Histórico

Surgem detalhes do Plano B da reforma imigratória

O caminho para a cidadania para os indocumentados divide a Câmara de Representantes que debate um plano de reforma imigratória

DA REDAÇÃO COM UNIVISION.COM – O Plano B da reforma imigratória existe e se inclui na lista de cenários possíveis dentro das negociações que estão sendo discutidas em Washington DC.

As conversações no Congresso se estancaram quando a liderança republicana adotou duas regras: debaterão um projeto diferente daquele aprovado pelo Senado e não enviarão ao plenário nenhum plano que não tenha o respaldo da maioria.

Segundo a regra anunciada pelo presidente do Congresso, John Boehner (republicano de Ohio), a maioria da maioria integra um mínimo de 118 legisladores republicanos e hoje “não há votos suficientes”, disse à Univision.com o legislador Joe García (democrata da Flórida).
Com estes dados nas mãos, surgem novos cenários possíveis. O primeiro é que os apoiadores da reforma imigratória integral cedam e permitam que a cidadania seja concedida só para alguns indocumentados; o segundo que liberem a cidadania e amarrem a residência para legalizar a maioria dos indocumentados.

A Casa Branca, o líder do Senado (Hary Reid, democrata de Nevada) e o deputado Luis Gutiérrez (D-Illinois) insistem no Plano A, na proposta do Senado, e não mencionam em público outras alternativas porque neste debate ninguém se atreve a assumir derrotas antes do tempo.

Tampouco antecipar vitórias. García asseguró que somente entre 60 e 70 republicanos da Câmara “apóiam” um plano de reforma imigratória como o do Senado. Mas isto tampouco quer dizer que o Plano A esteja morto. Aquele que dá por perdido sabe que perde e ninguém pode avançar porque a maioria da maioria não está disposta a deixar os democratas receber todos os aplausos.
Futuro incerto

“Nestes momentos ainda há esperanças de que o Grupo dos Sete tenha sua legislação”, disse à Univision.com Gaby Pacheco, ativista que luta pelos direitos dos dreamers nos Estados Unidos.

Amparada pela Deferred Action, o programa concedido pela administração de Barack Obama que freia as deportações de jovens indocumentados que entraram como crianças no país (dreamers) e lhes concede uma permissão de trabalho temporário, Pacheco diz que a reforma imigratória pode ser “dividida e votada por partes” no Comitê Judiciário da Câmara, “mas quando chegar ao plenário se unirá de novo”.

“O outro plano é o que estamos vendo agora”, acrescentou. Que a reforma imigratória enfrente uma explosão de emendas na Câmara e finalmente seja aprovada. E que o Comitê de Conferência harmonize as versões do Senado, que inclui a cidadania, e aquela resultante da
“Pode ser uma tática”, disse Pacheco.

A ativista também citou a possibilidade de um Plano B sem residência e sem cidadania, mas disse que muitos no Congresso estão pensando nas eleições de 2014 e nos comícios presidenciais de 2016, tema que dá insônia a muitos estrategistas, tanto democratas como republicanos.

Os cenários da reforma imigratória são complexos e ainda estão sendo desenhados em Washington D.C.

Frank Sharry (foto), diretor executivo da America’s Voice, sustenta que a via legislativa está valendo e deve ser esgotada. Mas advertiu que a condição imposta por Boehner, “aquela da maioria da maioria” permanece de pé e isto permite antecipar que ainda se “está longe de um resultado” em curto prazo.

Ele indicou que para muitos republicanos a reforma pode esperar um tempo, “até dezembro deste ano ou fevereiro ou março” (…) “depois das primárias”, mas para outros o prazo se esgota e é preciso tomar decisões para consertar agora um sistema imigratório que está “quebrado”.
Sharry, no entanto, disse que ainda “há esperança” de que aqueles que não apertam o passo “vão fazer algo” antes do outono.
Leque de opções

“Há várias opções” com a Câmara de Representantes, assinalou. “Que os republicanos aprovem algumas medidas para chegar a um final e dizer que fizeram algo e dividam as culpas” com os democratas. “Outros não querem realmente fazer nada” e deixar as coisas tal como estão, disse Sharry. Mas antecipou que há um setor “que quer fazer algo” mas não pode ficar imóvel pela regra imposta por Boehner.

O grupo citado por Sharry foi aqule mencionado por García. É integrado por 60 ou 70 republicanos que caso se unam aos 95 por cento de democratas que apóiam a reforma imigratória do Senado somam mais do que os 218 votos necessários para que o projeto se converta em lei. Mas primeiro deve passar à condição de Boehner, que são os 118 votos de republicanos para que a reforma chegue ao plenário.
“A única maneira de fazer algo é com o bipartidarismo”, disse Sharry. “E para isto estão buscando esta maioria da maioria ou perto da maioria que pode apoiar algo. Estamos explorando, talvez para setembro, quem sabe uma reforma mais inclinada para a direita do que aquela aprovada pelo Senado, mas que seja algo”, assegurou.

Uma destas inclinações, segundo a America’s Voice, pode ser um plano que não inclua nem residência nem cidadania, tal como antecipou à Univision.com na semana passada a analista republicana Helen Aguirre Ferre, declarações que imediatamente foram desautorizadas pelos integrantes do Grupo dos Sete da Câmara que redige um plano em segredo.

“Há outra ideia que está saindo, e é a ideia de cidadania para alguns, mas não para todos”, acrescentou Sharry. “Por exemplo, dreamers ou trabalhadores agrícolas que tenham TPS por mais de 10 anos”.

O diretor executivo da America’s Voice mencionou ainda que uma medida pode ser a anulação temporária da Lei do Castigo para que residentes legais permanentes possam pedir por familiares imediatos (cônjuges e filhos menores de idade solteiros), uma medida similar àquela autorizada em 2012 pelo governo Obama e que entrou em vigor em março deste ano.

A lei do castigo pune com três anos fora do país os indocumentados que permanecem mais de 180 dias sem permissão de estadia legal nos Estados Unidos e a 10 anos se a permanência não autorizada passar de um ano. O castigo é cumprido a partir do momento em que saem para seus países de origem em busca do cartão de residência ou green card.

Sharry assegurou que “vamos fazer esforços buscando a maioria da maioria como querem os republicanos” e que as negociações continuam. “Depende dos republicanos para se chegar a uma maioria para uma proposta” de reforma imigratória.

Se conseguir isto, a Câmara poderá votar uma reforma imigratória no outono para que um Comitê de Conferência harmonize as duas versões e, como disse Pacheco, “pressionar” para que a versão final recupere o plano do Senado.

Sharry disse que “não vão falar sobre isto”, e que, caso não consigam, então o Plano B chegará até o presidente Obama para que, por meio de uma ação executiva, aprove uma espécie de TPS que legalize temporariamente a maioria dos indocumentados.

No fim, talvez não haja um caminho para a cidadania para os 11 milhões de indocumentados, talvez só para 3, 4 ou 5 milhões. Ninguém sabe. “As negociações continuam”, assegurou Sharry.

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