Histórico

Uma brasileira na Corte de Fort Lauderdale

A mineira Cristina Maia, de Ipatinga, está na Corte de Fort Lauderdale, mas por mérito próprio e não porque se envolveu em algum crime ou irregularidade. Ela é o que chamam de ‘trial specialist’, ou seja, a profissional que fica ao lado do juiz nos julgamentos para assessorá-lo em qualquer aspecto jurídico e cuidar de toda a papelada dos processos. Satisfeita na sua função, ela tem procurado ajudar, dentro de suas atribuições, os membros da comunidade que às vezes são levados à Justiça.

Cristina viveu no Brasil até 15 anos atrás, quando ela e o marido decidiram vir tentar a vida na América depois de demissões nos respectivos trabalhos e decepções com o Plano Collor. “Eu sempre tive o sonho de viver em outro país, aprender culturas e línguas diferentes”, lembra a brasileira. No início, porém, a vida não foi fácil: a jornada era dupla, às vezes tripla, limpando casa, estudando inglês e cuidando dos dois filhos, hoje já adultos.

Aos poucos as coisas foram se encaixando para Cristina e até a legalização no país ela ganhou através da loteria do Green Card. Com o domínio do idioma, passou a freqüentar aulas de matemática e contabilidade para se tornar analista financeira, mas a crise de 2001 nos Estados Unidos atrapalhou seus planos e ela se tornou motorista de caminhão. “Foi uma experiência diferente, mas importante para a minha vida”, conta a brasileira.

Até que um dia Cristina resolveu seguir o seu instinto e aptidão, matriculando-se no curso para paralegal no Broward Community College. “Eu sempre fui aquela pessoa que gosta de ajudar os outros, principalmente em relação ao contato com órgãos públicos e documentos. Por que não fazer isso de forma profissional?”, indagou a mineira, que procura fazer a diferença em tudo o que se envolve. A formatura do curso aconteceu em dezembro e, por conta disso, ela já foi promovida no cargo.

O dia-a-dia na Corte é intenso, pois passam pelas suas mãos cerca de 800 processos, a maioria deles referentes a crimes de menor potencial ofensivo – infrações de trânsito, por exemplo. Há quase dois anos na função, ela confirma que os brasileiros, infelizmente, estão cada vez mais presentes como réus nos procedimentos judiciais. “São pelo menos uns dez por semana”, admite. E ela faz o possível para ajudar, como aconteceu certa vez com um imigrante que seria prejudicado por um falha do policial na hora aplicação da multa. “Esse brasileiro não sabe, mas ele poderia receber a visita ingrata de um oficial de Justiça se eu não tivesse detectado o erro no processo”, orgulha-se Cristina.

Nesse sentido, ela faz um alerta para a comunidade: “O principal é evitar problemas e tentar seguir as regras. Noto que muitos imigrantes têm sido presos por motivos fúteis e acabam deportados”, comenta a mineira. Mesmo precisando, eventualmente, presenciar situações tristes com os conterrâneos, ela não tem do que reclamar. “Adoro o meu trabalho e quero crescer ainda mais aqui na Corte”, diz Cristina, que – quem sabe – poderá se tornar a primeira juíza brasileira do condado.

Carlos Wesley – AcheiUSA Newsaper

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