Rosana Brasil *
As pessoas se esquecem de seus erros ou devaneios com certa rapidez, especialmente depois de confessa-los a um amigo. Ressaltamos que o ouvinte geralmente não esquece as confidências do amigo. Curioso é a crença absurda que alguns indivíduos têm de poder dar continuidade ao assunto com outro indivíduo. Porem, este hábito de comentar detalhes da vida alheia, que para alguns parece ser inofensivo, pode levar a grandes dessabores e até mesmo a rupturas entre amigos, vizinhos e familiares.
Este hábito peculiar de colher e de divulgar detalhes da vida alheia que o outro gostaria que fossem ignorados ou esquecida, e com certeza que não fossem divulgados, é mais conhecido como “fofoca ou mexerico”. Algumas pessoas afirmam ter a palavra brasileira “fofoca” surgido de um dialeto africano chamado banto. A fofoca prolífera em círculos pequenos, como pequenas cidades ou em cerimônias como batismos, casamentos e funerais. O fofoqueiro acha que é uma fonte importante de conhecimento, falando muitas vezes das falhas e momentos vergonhosos de outras pessoas, sem a autorização das pessoas em questão. Também é considerada fofoca quando uma pessoa não tem intenção de prejudicar outra, mas fala dela sem o seu consentimento.
Revendo fontes históricas, observa-se que vários fatos relacionados com escândalos e fofocas, fazem parte da história da humanidade. Habilmente, muitos buscavam informações da vida de outros indivíduos, com o objetivo de dominar, desmoralizar, conquistar, vencer. Assim, a fofoca passou a fazer parte da história, por ter sido utilizada como estratégia política, para desmoralizar monarcas, desestabilizar governos e na obtenção de favores dos mais influentes.
Nietzche afirmava que “são poucos os indivíduos que não revelam os segredos mais importantes de um amigo. São poucos os indivíduos que sabem da importância de manter em sigilo o teor de conversas descontraídas travadas com amigos”. Muitos com frequência esquecem que somos donos do que calamos e seremos sempre escravos do que dizemos. Por isso mesmo devemos ser extremamente cuidadosos com o que contamos e a quem contamos, pois uma informação que para nos já não é relevante poderá ressurgir no momento menos oportuno.
Vejamos a caso de Redondinha, sobrinha da esposa do governador e político muito influente da pacata cidade de Bole-Bole. Durante uma conversa informal com a sobrinha, Dona Formosa, a esposa do governador, disse que estava triste e pensando em separar do esposo. Redondinha, a sobrinha amada, criativamente achou por bem divulgar a notícia da separação da tia, inicialmente entre familiares e depois entre amigos. Rapidamente, o assunto chegou aos ouvidos do senhor governador que muito aborrecido veio pedir satisfação à sua esposa. Dona Formosa, por conseguinte foi pedir satisfação à Redondinha. Redondinha prontamente tudo negou, deixando Dona Formosa em maus lençóis com o governador de Bole-Bole.
Destarte, é preciso ter cuidado com as pessoas que assumem o papel de amigos e de consoladores, com o objetivo único de colher informações, pois a fofoca ainda é uma arma poderosa para derrubar governos e até mesmo os mais ingênuo membro de uma família.
* Rosana Brasil é terapeuta de casais e de família, com consultório no Canadá. Ela escreve artigos sobre relacionamento de casais e de família sempre procurando melhorar a compreensão de aspectos da vida das pessoas. rmpbrasil@yahoo.ca