Cássia Cohen decidiu usar a dor como um incentivo para ajudar outras mães na mesma situação
Joselina Reis
“Eu fiquei três horas segurando meu filho morto nos braços”, conta a piauiense, Cássia Cohen, moradora em Boyton Beach. A depressão pela perda de Oliver durou um ano, quando ela percebeu que teria que mudar a situação e que outras mães passavam pelo mesmo problema. Com muita força de vontade, ela saiu da cama e sentou em frente ao computador onde criou a revista eletrônica “Mulheres Feridas que Voam” (www.mulheresferidasquevoam.com).
Com mais de três mil seguidores entre Estados Unidos, Brasil e Portugal, Cássia faz entrevistas com outras mães que perderam seus filhos e conta suas histórias na intenção de ajudar outras tantas que passam pelo mesmo problema. “Eu quero, principalmente, contar como elas sobreviveram à perda, como estão hoje e o que estão fazendo para superar a dor”, explica a brasileira que é publicitária.
Quando soube que estava grávida, Cássia, de 41 anos, ficou duplamente supresa ao saber que esperava gêmeos. Tudo correu tranquilo até os oito meses de gestação, quando Oliver e Christopher nasceram. Oliver contraiu uma bactéria, comum em casos de nascimento prematuro e, mesmo passando por um cirurgia, não sobreviveu. “Eu tive todo o apoio no hospital. Eles me deixaram ficar com ele morto nos meus braços como parte do processo de luto. Mas eu sei que outras mães, principalmente no Brasil, não têm essa chance”, conta Cássia que tem uma filha de 18 anos.
Nos primeiros meses, lembra a fundadora da revista eletrônica, ela precisou do marido e da filha adolescente para poder realizar as tarefas básicas do dia a dia como comer e se vestir. O marido ficou dois meses em casa para poder acompanhar a esposa, que teve que buscar ajuda psiquiátrica para superar a depressão.
“Eu sei que é fácil dizer que o tempo vai ajudar, mas eu sou prova de que isso é verdade. No começo, não imaginava que um dia voltaria a ter vontade de viver”, conta a brasileira que se dedica integralmente à revista no momento.
O projeto, segundo ela, já tem ajudado outras mães. Na Flórida, ela já foi chamada para visitar outras mães que perderam seus filhos em acidentes trágicos e levar um pouco de conforto. “Elas ficam tão perdidas que não conseguem decidir coisas como o que fazer com os pertences dos filhos”, lembra. Recentemente, uma universidade portuguesa a convidou para participar de uma pesquisa sobre luto.
Projetos
Mas o plano de Cássia é ampliar o projeto da revista eletrônica. Ela já tem uma página no facebook com mesmo nome, um blog (www.prasempreemuitotempo.com), e agora quer ver a revista impensa nas mãos de mães brasileiras. “Eu imagino essa revista ajudando as mães em datas como Natal e Dia das Mães. Essa fase é muito difícil”, revela.
A administradora de marketing piauiense planeja ainda criar um grupo de apoio em português na Flórida para que as mães possam marcar encontros e conversar sobre como estão lidando com a perda. Para tanto, ela está à procura de voluntárias para ajudá-la na revista eletrônica e na elaboração de um livro também sobre o tema de superação.
Cássia criou ainda uma linha de produtos que as famílias podem adquirir para homenagear os filhos e ajudar na publicação imprensa da revista eletrônica “Mulheres Feridas que Voam”.