Histórico

RETROSPECTIVA 2012 – Eleição

Mais quatro anos para o presidente dos Estados Unidos

Reeleito com o voto maciço das minorias, Obama enfrenta agora os desafios do segundo mandato

Eleicoes

Quando foi eleito em 2008 para o cargo mais importante do mundo, o democrata Barack Obama injetou uma grande dose de esperança na população, afirmando que poderia resolver os graves problemas do país na época. Quatro anos depois, ele garantiu mais quatro anos no poder sem cumprir boa parte de suas promessas. Afinal, a economia ainda incomoda os americanos com um índice de desemprego perto de 8%; a tão esperada reforma imigratória jamais saiu do papel; e a dívida pública já superou a marca de 16 trilhões de dólares. E estes são apenas alguns desafios com os quais o 44º presidente dos Estados Unidos (e o 19º a ser reeleito) terá que lidar de forma mais efetiva no seu segundo mandato.

No dia seguinte à sua vitória nas urnas, com mais de 65 milhões de votos populares e 332 do colégio eleitoral (ver box), o presidente já iniciava os contatos com políticos do seu partido e da oposição para negociar uma nova elevação do teto da dívida pública americana e resolver o impasse do chamado abismo fiscal. A tarefa está longe de ser fácil e, sem o acordo, muitos programas federais serão cortados, o que pode deflagrar mais um caos econômico, antes mesmo de sua recondução à Casa Branca, ao lado do vice, Joe Biden, em janeiro de 2013.

Obama, porém, mantém o otimismo. “Estou mais determinado e tenho certeza que o melhor para o nosso país ainda está por vir”, disse. Para tanto, ele precisará, mais do que nunca, trabalhar junto a um Congresso dividido. No Senado os democratas ampliaram a sua maioria e têm agora 53 representantes, contra 45 dos republicanos e independentes. Já na Câmara dos Representantes, a oposição manteve o controle da casa. Em 2014, um terço do Congresso será renovado e, até lá, o presidente terá que mostrar mais do que força de vontade, para consolidar a vitória do seu partido.

Eleicoes

Campanha eleitoral marcada por acirrada disputa

Candidato natural dos democratas, o presidente Barack Obama aceitou formalmente a sua indicação para tentar a reeleição na convenção do partido, em setembro de 2012, apenas dois meses antes do pleito. No evento na Carolina do Norte brilharam o ex-presidente Bill Clinton e a primeira-dama, Michelle Obama. Já o candidato republicano teve um caminho bem mais tortuoso para garantir a indicação entre os republicanos.

O longo processo que definiu o candidato de oposição começou com a derrota de John McCain e Sarah Palin na eleição de 2008. Desde então, vários nomes surgiram no cenário para receber a nomeação: os adeptos à radicalização apostavam em Michelle Bachnman, mas ela abandonou a corrida antes mesmo das primárias. Já o magnata Herman Cain desistiu de sua pré-candidatura depois de sucessivos escândalos sexuais e acusações de adultério. Rick Perry, governador do Texas, também não levou adiante o sonho de ocupar a Casa Branca, especialmente depois de resultados pífios e de uma gafe acerca de seu plano de governo. Além destes, pelo menos outros 11 nomes foram cogitados para representar os republicanos.

Mas a briga acabou concentrada em Romney, o senador conservador Rick Santorum, o ex-presidente da Câmara dos Representantes Newt Gingrich e o ultraliberal Ron Paul. Os debates entre os aspirantes republicanos foram palco para trocas de acusações: para conquistar os votos dos concorrentes, cada candidato era obrigado a atacar os outros, radicalizando seus discursos. A disputa interpartidária, todos sabiam, iria enfraquecer o eventual escolhido.

Nem mesmo a Superterça de março de 2012, que normalmente aponta o candidato vencedor das primárias presidenciais, foi suficiente para definir o adversário de Obama. Depois da votação em 10 estados (Alasca, Geórgia, Idaho, Massachusetts, Dakota do Norte, Ohio, Oklahoma, Tennessee, Vermont e Virgínia), Romney dava sinais de que levaria a melhor, mas os resultados ainda não confirmavam sua posição. Ele só obteve os votos necessários no Texas, em maio, e foi oficialmente ungido na convenção republicana, na Flórida, três meses depois.

Como não poderia ser diferente, a tônica da campanha eleitoral entre Obama e Romney foram economia e imigração. Por um lado, o presidente ressaltou seus feitos para tirar o país da maior crise desde a Grande Recessão, enquanto seu adversário colocou a culpa no governo pelo problema e prometeu recuperar os empregos perdidos nos últimos quatro anos. O democrata defendeu a reforma imigratória ampla e irrestrita; já o republicano sugeriu uma espécie de autodeportação dos indocumentados.

Os dois candidatos participaram de três debates, transmitidos em rede nacional e acompanhados, em média, por 70 milhões de telespectadores por noite. No primeiro dos encontros, um bem preparado Romney deixou o adversário acuado e conseguiu reverter uma campanha em crise, até então com mais de cinco pontos de desvantagem nas pesquisas. A derrota serviu para despertar o presidente Obama, que nos dois debates seguintes voltou a ser combativo. Mesmo assim, as pesquisas de intenção de voto na véspera da eleição, em 6 de novembro, apontavam um empate técnico entre o democrata e o republicano.

No final, a reeleição acabou vindo com uma margem mais elástica do que o previsto, especialmente nos estados indecisos como Ohio, Flórida, Nevada e Colorado, por exemplo. Os democratas, então, começam a olhar para 2016. A ativa participação do ex-presidente Bill Clinton nos últimos meses da campanha indica que a secretária de Estado durante o primeiro mandato, Hillary Clinton, é nome certo para a sucessão. E, quem sabe, depois de colocarem o primeiro negro na presidência, os democratas podem estar preparando o caminho para a primeira mulher a ocupar a Casa Branca.


Momentos marcantes

Janeiro: Romney afirma que, caso eleito, vetará o projeto ‘Dream Act’, para legalização de estudantes indocumentados.

Março: Apesar de vencer a Superterça, Romney não garante candidatura entre os republicanos.

Maio: Em entrevista, Obama assume que apoia e defende a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Junho: Obama emite programa migratório temporário, beneficiando cerca de um milhão de estudantes indocumentados nos EUA.

Agosto: Na convenção republicana que confirmou Romney como o candidato do partido, o ator Clint Eastwood discursa para um presidente imaginário, representado por uma cadeira vazia.

Setembro: No aniversário de 11 anos dos ataques terroristas em solo americano, radicais invadem o consulado dos EUA na Líbia e matam quatro diplomatas. O assunto é uma das maiores polêmicas da campanha.

Setembro: em vídeo gravado durante evento para arrecadação de fundos para campanha, Romney desqualifica 47% dos eleitores do país, afirmando que dependem excessivamente de programas sociais.

Outubro: Obama vê vantagem desaparecer depois de desempenho fraco no primeiro debate contra Romney.

Outubro: Candidatos cancelam atos de campanha por causa do Furacão Sandy.

Outubro: Republicano Colin Powell declara apoio a Obama.


Republicanos: mudanças à vista

Diante da derrota nas eleições, o Partido Republicano, em especial a sua ala mais conservadora, já vê a necessidade de se reinventar. Acostumada a receber o voto do típico americano branco de classe média, a oposição percebeu, preocupada, que o eleitorado mudou. Afinal, não resta dúvida de que o grande trunfo de Obama nas urnas foi a votação maciça de latinos, negros, mulheres e homossexuais.
Num país cada vez mais multicultural, o presidente negro que defende o aborto, a reforma imigratória e o aumento dos impostos para a camada mais abastada da população recebeu, em determinados estados, o apoio quase unânime das minorias que já estão se transformando na maioria, e esta é uma tendência sem volta. De acordo com os números finais, os votos dos negros e latinos foram decisivos: 93% dos afro-americanos e 71% dos hispânicos votaram em Obama.

“Temos que reconhecer o peso das mudanças demográficas neste país. Os republicanos não podem ganhar apenas com os votos das áreas rurais e dos eleitores brancos”, afirmou a senadora do partido Susan Collins. Dentro desta nova filosofia, ganham força nomes como o do governador de Nova Jersey, Chris Christie, e do senador pela Flórida Marco Rubio, jovem e filho de cubanos.

Mas não há como negar que o discurso mais moderado ainda é um tabu entre os republicanos. Alguns medalhões acreditam que o partido pode voltar ao poder sem abandonar seus ideais. Romney, ao reconhecer a vitória de seu oponente, foi taxativo: “A eleição acabou, mas os nossos princípios continuam”. Neste cenário, Paul Ryan, o parceiro de chapa do ex-governador, surge como o favorito para daqui a quatro anos, pois é o queridinho do Tea Party, corrente que agrega os mais conservadores. É esperar para ver!

Compartilhar Post:

Baixe nosso aplicativo