Histórico

Opinião: Nós, os brasileiros

Maria Hortência Pechorz*

Após trinta anos no serviço público, na função de técnica do Seguro Social; numa autarquia federal no Espírito Santo, concedendo benefícios, tive a experiência de conviver no dia a dia com contadores, advogados e políticos em geral.

Muitas dessas pessoas trabalhavam a serviço de candidatos a cargos políticos e, por isto, formavam verdadeiras quadrilhas para tentarem obter aposentadorias de forma fraudulenta em troca de votos em nossos balcões de atendimento, apresentando atestados médicos e documentos falsos, tais como carteiras de identidade e de trabalho, usando, para este fim, pessoas que atuavam como “laranjas”.

No início dos anos 90, quando começou o processo de informatização nas agências do INSS e demais órgãos públicos, ficou mais fácil a troca de informações e a checagem de dados fornecidos pelos segurados, permitindo mais agilidade do trabalho. Mas, por outro lado, iniciou-se também uma dura batalha no sentido de combater a corrupção que predominava naquela região e que chegava até nossa agência.

Passaram pela minha memória, os anos que trabalhei, muitas vezes correndo perigo de vida por não me submeter aos caprichos dos políticos que constantemente nos faziam propostas de suborno e coisas deste tipo.

Esta era nossa luta. Digo nossa, porque não lutei sozinha. Formamos uma equipe resistente e decidida a enfrentar essas questões numa época em que o Espírito Santo estava enfrentando uma das piores crises em todos os níveis setoriais, desde a cúpula da Polícia Militar, do Poder Legislativo e do Executivo até o Poder Judiciário. O caso ficou tão grave que exigiu até mesmo a intervenção da Força de Segurança Nacional, que foi enviada com o objetivo de combater toda a “sujeira” que havia se espalhado pelos diversos setores da administração pública.

Com uma tarefa árdua e positiva, foram presas pessoas envolvidas em crimes a mando de políticos. Entre eles, jornalistas e até mesmo um juiz que foi assassinado por tentar combater o enriquecimento ilícito no Poder Judiciário. Efetuou-se também a prisão do presidente da Assembleia Legislativa que tratava a “coisa pública” como interesse privado pensando apenas em si mesmo e não no povo capixaba.

Em função de anos de enfrentamento contra estes malfeitores, por uma questão de segurança, retirei-me temporariamente do ambiente de trabalho, aproveitando o tempo para vir a este país para aprimorar meu inglês na Florida Atlantic University (FAU) de Boca Raton, uma vez que paralelamente exercia a profissão de professora de língua inglesa e literatura portuguesa numa escola no período noturno.

Após alguns anos, retornei para os Estados Unidos da América e pude constatar que os brasileiros que vivem aqui são, em sua maioria, respeitados por serem trabalhadores dedicados, como li num artigo publicado no Miami Herald, de Miami, que destacou o jeitinho brasileiro como uma forma criativa para ousar e fazer a diferença.

Entretanto, também há aqueles cidadãos que emigraram para cá e insistem em manter a mesma conduta equivocada que praticavam no Brasil, cometendo barbaridades no trânsito, ignorando as leis locais, etc.

Há ainda aqueles que vivem de tirar vantagens de outros, sobretudo dos próprios conterrâneos, não pagando salários e ludibriando.
Quando se trata de questões imobiliárias, como aluguéis e venda de imóveis, a coisa se torna muito pior.

A ganância está acima de qualquer coisa. Pessoas, que à primeira vista parecem estar acima de qualquer suspeita, revelam-se pouco confiáveis após um período mais longo de contato. Por incrível que pareça, algumas pessoas trazem de suas regiões a mesma postura, como se vivessem nos tempos do coronelismo, a ponto de se intitularem como “pessoas fortes” na Flórida. Ou seja, julgam-se inatingíveis, portanto, com liberdade para fazer sujeiras, apoderar-se do que não lhes pertence, enganar, mentir e cometer falcatruas.
Portanto, caros conterrâneos, todo cuidado é pouco para se tratar de negócios aqui.

*Maria Hortência Pechorz é formada em Letras no Brasil e em Inglês pela Florida Atlantic University (FAU)

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