Histórico

Obama luta pela reforma da saúde, mas enfrenta ceticismo

Desejo do presidente é que 98% da população tenha acesso a atendimento médico, com cobertura universal

Quem vive nos Estados Unidos e já precisou de atendimento médico sabe que o país tem um dos sistemas de saúde mais caros e restritivos à população em geral. Por isso, a reforma do setor foi encarado pelo presidente Barack Obama como uma das prioridades de seu governo no âmbito da política interna. No Congresso, porém, o tema está sendo analisado com cautela, em especial no tocante ao custo do projeto – orçado em mais de um trilhão de dólares ao longo de dez anos – e já representa mais uma queda de braço entre democratas e republicanos, mesmo em época de recesso parlamentar. Mas o que esta reforma, caso ela seja aprovada, vai mudar a vida dos imigrantes? Esta é a resposta que o AcheiUSA tentará responder nestas linhas, destacando os principais pontos do plano de Obama.

O presidente passou as últimas semanas tentando convencer parlamentares e a opinião pública de que a reforma do sistema de saúde americano é uma medida essencial para a recuperação econômica do país. “Entendo que as pessoas estejam na dúvida e ansiosas em relação às mudanças no setor, mas se o preço da saúde não for controlado, milhões de americanos ficarão à beira do colapso financeiro e o déficit será insustentável”, afirmou.

Ninguém duvida da necessidade da reforma da estrutura vigente, especialmente no tocante à redução dos custos: os Estados Unidos gastam mais de dois trilhões de dólares na saúde, mas o valor astronômico não representa que a população é saudável. De fato, cerca de 47 milhões de indivíduos não dispõem de qualquer tipo de cobertura nos EUA. Numa outra estimativa, a Casa Branca acredita que mais de 16% dos adultos estão sem proteção e 14 mil pessoas vão perder o seguro de saúde a cada dia que passa, por não conseguirem arcar com a despesa.

O ponto principal da reforma está na garantia da cobertura universal da população ou a proibição das companhias de seguro rejeitarem clientes com doenças crônicas. Obama espera garantir atendimento médico a 98% dos americanos, dentro da filosofia de que, “nesse país, se você quer cobertura de saúde, você deve ser capaz de conseguir”, como acontece em outros países, como no Canadá, na Europa e no Brasil (Sistema Único de Saúde – SUS). Como os EUA não possuem um sistema universal de saúde pública, a população depende de planos de saúde privados e de dois programas governamentais voltados para pessoas carentes com mais e 65 anos (Medicare) e pessoas pobres com necessidades específicas (Medicaid). No entanto, esses programas dependem muitas vezes de algum pagamento e possuem critérios estritos de elegibilidade, o que deixa muitos americanos sem cobertura.

Obama conhece por experiência própria, a dificuldade de pagar os caros planos de saúde no país. Sua mãe, Ann Dunham, morreu precocemente de câncer no ovário em 1995, aos 53 anos de idade, exatamente porque não teve acompanhamento adequado por falta do seguro, depois de lutar contra os tubarões do setor para ser atendida. Até por isso, ele afirmou durante um comício de campanha na Flórida que não gostaria de ver isso acontecer novamente com qualquer americano.

Mas se o lobby e o monopólio que as indústrias de planos de saúde e farmacêuticos mantêm sobre o acesso à saúde são duros de serem batidos, o maior obstáculo da tropa de choque de Obama será mesmo harmonizar as exigências dos dois partidos. Do lado Republicano, a derrota da proposta é encarada como um golpe certeiro na aprovação de Obama junto à sociedade e uma derrota política de defícil recuperação. Diante dessa possibilidade, os mais conservadores têm criticado insistentemente a rapidez com que o presidente está tentando aprovar a nova legislação. “Será o Waterloo de Obama”, prevê o senador republicano Jim DeMint, referindo à batalha derradeira de Napoleão.

Mas mesmo entre democratas não há consenso, pois muitos temem que a reforma trará aumento de impostos. Nunca é demais lembrar que a aprovação de um novo sistema de saúde é fundamental mesmo para os indocumentados. Isso porque, apesar de não terem acesso à cobertura médica até a regularização do status, os imigrantes certamente só verão a tão esperada reforma imigratória depois da reforma na área médica.

A opinião de especialistas sobre cobertura universal

Médicos que atendem comunidade brasileira divergem sobre reforma em seus pontos de vista

O ceticismo enfrentado no Congresso e nas rodas de conversa ao redor do país também está presente na opinião de especialistas consultado pelo AcheiUSA. Veja a seguir a opinião de dois médicos que atendem a comunidade brasileira no sul da Flórida:

Dr. Neri Franzon: “Sou contra a reforma, pois acredito que isso vai baixar o nível do atendimento médico. Vemos isso no Brasil e em outros países onde a cobertura universal só fez aumentar as filas de espera e profissionais desmotivados. Acho que as mudanças não fazem sentido”

Dr. Paul Kotturan: “A reforma representa uma grande mudança e a princípio parece boa, mas só saberemos disso no futuro. Certamente alguém vai ter que arcar com o alto custo desse novo sistema e espero que sejam as grandes companhias da área de saúde, que por muito tempo foram as mais beneficiadas”.

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