Histórico

Opinião: Chapa republicana

Antonio Tozzi

Mitt Romney, o virtual candidato republicano, confirmou o nome de Paul Ryan como seu vice na chapa que disputará a eleição presidencial dos Estados Unidos em novembro deste ano.

Supresa não foi, até porque o deputado federal pelo estado do Wisconsin tinha seu nome fortemente comentado para formar a chapa juntamente com outros candidatos como Marco Rubio e Bobby Jindal. Se tivesse escolhido um desses dois, os republicanos pelo menos teriam apelado para as chamadas “minorias”, uma vez que Rubio, senador pela Flórida, é filho de cubanos, e Jindal de origem indiana.
Entretanto, a opção foi por uma chapa “puro-sangue”, ou seja, dois homens brancos e conservadores. Em Norfolk, Virgínia, Romney e Ryan se apresentaram ao país como “America`s Comeback Team”, algo assim como um time para resgatar a América.
Após o anúncio, já começaram os ataques dos democratas, que rebatizaram a chapa como “Go Back Team”, ou seja, a equipe que vai levar ao país ao retrocesso, uma vez que um possível governo Romney-Ryan é a definição do caminho mais rápido ao passado, adotando políticas que falharam em outros tempos.

Segundo os democratas, Romney escolheu um companheiro conhecido como defensor de um orçamento federal bem restrito que poderia por um fim no Medicare e no Social Security, instrumentos que ajudam os aposentados, além de aumentar os impostos para a classe média e aliviar os impostos para os mais ricos, que ganham mais de US$250.000. Como líder dos Republicanos na Câmara dos Deputados e contar com a simpatia do Tea Party divisão mais conservadora e retrógrada do Partido Republicano -, o deputado Ryan tem combatido com insistência políticas que beneficiam os aposentados e a classe média.

Para comprovar que Ryan é “inimigo do povo”, conforme frisam os líderes democratas, recorrem a fatos reais. Ele foi um dos arquitetos do orçamento que cobraria menos impostos dos mais ricos e aumentaria cerca de US$ 2.000 em impostos para famílias da classe média com filhos. E o plano Ryan defende corte profundo em educação, diminuindo bolsas de estudo, pesquisas científicas, investimentos em energia limpa e todas as ajudas para suprir o corte dos impostos.

Ryan foi autor do plano original para converter o Medicare em um programa de repasses, o que custaria aos aposentados US$ 6.000 ou mais a cada ano. Ryan co-patrocinou um projeto de lei que proibiria formas comuns de controle de natalidade e procriação, como distribuição de pílulas anticoncepcionais para as mulheres, fertilização in vitro e abortos, mesmo em casos de estupros e incestos. Ele votou ainda contra uma emenda constitucional para proibir casamentos entre pessoas do mesmo sexo.

Os dirigentes do Partido Republicano estão apostando numa chapa mais voltada para os interesses do perfil conservador do americano, geralmente formado por brancos, cristãos e moradores de pequenas cidades e de zonas rurais. A meu ver, faltou um pouco de ousadia. Pelo menos na eleição passada, teve o fator Sarah Palin, mas este ano decidiu-se pelo esquema mais tradicional. Pior, cedeu mais uma vez ao Tea Party, um grupo estridente que está levando o Partido Republicano perigosamente para a direita mais radical. Ser conservador e defender pontos de vista mais tradicionais não é um problema, mas se deixar levar por um grupo que tem uma visão muito estreita da sociedade é algo bem negativo, e isto pode custar caro na eleição.

É sabido que o eleitorado americano está dividido entre conservadores e liberais.Tanto que as pesquisas apontam ligeira vantagem do presidente Obama, mas nada assim tão flagrante a menos de três meses do pleito. Uma guinada muito acentuada à direita pode afastar os conservadores mais sensatos e sobretudo os independentes que, mais uma vez, devem ser o fiel da balança na eleição presidencial. De qualquer forma, a chapa deve ser confirmada na convenção nacional do partido, marcada para este mês na cidade de Tampa, na Flórida.

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