Jehozadak Pereira
Costuma-se dizer que política, futebol e religião não se discute, pelo menos não necessariamente nesta ordem. Mas uma coisa ressalta aos olhos para alguns comportamentos na comunidade brasileira. É incrível, mas há brasileiros que têm saudades do ex-presidente George W. Bush e dos republicanos. Também têm lá os seus pendores por Mitt Romney e por Paul Ryan, tido como um dos próceres do Tea Party.
Esses brasileiros morrem de saudades do republicano Bush, talvez um dos piores presidentes que os Estados Unidos já tiveram. Claro que cada qual pode ser democrata, republicano, libertário ou o que quiser ser. Convém lembrar que Bush e seus pares apertaram e oprimiram como nunca o trabalhador imigrante, principalmente o indocumentado, e quantos milhares de sonhos e esperanças foram interrompidos nos dois períodos de governança de Bush sem que nada de prático fosse feito para minorar qualquer sofrimento ou frustração.
Ao pé de toda a saudade destes brasileiros por Bush & Cia, está a insatisfação deles e do povo americanocom o presidente Barack Obama que certamente não tem feito o governo dos sonhos. Também Obama tem dado prosseguimento à política de Bush de prender e deportar, aliás, como nunca.
Mas como alguém que é imigrante, que certamente um dia sofreu na pele as agruras de ser um indocumentado, pode sentir saudades de quem oprimiu o seu semelhante? Talvez, estes tenham se esquecido, quem sabe por serem cidadãos ou possuírem os seus documentos legais, e fariam melhor se resolvessem usar os seus votos para pressionar os políticos a legislar e a produzir leis que beneficiassem milhões de imigrantes indocumentados. No entanto, preferem sentir saudades de Bush.
Convém lembrar que aqueles que sentem saudades de George W. Bush lamentaram também o fato de McCain não ter sido eleito, pois teriam o prazer de ter Sarah Palin como vice-presidente. Sonham eles que nesta eleição o candidato a presidente seja contra o aborto, contra o casamento gay, etc, etc. Sonham com isto o tempo todo, talvez ignorando que, se o candidato republicano for eleito, trará de volta toda a política cretina e absurda dos tempos de Bush.
Talvez esqueçam que o Brasil é um dos países onde mais se pratica o aborto no mundo, e olha que lá o aborto não é legalizado como em muitos lugares aqui nos Estados Unidos, mas como os republicanos são contra o aborto, deve-se na cabeça deles votar neles.
Há também a questão do casamento gay, que tal como o aborto é opção pessoal de cada qual que faz com a sua vida o que bem entender e quiser.
Votar em alguém só porque o credo ou o viés religioso bate em alguns aspectos com o de certos políticos é um absurdo do mesmo modo que deixar de votar neles só por isso é uma aberração. O que é de se espantar mais ainda é ver tantos brasileiros se filiando ao Partido Republicano e se aliando ao Tea Party.
Em Massachusetts há muitos brasileiros carregando placas e fazendo campanha para o senador Scott Brown, justo ele que é um dos mais ferrenhos opositores do Dream Act. Claro e é óbvio que cada um pode e tem o direito de fazer a sua opção política do modo que lhe convier, mas devemos tê-los por adversários, opositores, inimigos ou anti-imigrantes?
Por que então tratar deste assunto um artigo sobre opinião? Porque o que causa estranheza é a certa obtusidade e incompreensão com determinadas coisas que nos cercam, mas que podem influenciar definitivamente as vidas de milhões de pessoas. Como já foi dito aqui, a opção política e de religião cada um tem a sua, mas deliberadamente apoiar quem persegue e faz de tudo para atrapalhar e atrasar a vida dos seus semelhantes que não têm documentos é uma incoerência.
Como se já não bastasse a nossa crônica falta de liderança, e da preocupação de alguns com a eleição comunitária, agora temos que conviver com quem têm saudades de Bush. Lamentável, mas é verdade. Afinal cada um tem saudade daquilo que lhe apetece…