e rumou para o sul.
Destino: Flórida. No Sunshine State, onde chegou há menos de dois meses, Rocha acredita que poderá fixar-se. Afinal, aqui o clima é mais semelhante ao nordeste brasileiro. “Para dizer a verdade, senti falta de mar”, confessa. Em Broward, lendo o AcheiUSA, ele deparou com a fotografia de Luiz Cláudio Carvalho, seu ex-professor de inglês e amigo dos tempos de Recife.
Agora, ele já vem dedicando-se a produzir mais obras e colocou duas delas no Gauchos Rodizio Steakhouse, sendo o Planeta Brasil um simbolismo feito com a bandeira brasileira. Newton Rocha tem ainda uns 30 quadros para fazer uma exposição e está querendo realizar mostras na Flórida a fim de divulgar seu trabalho. Não apenas divulgar como também ensinar, pois Newton Rocha dá aulas de arte àqueles que desejam tornar-se futuros pintores.
Os que quiserem conferir mais trabalhos de Newton Rocha, podem visitar sua página na Internet no site www.newtonrocha1.hpg.com.br