Histórico

Republicanos já admitem discutir reforma imigratória em 2013

Republicano John Boehmer, líder da maioria na Câmara, disse na sexta que está na hora de articular junto com o presidente Obama uma solução para o futuro dos 11 milhões de indocumentados no país

Chamuscado pela falta do voto hispânico, Partido Republicano tem sinalizado que finalmente vai considerar seriamente a necessidade de uma reforma imigratória

A repentina relevância do assunto, depois de anos relegado ao abandono pelo partido, volta ao palco por conta da perda do apoio latino ao partido. O apoio à reforma, se confirmado, será uma significativa mudança de rumo na política do partido, que trabalha com afinco, desde o governo Bush, para impedir no Congresso qualquer tentativa de solução para o caso dos cerca de 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem no país.

A possibilidade de uma ampla reforma imigratória ainda é pequena, por causa da teimosa oposição dentro do partido contra a criação de um caminho para a legalização dos indocumentados. Mas alguns sinais já revelam que já há no partido quem defenda uma reavaliação da posição num futuro próximo.

É mais um dos sinais de que os republicanos começam a reconhecer que o seu partido precisa ajustar-se à nova configuração demográfica americana. O voto latino levou o presidente Obama à reeleição, com um número recorde de hispânicos comparecendo às urnas, em apoio maciço ao democrata.

No mês passado, Obama declarou ao jornal Des Moines Register que estava confiante numa reforma imigratória para o próximo ano. O presidente mencionou o fato de que os republicanos cedo ou tarde terão que se reconciliar com um dos grupos demográficos que mais cresce nos EUA, e os analistas acreditam que a reforma deve ser um dos primeiros assuntos a serem colocados em pauta em 2013.

O presidente prometeu apresentar um projeto de lei para a reforma imigratória ainda durante o seu primeiro mandato, mas não cumpriu a promessa porque o apoio republicano nunca chegou, e sem os votos do Congresso, ainda controlado pela oposição, uma aprovação não seria possível. Cedendo à pressão da comunidade latina, Obama mostrou que estava pessoalmente disposto a fazer alguma coisa quando assinou uma ordem executiva no verão passado que permitiu a certos imigrantes mais jovens permanecerem no País.

Os republicanos finalmente perceberam que o assunto não pode ser deixado de lado. Alguns parlamentares do partido (House Representatives) estão certos de que terão de lidar com o problema logo após a discussão sobre o ajuste fiscal.

“Podemos tratar de pequenos detalhes do assunto, não há problema em discutir algumas pequenas mudanças na visão do partido”, disse um assistente parlamentar republicano. “Mas discutir detalhes apenas não vai ser suficiente para alterar a nossa relação com os hispânicos”.

Os ativistas latinos exigem um projeto abrangente, como os que apresentados ao Congresso em 2006 e 2007. Em seu bojo, esses projetos ofereciam um caminho para a legalização de imigrantes indocumentados uma proposta tão polêmica que danificou permanentemente a coalizão partidária criada para discutir o projeto. Os republicanos consideraram a proposta como uma anistia e radicalizaram a sua postura, afastando-se da estratégia promovida pelo então presidente George W. Bush.

Foi um tiro no pé. Quase um suicídio, que os relegou ao papel de partido eu diria de minoria por toda uma geração, disse o deputado Luis Gutierrez (D-Ill.).

As estatísticas que apareceram com as eleições de terça não trouxeram boas perspectivas aos republicanos.

As pesquisa de boca de urna indicaram que 71% dos votos latinos foram para Obama, contra 27% para o republicano Mitt Romney. Uma queda significativa com relação aos números de Bush, que conquistou uma fatia de 44% desses votos em 2004 e 35% em 2000.

“Se Romney tivesse tido pelo menos 35% dos votos latinos, o resultado das eleições poderia ser bem diferente”, disse o professor da Universidade de Stanford, Gary Segura, que coordenou uma pesquisa para o instituto Latino Decisions, exclusivamente com eleitores hispânicos. “Pela primeira vez na história dos EUA, o voto latino pode ter sido plausivelmente considerado como decisivo para o resultado de uma eleição”, comentou Segura.

Trinta e um por cento dos interrogados na pesquisa disseram que a possibilidade de votar nos candidatos republicanos aumentaria se o partido tivesse participação na aprovação de uma reforma imigratória abrangente que legalizasse os indocumentados. “A postura na questão imigratória está fazendo com eles percam votos que de outra forma viriam certamente para os republicanos”, completou Segura.
Os senadores democratas esperam que o projeto que for apresentado por eles tenha pelo menos o apoio de duas estrelas latinas emergentes entre os republicanos o senador eleito pelo Texas, Ted Cruz, e Marco Rubio, senador pela Flórida. Se o Senado aprovar o projeto, a bancada republicana e mais conservadora na Câmara (House of Representatives) será pressionada a deixar de lado a longa relutância que tem demonstrado no lidar com o assunto.

O deputado Raul Labrador, conservador republicano nascido em Porto Rico, é a personificação do problema que o seu partido vai ter de encarar. Ele apoia uma reforma, mas acha que o partido não deve discutir a questão de encontrar um caminho para a cidadania.

“Existe uma maioria bipartidária que reconhece o problema imigratório”, diz Labrador. “Nosso sistema imigratório está quebrado, mas podemos consertá-lo se trabalharmos juntos. E podemos fazê-lo sem promover nenhuma anistia, sem nenhum caminho que leve à cidadania. Podemos resolver a questão dos trabalhadores temporários (guest workers) e podemos reforçar as fronteiras. Cabe a nós, republicanos, encontrarmos logo após as eleições uma forma de lidar com o assunto.”

Mas o deputado Devin Nunes (R-Calif.), cujo reduto eleitoral é majoritariamente hispânico, diz que uma abordagem total se faz necessária. “A questão é a segurança na fronteira”, diz Nunes. Trata-se de ajustar programas que já existem, com os diversos tipos de vistos para trabalhadores que já temos. Temos que fazer alguma coisa a respeito das crianças que foram trazidas para cá sem saber de nada. Temos que lidar com as pessoas que chegaram aqui para trabalhar. É preciso encontrar uma solução para todo mundo. Mas tudo começa com o presidente. O presidente tem que convencer o povo americano de que as fronteiras estão seguras.

O senador Lindsey Graham (R-S.C.) diz que o seu partido precisa de abrandar o discurso na questão imigratória e admitir uma negociação. Graham acha que a negociação deve incluir medidas que permitam encontrar um caminho para a legalização dos 11 milhões de indocumentados no país, baseadas nas necessidades do país. Estou disposto a encarar o problema, mas de um modo realista, diz Graham. Acho que a questão é um alerta aos republicanos sobre a importância da presença hispânica. Estamos perdendo terreno junto a esse grupo, que se encaixa perfeitamente no perfil do Partido Republicano. Se conquistá-los, poderemos alcançar a hegemonia política.

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