Antonio Tozzi
Sorte do presidente Barack Obama que 2013 não é um ano eleitoral. Ele talvez esteja enfrentando seu período de mais baixa popularidade em seu governo. Depois de se digladiar com a ala ultra conservadora do Partido Republicano na primeira quinzena de outubro por causa do orçamento da União e do aumento do teto da dívida, ele agora tem de dar mais justificativas em relação a outros assuntos.
No plano doméstico, um website vem tornando-se o vilão do Affordable Care Act (ACA), ou o Obamacare, como foi batizado ironicamente pelos adversários o projeto de saúde universal que pretende garantir um plano de saúde para cada cidadão americano, inserindo assim os Estados Unidos dentro do padrão mundial. Ou seja, todos terão acesso à saúde pública, independente de sua condição econômica.
Apesar da gritaria dos conservadores, que tacham Obama de socialista, o que o país passará a ter é uma saúde pública, a exemplo do que ocorre hoje nos países europeus, no Canadá, e mesmo no Brasil, com o SUS.
Os inimigos desta proposta, porém, estão lançando mão de todas as armas possíveis para inviabilizá-la. A briga durante a aprovação do orçamento da União teve como pano de fundo a recusa dos membros do Tea Party, incrustados no Partido Republicano, em liberar verbas para o funcionamento do ACA, uma vez que eles repelem o Obamacare. A tática foi tão ousada que até mesmo membros do próprio Partido Republicano manifestaram seu descontentamento com tamanha falta de visão, tanto humana como eleitoral, uma vez que 2014 é ano de eleições para renovar parte do Legislativo, com os eleitores escolhendo alguns integrantes do Senado e da Câmara.
Depois da luta encarniçada no Congresso, o governo Obama está diante de outro problema: o precário funcionamento do website que praticamente inviabiliza os cidadãos americanos e os residentes legais de se inscreverem regularmente e, depois disto, entrarem no marketplace em busca de cotações de planos de saúde que possam atender às suas necessidades, tanto as de saúde como as de pagamento mensal. Diante disto, o governo já anunciou a prorrogação do prazo para as inscrições no programa. Afinal, de acordo com a lei assinada, todos precisam ter um plano de saúde, senão estarão sujeitos a uma multa. Algo que os republicanos criticam por julgar que isto é uma intromissão indevida na vida das pessoas, ou seja, a comunização dos EUA.
Entretanto, o Obamacare, além de inserir todos os cidadãos dentro de um programa único de saúde pública, ainda economizará muito dinheiro para o país, evitando que as pessoas recorram às salas de emergência dos hospitais, sejam atendidas e simplesmente pendurem a conta para os demais contribuintes pagarem. Pensando nisto e nas ações corriqueiras movidas por advogados contra instituições médicas, um mero curativo na sala de emergência, que demanda umas duas horas, pode custar mais de mil dólares.
E isto é muito comum porque a lei americana impede um hospital de recusar um paciente, sobretudo aqueles que estejam com risco de morte. Assim, vários ilegais acabam usando os serviços médicos e as mulheres fazem partos sem terem de pagar nada, uma vez que não há como cobrar deles. Do ponto de vista legal, eles não existem formalmente.
No plano internacional, as revelações das constantes espionagens, sobretudo as de aliados americanos, estão deixando Barack Obama numa situação desconfortável. Claro que não há desculpas para este tipo de atitude, mas aqui cabem duas observações: 1) espionagem é prática comum das principais nações e os EUA não são os únicos a usar este tipo de tática; 2) é condenável a atitude de Edward Snowden, o delator das práticas de espionagem americana, como se explica.
Ele somente revela a arapongagem americana quando se está próximo de algum evento envolvendo encontros com chefes de Estado estrangeiros com Obama, como ocorreu com Dilma Rousseff, com a chanceler alemã Angela Merkel, e com François Hollande, presidente da França. Fica evidente que o objetivo é envenenar o relacionamento dos EUA com os aliados em vez de servir como uma denúncia sincera no sentido de corrigir um problema interno de seu (?) país. É um desserviço à causa democrática. Quero saber se ele tem coragem de denunciar práticas de espionagem russas depois de Valdimir Putin lhe ter oferecido asilo político. Se assim o fizer, certamente vai desaparecer na Sibéria sem que alguém encontre um vestígio dele.
Outra crítica é que, apesar deste arsenal de escutas telefônicas, o serviço de espionagem sequer vem cumprindo sua missão, que é a de proteger a segurança dos cidadãos americanos. Ora, de que adianta toda esta parafernália se os espiões nem conseguiram prever o atentado a bomba perpetrado pelos irmãos Tsarnaev, da Chechênia, na Maratona de Boston em abril deste ano? Se é para ouvir indiscrições amorosas de chefes de Estado está mais do que na hora de o presidente mandar interromper este programa, economizando verbas e evitando o vexame internacional ao qual os EUA vêm sendo expostos.