Histórico

Opinião: Pouco é melhor

Jehozadak Pereira

O domingo passado foi de felicidade geral para muitos pais imigrantes cujos filhos, indocumentados não podiam ir à escola estudar porque não tinham meios de fazê-lo. Estima-se que entre 800 mil e um milhão de jovens sejam beneficiados pelo ato promulgado pelo presidente Barack Obama. É pouco, dizem alguns. Podia ser mais, dizem outros, mas pouco é melhor do que nada sem dúvida alguma, pois esta pequena porção de imigrantes indocumentados fará com que a roda da economia seja movimentada numa escala pouco vista nos últimos tempos.

Estes jovens poderão entrar no mercado de trabalho sem receio algum, poderão comprar carros, contratar seguros para seus veículos, pagarão impostos e gerarão progresso, o que de fato faz com que a recessão seja abrandada.

É impossível neste instante mensurar quanto isto gerará em divisas para os cofres públicos, mas, com certeza, não será pouco de modo algum. Sem contar que mesmo com a cara feia os republicanos que ficaram de bico calado, porque não ousariam neste momento eleitoral se indispor principalmente com os latinos, certamente o grupo étnico mais beneficiado. A reação tímida ficou por conta de Mitt Romney que disse ser o ato uma atitude política de Obama, e foi mesmo, porque ou o presidente usa dos poderes que lhe são concedidos ou sua eleição corre um sério risco. Pois bem, se perguntam outros, por que Obama não tomou tal atitude antes? Não tomou porque não lhe era conveniente e oportuno e só o fez agora pois deseja mostrar pode beneficiar os indocumentados mesmo com a protesto dos seus opositores.

Por outro lado, nos acostumamos como imigrantes a aceitar todo tipo de imposição sem reclamar, basta ver a quantidade imensa de pessoas que foram deportadas no governo atual. Outro exemplo de coerção é a imposição do Programa Comunidades Seguras contra a vontade de muitos governadores e autoridades. Obama mandou implantar e nem quis conversa acerca do assunto. Sabe-se há muito que o programa é injusto, inoportuno, indecente, imoral e que não é nada seletivo, pois coloca o imigrante indocumentado no mesmo patamar do criminoso e o trata de modo igual.

Em Boston, onde o programa esteve em fase experimental, muitos imigrantes foram detidos por simples infrações no trânsito e terminaram deportados sem apelação, sem o direito de reclamar.

A falta de uma política na área da imigração criou um limbo jurídico sem precedentes na história americana com milhões de indivíduos literalmente vivendo como indigentes por causa da falta de documentos, talvez seja a maior leva de refugiados em todos os tempos. Pessoas, pais e mães de famílias inteiras vivendo literalmente nas sombras com medo de sair na esquina e ser apanhado no trânsito e mandado de volta.

Mas, se estas pessoas não servem para ter documentos por causa da incapacidade crônica dos legisladores americanos de beneficiar imigrantes de qualquer lugar que seja, servem para comprar, pagar impostos, gerar empregos e riqueza, fomentar a economia, movimentar milhões de dólares todos os anos.

Servem para limpar casas, entregar jornais, cuidar dos filhos dos outros, cozinhar, lavar pratos e panelas, pintar, construir, consertar, dirigir, mas não podem ser legalizados de modo algum.

É por isto que o benefício dado aos jovens estudantes soa como um bálsamo em tempos bicudos e de perseguição para tantas pessoas. Servem para que outros milhões de pessoas tenham esperança de que dias melhores virão, mesmo que seja a conta gotas, mesmo que seja na bacia das almas, mesmo que seja na derradeira hora, mesmo que seja pouco. Ainda que o ato de Obama tenha sido político ele é bem-vindo pois pelo menos alguns dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos nossos vizinhos, dos filhos de gente que sequer conhecemos serão abençoados como há muito não eram.

Pode ser pouco e é muito pouco em vista do que há para ser feito em termos de benefícios para os imigrantes indocumentados, mas mesmo assim é muito melhor do que nada e foi a melhor notícia que pode ter acontecido em termos imigratórios desde o dia 21 de dezembro de 2000, quando o então presidente Bill Clinton reabriu a Lei 245i e beneficiou milhões de pessoas.

Já está na hora de os governantes terem a sensibilidade de olhar para o lado e ver que o pouco pode se transformar em muito. A hora é agora, e Obama provou que pode sim, fazer…

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