Vice-ministro representa Venezuela na cúpula em Assunção
O representante da Venezuela na reunião de Cúpula do Mercosul, Rodolfo Sanz, culpou o que chamou de “setores de direita” do Senado brasileiro pelo que classifica de tentativa de interferência da instituição em assuntos internos da Venezuela.
A afirmação foi uma resposta a pergunta sobre a polêmica que envolveu o Senado e Chávez após a não-renovação da concessão da emissora de televisão aberta RCTV.
Segundo Sanz, Chávez sempre responde ao que considera “ingerências inaceitáveis” nos assuntos do país.
Sanz, que é vice-ministro venezuelano das Relações Exteriores para América Latina e Caribe, também atribuiu a “setores políticos da direita” as restrições de empresários brasileiros à entrada da Venezuela no Mercosul.
“Há setores políticos da direita brasileira que vêem o ingresso da Venezuela no Mercosul como um elemento pernicioso às negociações do Mercosul com outros países. Essa postura encobre o desejo de grupos econômicos que não apostam na integração verdadeira”, disse.
“Palavra simpática”
As declarações foram feitas poucos minutos depois de o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dizer que espera uma “palavra simpática” do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao Congresso brasileiro.
“`Espero` uma palavra simpática do presidente Chávez em relação ao Congresso brasileiro, que afinal de contas foi eleito legitimamente. Eu acho que isso ajudaria. A boa vontade sempre é positiva, de lado a lado”, disse Amorim à imprensa, após reunião de chanceleres da Cúpula do Mercosul, em Assunção, no Paraguai.
“Isso é muito importante, não apenas como um reforço moral, que também conta, mas sobretudo para mostrar para fora da região, para o mundo inteiro, como as atitudes que nós temos tomado tem o endosso pleno dos nossos povos.”
Há algumas semanas, Chávez chamou o Senado brasileiro de “papagaio” dos Estados Unidos, depois que parlamentares do Brasil manifestaram repúdio à decisão do governo venezuelano de não renovar a concessão da RCTV.
O ingresso da Venezuela no Mercosul ainda depende da aprovação do Senado do Brasil e do Paraguai.
O vice-ministro venezuelano também reagiu contra a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que divulgou um documento crítico em relação à entrada no Mercosul.
“São inaceitáveis as declarações da associação industrial do Brasil, como se estivéssemos aqui tratando apenas de comércio, e não de integração”, disse Sanz.
Ausência de Chávez
A ausência de Chávez é um dos destaques da reunião de Cúpula do Mercosul, que começa nesta quinta-feira, com a presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner (Argentina), Tabaré Vázquez (Uruguai) e de outros líderes de países sul-americanos.
Nem mesmo o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduros, participa do encontro, pois acompanha Chávez em viagem à Rússia. O vice-presidente, Jorge Rodriguez, chega apenas no último dia da reunião.
O vice-ministro venezuelano Rodolfo Sanz disse que Chávez pretendia participar do encontro no Mercosul, mas que as datas da cúpula foram alteradas e acabaram coincidindo com sua visita à Rússia.
O chanceler paraguaio Ruben Ramirez afirmou que o fim da concessão da RCTV não estará na pauta da Cúpula do Mercosul.
Os presidentes do Mercosul e de outros países da América do Sul chegam nesta quinta-feira à Assunção. Na pauta oficial, estão as assimetrias do bloco – que opõem economias menores de Paraguai e Uruguai às do Brasil e Argentina – e os novos rumos do comércio após o fracasso da Rodada Doha.
Na reunião desta manhã entre chanceleres, foram aprovadas algumas medidas técnicas para favorecer paraguaios e uruguaios, como a criação de um fundo do Mercosul para micro, pequenas e médias empresas e outras alterações aduaneiras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Assunção nesta quinta-feira. À noite, Lula participa de um jantar com os outros presidentes. Depois, terá encontros separados com o presidente paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, e com a presidente chilena, Michelle Bachelet.
Nesta sexta-feira, Lula participa da reunião de chefes de Estado.