Histórico

Orgulho de mostrar a própria cara

Jorge M. Nunes

Graças ao gentil convite do ‘samba man’ Paulo Gulano, fomos assistir à pré-estreia do novo filme de animação ‘Rio 2’, continuação do sucesso lançado há três anos em todo mundo, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha e passado no Rio de Janeiro.

A bateria da escola de samba Unidos de Miami, comandada por Gualano, animou a plateia antes da exibição e preparou o clima de brasilidade que brilharia em seguida na tela.

Nesse segundo filme, a arara azul braso-americana Blue, agora morando no Rio com a cara metade Jewel, e já com uma prole de ararinhas, parte com a família para a floresta amazônica em busca de mais araras azuis da mesma espécie. A história, cheia de aventuras, alto astral e bom humor, trata o cenário de uma forma bem realista, que já tinha sido a escolhida pelo diretor para ilustrar o primeiro filme da série.

O Rio de Janeiro de Carlos Saldanha não esconde as favelas da cidade, não mostra só as batidas paisagens de cartão postal de sempre e não tem os estereótipos e clichês comuns das aventuras em terras tropicais exóticas. A série emociona pela conexão que tem com a realidade visual e espiritual do Brasil, mais especificamente do Rio de Janeiro, e pela sensação extremamente otimista e positiva que passa através da franqueza dessa conexão.

O Rio e os personagens urbanos que aparecem nas aventuras de Blue e Jewel são mostrados como são de verdade, dos meninos da favela ao vendedor de pipoca da esquina. Saldanha conseguiu fazer a gente ter orgulho de um Brasil que mostra a sua verdadeira cara, muito diferente do ultra-realismo de filmes como ‘Cidade de Deus’, por exemplo, que mostram uma cara do Brasil da qual ninguém se orgulha.

É uma sensação muito agradável assistir às aventuras das simpáticas araras azuis na nossa terra natal, num cinema cheio de americanos se emocionando junto com a gente, não por causa daquela emoção barata à custa do exotismo tropical estereotipado de Hollywood, mas por causa da autenticidade que o filme passa para o espectador, apesar de ser uma animação gráfica. É a emoção genuína de curtir uma história que se passa num lugar diferente, mas que não dá aquela sensação de estranheza para ninguém. Saldanha, com a série de filmes ‘Rio’, provavelmente já fez mais pela imagem do Brasil no mundo do que todas as campanhas publicitárias da Embratur até hoje. Saí do cinema de alma lavada.

Com esse espírito, cheguei em casa e me deparei com alguns comentários lamentáveis de alguns leitores sobre uma notícia postada na página do AcheiUSA no Facebook. A notícia dizia respeito ao ‘Dia do Português como Língua de Herança’, criado por um grupo de professores e educadores brasileiros radicados no exterior, e dedicado à divulgação e preservação da cultura por meio da língua portuguesa. Bela iniciativa, que parte de quem certamente tem orgulho das suas origens e que está certo de que vale a pena plantar as mesmas sementes que formaram a sua identidade cultural também fora do Brasil, para que elas sejam germinadas na geração seguinte.

Mas tem gente que não concorda com isso.

Um leitor comentou que “Eu por mim podia acabar com essa lingua ridicula. Para que erdar `sic` alguma coisa desses malditos portugueses!!” Um outro escreveu que `o português é uma` “Lingua inutil nos eua e no mundo. Só pais de 3 mundo fala essa porcaria de idioma.” Deixei os erros de português sem revisão de propósito, para comprovar o desprezo dessas pessoas pela sua própria origem, evidenciado na pobreza da gramática que elas usam para se expressar. Esses comentários ainda receberam a aprovação tímida de outras pessoas, menos atrevidas para revelar assim tão explicitamente sua ignorância. Houve, felizmente, quem se indignasse rebatendo os comentários, o que aliviou um pouco o choque de ver a bela iniciativa de criar um dia internacional dedicado à herança da língua portuguesa no exterior tão primitivamente atacada. A data escolhida, diga-se de passagem, foi o dia 16 de maio.

O contraste entre essas iniciativas apaixonadas pela nossa cultura – como os filmes de Saldanha e a criação do Dia do Português como Língua de Herança – e os comentários rancorosos que foram postados por alguns leitores no nosso website fornece bem a medida do tamanho do trabalho que dá a luta pela valorização da cultura brasileira, ainda mais no exterior. A ignorância e a falta de sensibilidade de alguns ao negar em si mesmos o valor que têm às vezes fazem a tarefa parecer impossível.

Felizmente, sempre haverá gente como Saldanha e os organizadores do ‘Dia do Português como Herança’ para nos lembrar do nosso valor.


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