Histórico

O difícil dilema dos pais imigrantes com filhos cidadãos

Crianças e adolescentes que nasceram na América viajam sozinhos para visitar parentes no país de origem

A proximidade das férias escolares de verão aqui nos Estados Unidos já começa a deixar com o coração apertado muitos imigrantes indocumentados com filhos americanos. Nesta época é comum ver nos aeroportos famílias se despedindo porque as crianças e adolescentes que nasceram na América têm o direito de sair do país, ao contrário dos pais. Não custa lembrar que um estudo do Pew Hispanic Center mostrou que há quase quatro milhões de menores cidadãos cujos responsáveis estão em situação irregular.

Isso motivou o jornal The Boston Globe a escrever uma matéria sobre o assunto e uma das fontes foi a brasileira Eliane, de 44 anos, que se prepara para a árdua missão de levar seu único filho, de cinco anos, ao aeroporto internacional daquela cidade para embarcá-lo com destino ao Brasil – ele viajará acompanhado de uma tia, que tem o green card. “Eu não gosto. Quando tiver os meus papéis, não deixarei ele ir com mais ninguém”, disse a brasileira, que está nos EUA desde 2001.

Como destacou a reportagem, famílias como a de Eliane – compostas de imigrantes legalizados e indocumentados – estão sujeitas a complicações, frustações e receios. “Quem tem documentos pode trabalhar, dirigir e arcar com despesas de uma universidade para os filhos, mas também pode deixar o país de uma hora para a outra em casos de casamento ou morte de familiares no país de origem”, destaca a jornalista, lembrando que estas pessoas estão no centro de debate sobre reforma imigratória, que tem tanto defensores ferrenhos como opositores intransigentes.

Mas o fato de terem filhos nascidos aqui é o que move muitos pais indocumentados a enfrentarem a situação desagradável da ilegalidade. Outra brasileira citada na reportagem, Maria, que trabalha limpando casas depois de uma carreira como professora de ciências no país natal, admite que sua filha de seis anos e o bebê que carrega na barriga terão muito mais oportunidades na América, não apenas para frequentar um curso superior como também para ingressar no mercado de trabalho.

Pior é a situação de outra brasileira, Érica, de 28 anos e que têm dois filhos – um de onze anos, que viveu com ela a experiência de entrar ilegalmente pela fronteira com o México, e outro de cinco anos, nascido aqui na América. “O mais novo sempre pede para visitar o Brasil, mas o mais velho sequer toca no assunto. Ele fica muito ansioso e com medo de que a família possa ser apanhada pela imigração”, lamenta Érica.

Aqui na Flórida, essa situação também acontece. A goiana Jocilene Arruda, que mora em Fort Lauderdale e ainda não conseguiu regularizar seu status, faz questão de mandar o filho todos os anos nas férias de julho para o Brasil, desde que ele tinha oito anos de idade. “Morro de saudades, mas acho importante que ele mantenha a ligação com os avós, primos e com a própria cultura brasileira”, disse a mãe de Brian, hoje com 12 anos.

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