Histórico

Rede vendia certidões de nascimento cubanas falsas para indocumentados

Quadrilha recrutava clientes entre latino-americanos que viviam ilegamente nos EUA

As autoridades desarticularam uma rede criminosa que vendia certidões de nascimento cubanas falsas para imigrantes indocumentados para que pudessem obter green card amparados pela Lei de Ajuste Cubano fazendo se passar como refugiados da ilha.

Em virtude da Lei de Ajuste Cubano de 1966, os cubanos que chegam aos Estados Unidos sem visto podem permanecer no país e solicitar a residência depois de um ano e um dia. Este benefício imigratório está disponível só para as pessoas que possam demonstrar possuir a cidadania cubana.

O caso, que a juíza distrital Cecilia Altonaga julga na corte federal de Miami, oferece os primeiros detalhes públicos do que se converteu em uma prática cada vez mais comum no sul da Flórida na qual estrangeiros indocumentados que não são cubanos pretendem amparar-se sob a Lei de Ajuste, fazendo-se passar por cubanos com certidões de nascimento falsas ou certificados de nacionalidade ou cidadania cubana.

Wilfredo Allen, advogado de imigração em Miami, disse ter representado mais de meia dezena de clientes nos últimos cinco ou seis anos que foram acusados pelas autoridades de imigração de ter cartões de residência obtidas ilegalmente com documentos cubanos falsos. Isto vem sucedendo há vários anos, disse Allen. Mas o problema se tornou mais evidente depois que alguns estrangeiros descobriram a forma de se aproveitar da generosidade da Lei de Ajuste Cubano.

Allen disse que as autoridades de imigração desenvolveram métodos sofisticados para descobrir a fraude em relação com a Lei de Ajuste Cubano. As autoridades imigratórias americanas podem verificar, se tiverem suspeitas, se o solicitante está apresentando um documento cubano autêntico ou falso.

A rede, que consistia de quatro membros, foi desmantelada em setembro, quando agentes da Polícia de Imigração e Aduanas (ICE) prenderam os suspeitos, três residentes de Naples na costa oeste da Flórida, e um de Kissimmee, na região central do estado, e os acusou de conspirar para cometer fraude de imigração.

Apesar de todos inicialmente se declararem inocentes, com o tempo mudaram de ideia e se declararam culpados perante a juíza Altonaga. A magistrada sentenciou uma das acusadas ??a seis meses na penitenciária e dois anos de liberdade vigiada, incluindo nove meses de prisão domiciliar.

Os outros três estão à espera das sentenças. Os acusados ??são Nelson Daniel Silvestri Souto, Laura Maria Ponce Santos e Amelia Osorio, de Naples, assim como Fidel Morejón Veja, de Kissimmee. Pessoas familiarizadas com o caso disseram que Morejón e Osorio são cubanos enquanto Silvestri e Ponce são uruguaios. Os clientes tinham várias nacionalidades, incluindo argentinos, colombianos, costarriquenhos, mexicanos, peruanos, salvadorenhos e venezuelanos.

Nenhum dos advogados dos defendidos comentou sobre o caso. As autoridades de imigração também não deram declarações.
Alto faturamento

De acordo com documentos disponíveis na corte, Morejón era o provável líder do grupo.

Ele foi acusado de vender os registros de nascimento cubanos a preços que variavam de $10,000 a $15,000 por certificado, enquanto se fazia passar por funcionário da imigração de alta patente quando se reunia com clientes potenciais, imigrantes indocumentados que na maioria vinham de diversos países da América Latina. Um dos clientes se fez passar por mexicano, indicaram documentos judiciais, mas na realidade era um investigador disfarçado.

Por um período de três anos e meio, a partir de 2009, pelo menos 50 imigrantes indocumentados compraram os registros falsos, segundo documentos judiciais. Alguns se converteram en residentes, incluindo alguns dos acusados ??que atuaram como recrutadores de clientes para Morejón, conforme documentos da corte. As receitas ilegais da fraude superavam meio milhão de dólares, indicou um memorando sobre o caso.

De acordo com o documento, os membros da rede buscavam clientes entre os imigrantes indocumentados que conheciam. Estas pessoas divulgavam a novidade. Em um dado momento muitos indocumentados souberam da existência do grupo que se tornou muito popular, disse um dos advogados envolvidos no caso que pediu para não ser identificado.

Uma das táticas dos recrutadores era mencionar aos possíveis clientes que os cartões de residência estavam garantidos, pois o líder do grupo era um funcionário da imigração que asseguraria aos indocumentados estarem protegidos contra qualquer possível deportação, segundo indica o memorando na corte. Sugere ainda que os imigrantes que se queixavam ou resistiam a pagar eram ameaçados com deportação pelo falso funcionário.

Esquema sofisticado

Outros documentos judiciais indicam que Morejón havia obtido os registros de nascimento falsos em Cuba. Os documentos da corte não especificam se Morejón obteve os certificados em um escritório do governo cubano ou de algum funcionário corrupto ou se os imprimiu por conta própria.

Quando o ICE anunciou as prisões em setembro não fez nenhum comentário. A declaração dizia que as prisões haviam sido resultado de uma investigação realizada pela unidade de responsabilidade profissional do ICE, da unidade de investigações de segurança nacional (HSI), também do ICE, do Serviço de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos (USCIS) e do Gabinete do Sheriff do Condado de Collier.

Um dos clientes da rede, que se identifica nos registros da corte somente como J.R., colaborou com os investigadores e apresentou a Morejón um policial disfarçado que se fez passar por imigrante indocumentado que queria comprar um registo de nascimento cubano.

Os documentos da corte incluem transcrições de algumas das conversas entre Morejón, J.R. e o agente disfarçado, identificado como Rolando. De acordo com uma das transcrições, Morejón indicou que para a fraude ter sucesso Rolando e J.R. seriam levados aos Keys da Flórida e deixados ali como balseiros recém-chegados. Quando fossem recolhidos pelos funcionários da imigração, Morejón lhes disse que deveriam dizer que eram cubanos e ter memorizados os detalhes de seus registros de nascimento.

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