Franz Valla

Sobre a Lava-Jato e o Supremo

Enquanto em Curitiba os procuradores da portentosa Operação Lava-Jato decidem com qual modelito novo irão comparecer na próxima coletiva para anunciar mais do mesmo, em Brasilia já foi decretado o fim do recreio. A soltura do grão-petista José Dirceu sinaliza o começo do fim do desmonte de uma ação que já se viu, não vai atingir o objetivo principal, e razão pela qual foi tolerada até agora.

Mal saíram os resultados das pesquisas de opinião da ilibada Datafolha e ficou constatado, mais uma vez, que a bombástica delação de um executivo corrupto, que acusava Lula de ter recebido milhões em propinas dele não surtiu o efeito desejado. O fato de que o executivo dedo-duro não poder sustentar suas alegações com as tais provas sórdidas, até porque as destruiu sob pedidos do famigerado Lula, parecia ser irrelevante, só que não. Ao invés do sapo barbudo afundar nas pesquisas de preferência do voto popular, subiu mais ainda, e com ele o diabólico Bolsonazi.

Tal resultado deixou claro que na falta de investidas tão espetaculosas que pudessem render manchetes nos jornais, os procuradores logo começariam s se voltar para alvos mais fáceis e tão disponíveis a mão, como Aécio, Alckmim e o intocável FHC.  Isso acendeu o sinal vermelho na Suprema Corte e até no palácio do Planalto.

O certo é que o Supremo se reserva o direito de interpretar as leis à sua forma e nem precisou de provas para condenar no Petrolão. Há tempos que os ministros andam insatisfeitos com o fato dos brilhos dos holofotes apontarem somente para Curitiba, tirando a aura de respeito que a maior corte do país exige. Ela se chama Suprema com uma razão e não importa se seus membros são escroques ou casuístas.

A vida de um procurador da Polícia Federal é igual a de qualquer outro funcionário público. Total ausência de glamour e tédio. A dos agentes da polícia federal que investigam casos de colarinho branco não é muito diferente. Os vistosos uniformes e armas que nunca são usadas só servem para aparecer bem nas fotos. A Lava-Jato trouxe um vigor nunca visto pelos funcionários da repartição de Curitiba e, capitaneados pelo galã Sérgio Moro, seus funcionários foram alçados a condição de celebridades B, com direito a entrevistas coletivas diariamente e aparições dominicais no Fantástico. Difícil voltar para aquela vidinha monótona depois disso. Melhor continuar inventando nomes épicos para operações vultosas que não dão em nada.

No momento em que o Supremos votava pela liberação de José Dirceu para aguardar sua condenação em segunda instância, um direito que ele tem, Dallagnol, o chefe dos procuradores da Lava-Jato, convocava coletiva em Curitiba para anunciar novas acusações contra José Dirceu para pressionar o a alta corte. O ministro Gilmar Mendes resumiu esta atitude com um comentário de rara sobriedade: “Parece brincadeira juvenil”. E pareceu mesmo. Moro entendeu o recado e aquiesceu com a soltura.

O futuro da Lava-Jato agora depende de atitudes mais centradas e profissionais. Ao invés de se anunciar prisões, é preciso anunciar conclusões de investigações e indiciamentos. É preciso evitar vazamentos, manter sigilo das operações, acabar com coletivas de imprensa que só servem para os procuradores exporem seus melhores ângulos, dar um basta a delações sem provas, que não acrescentam nada e, principalmente, procurar se instruir um pouco sobre política, aonde o comando das ordens não obedece linearidade de comando, como nas quadrilhas convencionais.

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