Histórico

Opinião: Mais quatro anos

Antonio Tozzi

O que se parecia ser uma eleição das mais acirradas terminou com uma confortável margem de delegados favoráveis à reeleição do presidente Barack Obama. Se confirmada a vitória no estado da Flórida, Obama terminará com 332 votos de delegados contra 206 de Mitt Romney.

Apesar da diferença significativa no colégio eleitoral, a disputa foi mais apertada entre os eleitores, com Barack Obama vencendo o oponente com uma pequena margem de votos, confirmando que os Estados Unidos são hoje um país dividido em termos ideológicos.

Interessante notar que o Congresso manteve sua configuração, com os republicanos retendo o controle da Câmara Federal e os democratas assegurando a maioria no Senado. Ou seja, pode ser que tenhamos uma repetição das táticas de postergação adotadas pelos líderes republicanos para evitar que o Executivo possa implantar seus projetos.

Entretanto, ao contabilizar mais uma derrota nas urnas, é chegada a hora do Partido Republicano lamber suas feridas e, mais do que isto, refletir sobre seu papel no cotexto político americano. Repetir a mesma estratégia pode significar a morte de um partido que deve servir como contraponto àqueles que estão no poder. E uma democracia só se fortalece quando há possibilidade de alternância no poder.

A reflexão dos republicanos deve servir para fazer um pente fino no partido, afastando a ala mais radical que acabou prejudicando a campanha de Mitt Romney – inclua-se no pacote o próprio candidato a vice-presidente Paul Ryan, que integra a brigada ultraconservadora e foi uma escolha imposta pelo chamado Tea Party.

Pois bem, cortar a influência dos integrantes do Tea Party dentro do Partido Republicano deve ser a primeira providência para que as pessoas insatisfeitas com o atual governo possam depositar seus votos no candidato da oposição. Com este discurso retrógrado, eles conseguiram afastar alguns independentes que até arriscariam uma mudança, mas se assustaram com as posições radicais que simplesmente não se encaixam no século XXI.

E os parlamentares republicanos devem sentar-se à mesa para negociar com os democratas, sem rancor. Os eleitores saberão reconhecer os esforços conjuntos feitos pelos congressistas. Negociação implica cessão de alguns princípios em troca do bem comum. E a intransigência demonstrada pelos republicanos refletiu-se negativamente em suas candidaturas. As duas partes precisam ceder um pouco e buscar acordos que beneficiem a população, sem se preocupar que o atual ocupante da Casa Branca faturará politicamente.

Mitt Romney, por sua vez, parece que viu sepultada sua chance de se tornar presidente dos Estados Unidos. E parte da derrota deve ser creditada às suas constantes trocas de posições sobre os mais diversos assuntos. Ele não demonstrou consistência e o eleitorado preferiu continuar com Obama, mesmo sem se levar pelo encantamento de sua primeira eleição. Foi o que se pode chamar de um voto consciente. Com Obama todos sabem o que esperar, com Romney o governo seria uma incógnita.

Agora chegou o momento de Obama saldar suas promessas. No caso dos imigrantes, é inadiável uma reforma imigratória abrangente que integre à sociedade americana os 11 milhões de indocumentados que vivem nas sombras por medo de serem capturados e deportados.

Além do ato humano em si, essa medida pode revitalizar a economia dos Estados Unidos ao possibilitar que estas pessoas possam viajar, entrar no mercado de trabalho, constituir empresas e incrementar a educação ao incorporar mais jovens às universidades e centros de pesquisas. Sem contar com o dinheiro arrecadado com os próprios processos que obviamente devem exigir cobranças de multas dos indocumentados, refletindo-se em arrecadação para o erário público.

No Brasil, a notícia repercutiu bem. Desde a presidente Dilma Rousseff até o jornal O Estado de S. Paulo, todos ficaram felizes com a reeleição de Barack Obama. Aliás, ele era o favorito na maioria dos países estrangeiros, confirmando que sua política externa está produzindo bons frutos e vem servindo para apagar a imagem de arrogância e prepotência que muitos estrangeiros têm (ou tinham) dos Estados Unidos.

Parafraseando o próprio presidente reeleito, só nos resta torcer para que suas palavras sejam proféticas: “O melhor ainda está por vir”!

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