Histórico

Telemedicina: o futuro, agora

Especialista brasileiro é responsável por programa pioneiro no Ryder Trauma Center, de Miami

Quem circula, desavisado, pelos corredores do Ryder Trauma Center, do Jackson Memorial Hospital em Miami, pode se assustar com um robozinho, que atende pelo nome de Chico. Pois ele é o sinal mais visível da contribuição de um especialista brasileiro para a melhoria do atendimento médico à distância – o que a ciência chama de telemedicina. Responsável por este setor numa unidade que é referência mundial, o paulista Antonio Carlos Marttos desenvolve programas interessantes que têm como objetivo fazer a diferença e salvar vidas onde os problemas são comuns e os cirurgiões de trauma, raros.

Chico é um robô independente, teleguiado por sinais de Internet, que transmite as imagens de uma sala de cirurgia ou enfermaria, para um outro computador interligado que esteja com o médico, digamos, num restaurante ou mesmo em casa. “Em situações que envolvem algum tipo de trauma, a assistência deve ser imediata e precisa, justamente num momento de estresse excessivo. Daí a importância de se ter um especialista à distância, mais calmo, para interagir e ajudar no processo de decisão a partir das imagens em alta definição”, explica o Dr. Marttos. Este tipo de tecnologia é voltada especialmente para ocorrências em locais distantes, como em áreas rurais ou mesmo numa guerra, onde não há médicos suficientes para todas as especialidades.

Desde a chegada do médico brasileiro ao Ryder, que atende vítimas de trauma de todo o sul da Flórida e até do Caribe, a mortalidade caiu em cerca de 50%, tanto nos casos de traumas penetrantes (tiros ou facadas), quanto nos fechados (acidentes, contusões e quedas) – estes últimos respondem pela grande maioria dos pacientes assistidos naquela unidade . Por isso, o projeto pioneiro do médico paulista é considerado como de “alta prioridade” para a Flórida. A ideia consiste em integrar os hospitais do estado para que os profissionais mais qualificados possam ajudar no atendimento em situações remotas – como já é feito em relação a Key West.

Além do fator rapidez, a utilização do médico à distância também representa uma economia de dinheiro. Há poucas semanas, apenas para citar uma situação emblemática desta vantagem, uma paciente chegou a um hospital de Key West com ferimentos na mão provocados por vidros. O traslado de helicóptero até o Ryder custaria algo em torno de 20 mil dólares, mas o Dr. Marttos preferiu conduzir a cirurgia de reconstituição da funcionalidade daquela parte do corpo à distância – ou seja, com a ajuda das imagens do Chico e de uma enfermeira naquela unidade no extremos sul, a operação foi um sucesso.

Além dessa vantagem, o robô também tem sido muito útil para evitar que os médicos e residentes circulem pelas enfermarias a todo o momento para fazer a ronda dos pacientes: Chico percorrer leito por leito do Ryder, não apenas checando os indicadores e sinais vitais no monitor, mas – quando há necessidade – falando com os internados. “Isso reduz o risco de infecção e causa menos ansiedade nos pacientes”, afirma Marttos, enquanto observa os residentes e especialistas – todos em uma sala distante da enfermaria – debatendo sobre a dosagem de medicamento a ser aplicada em um determinado caso.

A equipe do Dr. Marttos, da qual faz parte outro brasileiro, o cirurgião carioca Bruno Pereira, está envolvida agora em projetos diversos neste setor. Um deles, por exemplo, é a parceria com o Exército americano para ajudar no atendimento às vítimas de guerra. “A telemedicina pode ser muito útil para estas situações de múltiplas vítimas, especialmente na triagem dos casos”, confirma o especialista brasileiro, que hoje é um dos profissionais mais requisitados para palestras em conferências na área.

Mas que ninguém pense que as máquinas vão substituir o homem. “A tecnologia ajuda, mas a capacidade e a criatividade do especialista são fundamentais”, ressalta Marttos. Em especial, se este especialista for brasileiro, o que é um grande orgulho para todos nós. “É importante que a comunidade brasileira do sul da Flórida saiba que também há a participação de conterrâneos na ajuda na área médica”, finaliza Bruno.

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