Jehozadak Pereira
Uma pergunta que não quer calar tem ecoado nas últimas semanas nas ruas, esquinas e lares brasileiros o que está acontecendo com o PT? Por que o partido aguerrido, romântico e até certo ponto ingênuo por achar que podia consertar o mundo enveredou pelo caminho da corrupção e das coisas escamoteadas
Quando foi fundado há 32 anos no rastro das greves do ABC paulista em plena ditadura militar, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo realizava as suas assembléias onde o principal orador era um pernambucano aguerrido que atendia pelo apelido de Lula. Quando ele discursava a platéia entrava em transe, numa catarse coletiva jamais vista na história do sindicalismo brasileiro.
Lula falava a língua do peão que trabalhava no chão das fábricas, produziam a riqueza e ficavam com uma parte minguada que eram os seus salários. Com coragem e destemor Lula e seus companheiros convocavam greves gerais em frontal desafio aos militares. Logo a idéia de fundar um partido político sem o ranço e os costumes de outros partidos foi tomando corpo e criou-se o Partido dos Trabalhadores, que reunia sindicalistas como o próprio Lula, Jacó Bittar, Vicentinho, Jair Meneguelli com intelectuais como Plínio de Arruda Sampaio, Florestan Fernandes, Marilena Chauí, que compunham com outros a nata do pensamento intelectual no Brasil. Universitários como José Dirceu, ativistas como Fernando Gabeira, a atriz Bete Mendes; o aristocrata Eduardo Suplicy foram alguns dos petistas de primeira hora.
Logo o Partido dos Trabalhadores se organizava e disputava eleições e não demorou muito para que os primeiros vereadores e prefeitos fossem eleitos o primeiro prefeito eleito pelo PT foi Gilson Menezes em Diadema, São Paulo. As câmaras estaduais e federal recebiam os primeiros parlamentares eleitos pelo Partido dos Trabalhadores que não parou mais de crescer. Lula disputou eleições para o governo paulista e perdeu, sendo eleito deputado dos mais votados para a constituinte, mandato para o qual não quis se reeleger, preferindo percorrer o Brasil e implantar uma nova consciência política, o que em parte alcançou êxito.
A figura maior do partido sempre foi Lula, que alcançou o status de ícone e líder inconteste pela sua trajetória e história, sendo respeitado no exterior e pelos seus adversários. Ao se candidatar a presidente da república foi derrotado por Fernando Collor num dos episódios mais vergonhosos de manipulação; primeiro Lula foi acusado de não desejar o nascimento de sua filha Lurian, depois a edição tendenciosa do debate com Collor, onde Lula aparecia como derrotado e duas vezes vencido por Fernando Henrique Cardoso. Qualquer um teria desistido. No entanto, a militância empurrou Lula adiante e o que se viu foi sempre um partido que primava pela ética, pela moralidade, pela transparência e que conferia tudo em cima. Quem não se lembra do procurador Luiz Francisco de Souza ligado ao PT atormentando as autoridades com processos e mais processos?
Impeachment de Collor? O PT supriu a CPI com documentos hábeis que contribuíram para a derrocada do governo que permitiu uma das maiores roubalheiras de todos os tempos. O PT foi a pedra no sapato dos oito anos de governo tucano, expondo as vísceras de qualquer coisa que parecesse suspeito.
O PT tinha respostas e soluções e sempre vendeu a idéia para todos os problemas e dificuldades do povo brasileiro. Até o dia em que virou governo e teve que fazer o que sempre abominou compor com as forças do atraso, como eles diziam para poder governar. Ao se aliar a políticos cuja única preocupação é o proveito próprio, o PT loteou a administração pública e o que se viu foi o caos absoluto.
Para governar, Lula vendeu a si e o PT na bacia das almas e optou por praticar aquilo que sempre abominou e hoje é julgado no Supremo Tribunal Federal no maior caso de corrupção da história republicana e política do Brasil. Joaquim Barbosa e seus pares estão deslindando as falcatruas petistas. A sensação que fica é que o PT definitivamente não precisava passar por isto. Não mesmo!