Histórico

O sonho americano pode ficar no deserto

Grupo que ajuda imigrantes a sobreviver no deserto depois de terem cruzado a fronteira diz que a vigilância entre México e Estados Unidos só provocará mais mortes

Um indocumentado caminhou dois dias pelo deserto do Arizona, mas as pernas não ajudaram e ele preferiu entregar-se à Patrulha da Fronteira do que morrer no deserto, sua vida era mais importante do que o sonho americano. “Acabou os Estados Unidos para mim, terminou”, garantiu Manuel Rodríguez, imigrante salvadorenho.

Manuel tinha como destino Carolina do Norte, quando ficou metade do dia esperando que passassem os agentes da Imigração. “Fiquei para trás, os coiotes me largaram ali em cima da montanha, tive de descer caminhando seguindo a cerca”, disse Rodríguez.
“Apesar de as medidas de segurança na fronteira serem mais rigorosas, os imigrantes sempre encontrarão a maneira de cruzar. A única forma de detê-los seria pondo agentes de Imigração segurando as mãos desde San Diego até Brownsville, Texas, e isto não vai ocorrer”, disse Joel Smith, da Organização Fronteiras Humanitárias de Tucson.

Fronteiras Humanitárias têm 45 estações de água no deserto para os imigrantes e as mantêm ativas porque ainda precisam. “Continuamos vindo trazer água toda semana, não podemos deixar passar”, indicou Smith.

O grupo com o qual viajava Manuel Rodríguez era de 30 imigrantes e quatro guias e há dois dias estavam caminhando sem ser detectados.
Segundo Joel Smit, “não é comum que um grupo tão grande atravesse por esta área atualmente, mas isto demonstra que a vigilância continua vulnerável”.

Coiotes usam novas estratégias

Uma das novas estratégias que os coiotes ou os imigrantes estão utilizando são novos sapatos feitos de tela de brim com sola de tapete para que não deixem pegadas quando caminham por caminhos arenosos.

“É muito comum encontrar estes sapatos no deserto, em algumas partes há vários ao mesmo tempo abandonados por pequenos grupos de imigrantes e isto não vai mudar com as medidas de segurança que querem implantar”, disse Isabel García, ativista e defensora dos Direitos Humanos em Tucson. “Isto não vai trazer nenhuma solução, traz mais problemas e devemos rechaçar que façam mais militarização nesta fronteira”, completou Isabel García.

Manuel Rodríguez já está de volta para El Salvador, preferiu que a Imigração o pegasse em vez de terminar como muitos, mortos nas entranhas do deserto.

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